domingo, 22 de agosto de 2010

REFLETINDO SOBRE O EVANGELHO


Lucas 13,22-30

Vigésimo Primeiro Domingo

O Evangelho deste domingo (Lc 13, 22-30) vem nos mostrar que a salvação é uma proposta aberta a todos.
Alguém faz uma pergunta a Jesus: “Senhor, é verdade que são poucos aqueles que se salvam?”. Para a tradição dos rabinos, essa pergunta só tinha uma resposta: a salvação está reservada aos que pertencem ao povo eleito de Israel. Está limitada a um povo, a uma raça. O simples fato de pertencer ao povo já era garantia de salvação. Seria uma salvação um tanto automática, que dependia só de Deus e não exigiria uma aceitação livre nem esforço do ser humano. Mas Jesus foge dessa mentalidade. Não responde quantos e nem quais podem ser salvos, mas dá o caminho e o critério de salvação, bem diferente do critério dos rabinos. Ele se distancia da mentalidade rabínica da porta larga, por onde todos podem passar, colocando a salvação em relação à porta estreita. E, junto com essa expressão, acrescenta: esforçai-vos. A salvação dá-se também com a luta e o esforço de cada dia. Deus não é somente de alguns e nem se prende a estruturas de raça e cor. Deus é livre e não podemos amarrá-lo dentro dos esquemas limitativos de sua ação e de sua graça.
Embora Jesus afirme expressamente que a entrada do Reino é exígua, que certa classe de gente – orgulhosos e avarentos – dificilmente nele entrarão, a estreiteza não está no coração de Deus, que é infinitamente amplo, mas apenas na entrada. Por que a porta precisa ser tão estreita? Porque nada que é acidental, supérfluo e impuro pode chegar até Deus; normalmente, uma fonte cristalina nasce de um olho d’água, um filete filtrado pela terra. Nossa existência precisa ser filtrada para tornar-se digna de Deus. Para passar por uma abertura apertada, desvencilhamo-nos de toda superfluidade, até mesmo da própria roupa e, passamos sozinhos. Das pessoas obesas interiormente, infladas pelo orgulho, vaidade e amor próprio, será exigido o regime da conversão: é preciso estar em forma para passar pela porta do Reino.
O evangelho de hoje nos deixa como mensagem a certeza de que a salvação trazida por Jesus não é um assunto exclusivo dos movimentos religiosos, nem das Igrejas, nem dos grupos pastorais. Ela está aberta a todos, incluindo os que não compartilham de nossas crenças religiosas ou que, simplesmente, não têm fé. O caminho da salvação não é um resultado matemático de missas, comunhões, confissões, homilias e pastorais. A única garantia de estarmos a caminho da salvação é a prática da justiça, do amor a Deus e ao próximo. A prática religiosa é válida quando não se esquece de colocar em prática também as categorias que formam o Reino de Deus: o amor, a justiça, a solidariedade, o direito e a defesa da vida e sua qualidade.
No contexto do mês vocacional, celebramos hoje a vocação do leigo, do catequista. Peçamos ao Senhor que abençoe todos os leigos – catequistas para que sejam sempre sal da terra, luz do mundo e fermento para a transformação da sociedade e para o crescimento do Reino de Deus.

Pe. Raimundo Neto
Pároco de São Vicente de Paulo

Nenhum comentário: