“Que a saúde se difunda sobre a terra.”
Iniciamos a Quaresma com a Quarta-feira de Cinzas – neste ano 22 de fevereiro –, quarenta dias de encontro com Jesus, no acolhimento do Evangelho e na busca da conversão. Assim a Páscoa de Cristo se torna realidade em nossa vida: passagem da escravidão para a liberdade, de terra estranha para a própria terra prometida por Deus, do pecado para a graça, da morte para a vida.
Ao recebermos a imposição das cinzas, no início da quaresma, somos convidados a viver o Evangelho, viver da Boa Nova. Crer no Evangelho é crer em Jesus Cristo que na doação amorosa da cruz deu-nos vida nova e concedeu-nos a graça de sermos filhos do Pai. Com sua morte transformou todas as realidades, doando Seu Espírito de Amor, criando um novo céu e uma nova terra.
A quaresma é o caminho que nos leva ao encontro do Crucificado-Ressuscitado. Caminho, porque processo existencial, mudança de vida, transformação da pessoa que recebeu a graça de ser discípulo-missionário. A oração, o jejum e a esmola indicam o processo de abertura necessária para sermos tocados pela grandeza da vida nova que nasce da cruz e da ressurreição do Senhor. Assim, atingidos por Ele e transformados n’Ele, percebemos que todas as realidades devem ser transformadas, para que todas as pessoas possam ter a vida plena do Reino.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove a Campanha da Fraternidade, desde o ano de 1964, como itinerário evangelizador para viver intensamente o tempo da quaresma. A Igreja no Brasil propõe como tema da Campanha deste ano: “A fraternidade e a Saúde Pública”, e com o lema: Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8). Deseja assim, sensibilizar a todos sobre a dura realidade de irmãos e irmãs que não têm acesso à assistência de Saúde Pública condizente com suas necessidades e dignidade. É uma realidade que clama por ações transformadoras. A conversão pede que as estruturas de morte sejam transformadas.
O Texto base CF 2012, 178 – 179 assim se expressa: “As obras de Jesus manifestavam, assim, sua origem divina e sua messianidade. É dessa forma que ele responde aos discípulos de João Batista, ao ser questionado sobre se era ou não o messias: “Ide contar a João o que vistes e ouvistes: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são purificados e surdos ouvem, mortos ressuscitam e a pobres se anuncia a Boa Nova” (cf. Lc 7,22). Com sua ação evangelizadora, Jesus não apenas cura os doentes, mas resgata o ser humano para o meio da sociedade, dando-lhe dignidade e apresenta uma nova forma de relacionar-se com as pessoas necessitadas. O Novo Testamento é repleto de relatos de Jesus curando os doentes, os quais testemunham que a ação salvífica de Jesus também acontecia em suas intervenções no cuidado e atenção aos que sofrem.”
A cada ano a Igreja chama todos para o acolhimento da salvação, atualizando a proposta de Jesus: “Cumpriu-se o tempo, e o Reino de Deus se aproxima: Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). O Reino de Deus já está atuante pela Páscoa de Jesus, sua doação de vida, morte, ressurreição e dom do Espírito que age na humanidade e “faz novas todas as coisas” (Apc 21, 5).
É para um dinamismo de transformação que age o Espírito de Cristo, Senhor Ressuscitado e vencedor pelo dom da vida: na força da Palavra de Deus, na ação da graça divina que ilumina para o conhecimento da realidade do mundo ferido pelo pecado e resgatado pelo amor de Deus; tempo de jejum, abstinência, mudança de pensamentos, sentimentos, opções, realizações pessoais e comunitárias que tornam as pessoas disponíveis aos projetos e iniciativas de Deus.
A Igreja, nessa quaresma, à luz da Palavra de Deus, deseja iluminar a dura realidade da Saúde Pública e levar os discípulos-missionários a ser consolo na doença, na dor, no sofrimento e na morte. E, ao mesmo tempo, exigir que os pobres tenham um atendimento digno em relação à saúde. Que ela se difunda sobre a terra, pois a salvação já nos foi alcançada pelo Crucificado.
“Jesus não tem só poder de curar, mas também de perdoar pecados: ele veio curar o homem inteiro, alma e corpo; é o médico de que necessitam os doentes. Sua compaixão para com todos aqueles que sofrem é tão grande que ele se identifica com eles: “estive doente e me visitaste” (Mt 25,36). Seu amor de predileção pelos enfermos não cessou, ao longo dos séculos, de despertar a atenção toda especial dos cristãos para com todos os que sofrem no corpo e na alma. Esse amor está na origem dos incansáveis esforços para aliviá-los”. (CIC – Catecismo da Igreja Católica, n. 1503.)
Que esta Quaresma e a Campanha da Fraternidade que nela se realiza, possam ser vividas em nossas comunidades com a maior intensidade. Não passe este tempo de graça sem nossa pessoal e comunitária colaboração. Os frutos serão abundantes na medida de nosso trabalho, de nossa correspondência às graças de Deus que jamais faltarão.
Ressoam atuais e fortemente as palavras de Jesus, que marcam o início da caminhada quaresmal e serão o estímulo durante toda a Quaresma – e por toda a nossa vida –: “Cumpriu-se o tempo, e o Reino de Deus se aproxima: Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15).
Conversão e vida não se fazem só de palavras, mas de gestos concretos.
Abençoada Quaresma a todas as nossas comunidades. Sigamos o Senhor na Sua Páscoa. É tempo de vida. É tempo de conversão. É tempo de ressurreição.
+ José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza
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