domingo, 11 de julho de 2010

REFLETINDO SOBRE O EVANGELHO




Lucas 10, 25-37



Décimo Quinto Domingo

O evangelho deste domingo é de Lucas (10, 25-37). Ele põe diante de nós, de modo muito realista, o mandamento do amor. A parábola do samaritano não necessita de grandes explicações para ser compreendida. Precisamos, sim, de ter coragem para a tomarmos a sério. O Senhor anuncia o princípio fundamental gravado na lei, que todos conheciam. Depois, através da parábola, quer ensinar-nos a descobrir o próximo nas relações habituais de cada dia, e a termos para com ele atitudes de amor generoso e desinteressado. Se sabemos olhar sinceramente para o nosso irmão e o amamos, estamos a descobrir caminhos que nos levam a Deus.
A preocupação do mestre da Lei com o tema da vida eterna fez com que ele se confrontasse com uma lição inesperada: alcança-se a salvação por meio da misericórdia. Isso era novidade, pois a mentalidade comum entre os mestres da Lei era a de que a salvação era obtida pela prática dos mandamentos. Para eles, a vivência religiosa consistia numa busca sôfrega de conhecer as exigências concretas e minuciosas da Lei.
O escriba que se aproximou de Jesus deve ter suspeitado da força salvífica das práticas religiosas. Sua indagação escondia insatisfação e buscava confirmar seu ponto de vista. O mestre Jesus devolveu a pergunta ao mestre da Lei, como querendo dizer que ele conhecia a resposta! E este se saiu bem, ao sintetizar todos os mandamentos, em dois fundamentais: o amor absoluto a Deus e o amor ao próximo, com a mesma intensidade com que alguém ama a si mesmo. Nada de minúcias. Bastava o essencial. No parecer de Jesus, o mestre da Lei estava no bom caminho. Se pusesse em prática o resumo do decálogo, obteria a vida eterna.
Quando a conversa já podia ser dada por concluída, o mestre da Lei voltou à carga com uma questão ulterior: quem era o próximo a quem devia amar? Na mentalidade da época, entravam na categoria de próximo apenas parentes e familiares. Estes eram os visados pelo mandamento. Os demais ficavam de fora, dependendo da boa vontade alheia.
A resposta de Jesus foi dada em forma de parábola. Nesta, são sublinhados alguns pontos importantes. Próximo são todos aqueles que despontam no meu caminho, carecendo de misericórdia: são, sobretudo, as vítimas de preconceitos, como os samaritanos, odiados pelos judeus; são aqueles cuja situação dramática exige que eu refaça meus projetos, colocando-os como centro de minhas atenções; são aquelas pessoas cujas carências exigem de mim deixar em segundo plano, até mesmo, minhas obrigações religiosas. Enfim, não são os que estão mais próximos de mim, fisicamente, mas os que, por serem vítimas da maldade humana, fazem um apelo irresistível ao meu coração.
A salvação depende do amor. A vida eterna brota do amor, por ser este o caminho excelente de imitação da ação divina. “Deus é amor” é a melhor forma de definir Deus. Quem ama demonstra estar em sintonia com Deus, e ter assimilado o modo divino de ser. Que se poderá encontrar no fim de sua caminhada terrena, senão a vida plena que brota de Deus? Por isso, quem estiver preocupado em salvar-se, deve cuidar, logo, de praticar o amor ao próximo, nos termos definidos por Jesus.

Pe. Raimundo Neto
Pároco de São Vicente de Paulo

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