Entrevista com o Embaixador junto da Santa Sé Federico Ling
ROMA, (ZENIT.org) .- Com sua viagem à América Latina Bento XVI preencherá uma orfandade que se sente por lá. Particularmente no México, que está sofrendo as conseqüências de uma luta corpo a corpo contra o crime organizado. Será sentido como um pai que vem ajudá-los, e ainda que não consiga resolver diretamente os problemas, os acompanha na sua dor. Foi o que disse o embaixador do México junto à Santa Sé Federico Ling Altamirano.
Uma visita que, segundo o embaixador mexicano será um grande sucesso e fará cair o clichê segundo o qual o Santo Padre é eurocêntrico e pouco mariano. Porque Bento XVI é um papa que não tem medo de nada, sublinhou o diplomata do país asteca.
O embaixador Federico Ling Altamirano apresentou essas idéias em uma entrevista concedida ao Zenit, no contexto de uma reunião informal dos embaixadores, realizada na quinta-feira 19 de janeiro em Roma pela agência Prestomedia, Mediatrends e a Fundação Promoção Social da Cultura, poucas semanas antes da viagem de Bento XVI à América Latina.
O que poderia ter feito o Papa decidir ir para o México?
- Federico Ling: Eu acho que, como disse Sua Santidade no dia 12 de dezembro [na celebração de Nossa Senhora de Guadalupe], a América Latina está em uma batalha para não perder e para acrescentar este cristianismo e catolicismo que tem mais de 500 anos de antiguidade e que bem merecia a consideração de uma viagem.
Cuba e México. Talvez também existam razões históricas com o México no passado, e com Cuba ainda hoje que continua tendo suas dificuldades?
- Federico Ling: é tão válido pegar esse critério como pensar pensar que México é o segundo país do mundo por número de católicos, e casualmente do México a Roma a linha que se traça passa por cima do Havana.
Você esperava essa notícia?
- Federico Ling: Nós tínhamos muito poucas esperança três anos atrás. Eu não tinha mais ferramentas do que rezar. E não fiz mais nada além de orar.
Mas ele foi convidado pelo México?
- Federico Ling: Sim, o presidente do México, Felipe Calderón, duas vezes o convidou pessoalmente. E talvez influenciou sua decisão o chamado quase angustiante do presidente, mais ou menos assim: "Precisamos que acuda ao nosso país agora, onde há uma luta contra o crime organizado, que produziu imensa dor e vítimas inocentes. "
Bem, nem sempre tão inocentes
- Federico Ling: Claro que não, mas mesmo as pessoas criminosas tem esposa, filhos, parentes. Muitas lágrimas, muitos problemas no México. E porque existe uma condição psicológica, devido a qual o povo mexicano e muitos outros na América Latina se sentem órfãos.
Como a visita do papa pode ajudar os países latino-americanos?
- Federico Ling: Aqui, o Papa pode ajudar muito só com a presença. Não há necessidade de dizer muitas coisas. Se o quiser fazer melhor. Mas basta dizer: aqui está um pai para ajudar-lhes, e se não consigo resolver seu problema não deixo, por isso, de acompanhá-los na sua dor. E vos abençoo e que a Virgem de Guadalupe vos ajude a sair desses problemas.
Em várias ocasiões, inclusive no Brasil, em Aparecida, o Papa já indicou diversas coisas, certo?
- Federico Ling: Sim, por exemplo, o que ele disse na missa de Guadalupe foi muito preciso. Se o repetir em diversos lugares de Cuba e México será muito apreciado. Aqui em São Pedro com os ritos e cerimônias todas as palavras soam como academia, mas lá soarão a pátria!
O cardeal cubano, Jaime Ortega, disse ao Zenit que os latino-americanos estavam ansiosos para receber bênçãos.
- Federico Ling: Sim, a bênção e provavelmente algo a mais. Pensarão em algo para favorecer a visita em termos de participação e presença. Sinto que vai ser um grande sucesso.
O que pode trazer esta viagem para o pontificado de Bento XVI?
- Federico Ling: Apesar de ter sido descrito muitas vezes como um papa conservador, e que por ser alemão era pouco papistas e mariano, a viagem vai derrubar esses mitos e se converterá em um sonho realizado.
Qual o caminho deve ser seguido espiritualmente por sua santidade?
- Federico Ling: O que for será bom, porque não somente vai melhorar a sua imagem Latinoamericana, como também irá melhorar na Europa, porque vai remover o prejuízo que diz que ele é eurocêntrico e que somente visita Malta e São Marino porque tem medo de ir mais longe.
Ou seja?
- Federico Ling: Não, não, este Papa não tem medo de nada. E eu amo o jeito que, com grande habilidade e espiritualidade maravilhosa leva adiante a Virgem de Guadalupe, negando que seja pouco mariano. O papa não é eurocêntrico, é mariana e para aqueles que precisamos de um sentido de paternidade é como um pai.
H. Sergio Mora
[Tradução TS]
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