Após recentes divergências com católicos franceses
Por Jesús Colina
Cidade do Vaticano (ZENIT.org) - O presidente da França, Nicolas Sarkozy, realizou ontem uma visita a Bento XVI com objetivo de confirmar uma colaboração construtiva com a Igreja Católica, após divergências surgidas nos meses passados.
Um comunicado emitido pela Santa Sé explica que na audiência "foi confirmada a recíproca vontade de manter um diálogo permanente para diferentes níveis institucionais e de continuar colaborando construtivamente em questões de interesse comum".
Algumas posições assumidas pelo governo de Sarkozy provocaram certa distância por parte dos católicos franceses que o apoiaram nas eleições de 2007.
A ocasião que serviu para Sarkozy pedir a audiência, realizada na biblioteca do Santo Padre, durante cerca de 30 minutos, surgiu no dia 22 de agosto, quando o Papa exortou os peregrinos franceses a "acolher as legítimas diversidades humanas", depois de que seu presidente anunciou a expulsão dos ciganos da França, que em sua grande maioria são de origem europeia.
Após a audiência com o Papa, o mandatário, acompanhado pelos assessores, reuniu-se durante uma hora com o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado, acompanhado pelo arcebispo Dominique Mamberti, secretário para Relações com Estados.
Pontos de interesse comum
Segundo o comunicado da Santa Sé, "no centro das conversas estiveram temas de política internacional, como o processo de paz no Oriente médio, a situação dos cristãos em diferentes áreas do mundo e a ampliação da representatividade das diferentes áreas do mundo nos organismos multilaterais".
O comunicado revela que o Papa e Sarkozy evocaram a viagem apostólica do bispo de Roma a Lourdes e Paris, em 2008, e a visita do presidente Sarkozy ao Vaticano, no ano anterior, como sinais desta colaboração que ambos buscam promover.
No início do encontro, o Papa confessou a Sarkozy: "Tenho uma grande lembrança da minha visita à França" e evocou imediatamente depois "a alma católica" deste país.
Sarkozy respondeu garantindo que "essa visita foi um grande êxito".
Na troca de presentes, Sarkozy entregou ao Santo Padre edições originais dos livros "Génie du christianisme" e "Mémoires d'Outre-Tombe", do escritor François-René de Chateaubriand (1768-1848).
O Papa entregou ao presidente uma grande gravura da Praça de São Pedro, assim como uma peça de cerâmica que também representava São Pedro.
No final do encontro, Sarkozy pediu ao Papa um terço para sua sobrinha, como o que havia dado a cada uma das pessoas que lhe acompanhavam, algo que o Pontífice fez imediatamente, com a ajuda de seu secretário, Pe. Georg Gänswein.
Uma oração no Vaticano
Após a reunião com o cardeal Bertone, Sarkozy e sua delegação se dirigiram, às 13h, até a Basílica de São Pedro, que foi fechada ao público.
O presidente recolheu-se em oração por alguns minutos, na Capela do Santo Sacramento, diante do altar de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e diante do altar da Confissão, no túmulo de São Pedro.
Depois foi acolhido na capela de Santa Petronila pelo cardeal francês Jean-Louis Tauran, presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso.
O purpurado elevou uma oração a Deus "pelo povo da França e seus dirigentes, de hoje e amanhã", pedindo "valentia e perseverança para que todos possam considerar o que pode ser feito sozinho ou com outros, ao serviço de seu próximo, pelo respeito absoluto da vida, justiça, emprego, educação, saúde e meio ambiente, segurança, para acolher os perseguidos e imigrantes, e pela verdade da informação, pela paz em nossa terra e no mundo".
Por uma nova laicidade
Após deixar o Vaticano, Sarkozy presidiu um almoço na Villa Bonaparte, sede da embaixada da França na Santa Sé, em presença do cardeal Bertone, e dirigiu um discurso que busca promover as relações com a Igreja e defender suas posições.
"A França não esquece como a Igreja tem uma história comum de dois mil anos e que hoje compartilha com ela um tesouro inestimável de valores morais, de cultura, civilização, que se inscreveram em sua identidade", afirmou o presidente.
"A Igreja, com os meios espirituais que lhes são próprios, e a República Francesa, com seus meios políticos, servem a muitas causas comuns", acrescentou, garantindo que ambas buscam "justiça", "equilíbrio", "paz", "fraternidade".
"Creio na diferença do espiritual e temporal como um princípio de liberdade. Acredito na laicidade como um princípio de respeito - destacou. Mas a Igreja não pode ficar indiferente diante dos problemas da sociedade à qual pertence, enquanto instituição, assim como a política não pode ser indiferente diante do fato religioso, dos valores espirituais e morais. Não há religião sem responsabilidade social, não há política sem moral."
Logo depois,, Sarkozy expôs alguns "imperativos morais" que devem ser realizados sem demora, como a reforma do "governo mundial", a regulamentação das finanças para evitar "a loucura especulativa", estabilizar os mercados para evitar a fome, regularizar a internet e, por último, "lutar contra a imigração ilegal", que produz dramas e priva os países pobres de suas forças vivas.
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