domingo, 27 de junho de 2010

INDIGNAÇÃO DA SANTA SÉ PELA BRUTAL INSPEÇÃO AO EPISCOPADO BELGA

Profanaram dois túmulos da cripta da catedral

Por Patricia Navas

Bruxelas (ZENIT.org) – O secretário da Santa Sé para as relações com os Estados, Dom Dominique Mamberti, expressou ao embaixador da Bélgica na Santa Sé, Charles Ghislain, seu “vivo estupor” pela forma como as autoridades judiciais belgas realizaram algumas investigações sobre supostos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja.
Também expressou sua “indignação pelo fato de que tenha havido inclusive violação dos túmulos dos eminentíssimos cardeais Jozef-Ernest Van Roey e Léon-Joseph Suenens, arcebispos falecidos de Malinas-Bruxelas”, indica um comunicado da Secretaria de Estado, publicado hoje pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
A porta-voz da justiça belga, Estelle Arpigny, negou-se a confirmar este extremo, ainda que tenha admitido que um túmulo foi aberto. Arpigni recusou fazer comentários a respeito disso.
“À consternação por estes atos se une o lamento por algumas infrações à confidencialidade, à qual têm direito precisamente essas vítimas pelas quais se levou a cabo a investigação”, acrescenta o texto vaticano.
Na manhã de ontem, enquanto os bispos da Bélgica estavam no arcebispado de Malinas-Bruxelas para sua reunião mensal, as autoridades judiciais e as forças da polícia entraram no edifício.
“Manifestaram que haveria uma inspeção do arcebispado devido a denúncias de abuso sexual no território da arquidiocese”, explica um comunicado assinado pelo porta-voz da Conferência Episcopal da Bélgica, acrescentando que “não se deu nenhuma outra explicação, mas todos os documentos e telefones celulares foram confiscados e se manifestou que ninguém poderia deixar o edifício. Este estado, de fato, durou até quase as 19h30”.
Os membros da conferência episcopal e a equipe do arcebispado foram interrogados. “Não foi uma experiência agradável, mas tudo se levou a cabo de forma correta”, indicou o porta-voz do episcopado.
O episcopado de Bruxelas, junto ao professor Peter Adriaensses, presidente da comissão para o tratamento dos abusos sexuais no âmbito de uma relação pastoral, lamentaram o fato de que, em outra inspeção, tenham confiscado todos os dossiers desta comissão. “Esta ação lesiona gravemente o necessário e excelente trabalho da comissão”, afirmou o porta-voz dos bispos.
Por outro lado, a Secretaria de Estado aproveitou esta conjuntura para reafirmar sua “firme condenação de todo ato pecaminoso e criminal de abusos a menores por parte de membros da Igreja”.
Também destacou a “necessidade de reparar e enfrentar estes atos de maneira conforme às exigências da justiça e aos ensinamentos do Evangelho.”
“Digno do Código Da Vinci”
Por sua vez, o arcebispo metropolitano de Malinas-Bruxelas, Dom André-Mutien Léonard, considerou o trabalho da justiça simplesmente “um pouco exagerado na modalidade da investigação” e manifestou também seu respeito por ele.
“Aqui na Bélgica – explicou –, nosso sentimento é moderado pelo fato de que a justiça pode levar a cabo uma investigação assim, sem limites.”
“Na Itália se consideraria um escândalo o fato de terem investigado também na cripta da catedral, perfurando os túmulos para encontrar documentos secretos – acrescentou. No entanto, na Bélgica, não criará tanto estupor.”
Em uma coletiva de imprensa concedida em Bruxelas, Dom Léonard reconheceu, brincando, que a inspeção “foi digna do Código Da Vinci”.
Dom Léonard, em seu encontro com a imprensa, qualificou de “ótima” a nomeação de Dom Jozef De Kesel como bispo de Bruges, até hoje bispo auxiliar de Malinas-Bruxelas.
O prelado substitui Dom Roger Joseph Vangheluwe, que no passado havia abusado sexualmente de um jovem do seu meio e cuja renúncia foi aceita pelo Papa há pouco mais de dois meses.
O arcebispo de Malinas-Bruxelas expressou seu agradecimento ao Papa pela nomeação, qualificou Dom De Kesel como “um homem muito capaz” e considerou que ele “poderá dar nova esperança e confiança aos fiéis da diocese de Bruges”.

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