"Cristo é a nossa Paz"
Iniciamos cada ano sob o signo da paz com o Dia Mundial da Paz. E votos e festas e cumprimentos recordam este grande anseio do coração humano: a Paz.E compreendemos, como que instintivamente, que a Paz quer sintetizar tudo o que de perspectiva de vida e felicidade pode desejar o coração humano e toda a humanidade. E de que paz se trata? Daquela paz que responde à dignidade de todas as pessoas humanas, de todas as sociedades, de todos os povos, da inteira humanidade.Dentro das celebrações do mistério cristão da encarnação do Verbo de Deus, de seu nascimento humano em Jesus de Nazaré, da obra amorosa de Deus Salvador do mundo, a paz brilha como fruto de vida que desabrocha do Amor de Deus derramado nos corações e na criação toda. Deus veio ao encontro dialogal com o Homem. Este encontro se faz um na pessoa divino-humana de Cristo. “No contexto atual, é grande a necessidade de descobrir a Palavra de Deus como fonte de reconciliação e de paz, porque nela Deus reconcilia em Si todas as coisas (cf. 2 Cor 5, 18-20; Ef 1, 10): Cristo « é a nossa paz » (Ef 2, 14), Aquele que derruba os muros de divisão. Muitos testemunhos (...) comprovaram os graves e sangrentos conflitos e as tensões presentes no nosso planeta. Às vezes tais hostilidades parecem assumir o aspecto de conflito inter-religioso. (... mas) a religião nunca pode justificar a intolerância ou as guerras. Não se pode usar a violência em nome de Deus! Toda a religião devia impelir para um uso correto da razão e promover valores éticos que edifiquem a convivência civil.” VD 102Aqueles que acolhem a Deus que vem, são tomados pelos seus mesmos sentimentos de misericórdia e de compaixão para com a humanidade ferida de morte. Deus mesmo quer ser o laço de união que aproxima todas as criaturas na harmonia de sua coexistência e as pessoas humanas nos laços de sua convivência.“Fiéis à obra de reconciliação realizada por Deus em Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, os católicos e todos os homens de boa vontade (são impulsionados a) dar exemplos de reconciliação para se construir uma sociedade justa e pacífica. (...) «onde as palavras humanas se tornam impotentes, porque prevalece o trágico clamor da violência e das armas, a força profética da Palavra de Deus não esmorece e repete-nos que a paz é possível e que devemos nós mesmos, ser instrumentos de reconciliação e de paz». IbidemA paz é o pleno desabrochar da obra divina, é a mais perfeita manifestação da conquista humana, o êxito de seus esforços. “O compromisso pela justiça, a reconciliação e a paz encontra a sua raiz última e perfeição no amor que nos foi revelado em Cristo. Ouvindo os testemunhos (cristãos de todos os tempos), tornamo-nos mais atentos à ligação que há entre a escuta amorosa da Palavra de Deus e o serviço desinteressado aos irmãos; (...) «a necessidade de traduzir em gestos de amor a palavra escutada, porque só assim se torna credível o anúncio do Evangelho, apesar das fragilidades humanas que marcam as pessoas». Jesus passou por este mundo fazendo o bem (cf. At 10, 38). Escutando com ânimo disponível a Palavra de Deus na Igreja, se desperta «a caridade e a justiça para com todos, sobretudo para com os pobres». É preciso nunca esquecer que «o amor caritas será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. (…) Quem quer desfazer-se do amor, prepara-se para se desfazer do homem enquanto homem».” VD 103Está no âmago da mensagem cristã o Amor que constrói a Paz. E só o Amor constrói a Paz. O hino à caridade escrito pelo Apóstolo Paulo exprime verdadeira pedagogia e estratégia da Paz: “A caridade é paciente, a caridade é benigna, não é invejosa; a caridade não se ufana, não se ensoberbece, não é inconveniente, não procura o seu interesse, não se irrita, não suspeita mal, não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade nunca acabará.” (1 Cor 13, 4-8).“Deste modo o amor do próximo, radicado no amor de Deus, deve ser o nosso compromisso constante como indivíduos e como comunidade eclesial local e universal. Diz Santo Agostinho: «É fundamental compreender que a plenitude da Lei, bem como de todas as Escrituras divinas, é o amor (…). Por isso quem julga ter compreendido as Escrituras, ou pelo menos uma parte qualquer delas, mas não se empenha a construir, através da sua inteligência, este duplo amor de Deus e do próximo, demonstra que ainda não as compreendeu».” Ibidem Entramos em Novo Ano, buscamos as energias voltando às fontes: “Cristo é a nossa paz.”
+ José Antonio Aparecido Tosi Marques,
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza
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