sábado, 24 de abril de 2010

PAPA ACEITA RENÚNCIA DE BISPO QUE COMETEU PEDERASTIA

Dom Vangheluwe se retira da diocese belga de Bruges

Bruxelas (ZENIT.org).- Bento XVI aceitou hoje a renúncia ao governo pastoral da diocese belga de Bruges apresentada por Dom Roger Joseph Vangheluwe, quem, no passado, abusou sexualmente de um jovem. O Centro Interdiocesano de Bruxelas acolheu hoje uma coletiva de imprensa para explicar as causas da renúncia deste bispo.
O porta-voz da diocese de Bruges, Peter Rossel, leu uma mensagem de desculpas do bispo Vangheluwe, na qual ele reconhece que "quando eu era ainda um simples sacerdote e durante certo tempo, no começo do meu episcopado, abusei sexualmente de um jovem do meu ambiente próximo".
"Nas últimas décadas, reconheci diversas vezes minha culpa, diante dele e de sua família, e pedi perdão - reconhece o prelado. Mas isso não o pacificou. Nem sequer eu estou em paz."
"A tempestade midiática das últimas semanas reforçou o trauma - continua. Não se pode continuar nesta situação."
"Lamento profundamente o que fiz e apresento minhas mais sinceras desculpas à vítima, à sua família, a toda a comunidade católica e à sociedade em geral", assegura o prelado, em sua mensagem.
"Apresentei ao Papa Bento XVI minha renúncia como bispo de Bruges e esta foi aceita hoje - explica. Por isso, estou me retirando."
Demissão indispensável
O arcebispo de Malinas-Bruxelas afirmou aos jornalistas que assistiam à coletiva de imprensa: "Estamos enfrentando uma situação particularmente grave".
"Pensamos antes de tudo na vítima e em sua família, da qual muitos membros conheceram hoje a tremenda notícia - declarou. Para a vítima, trata-se de um longo calvário, que certamente não acabou."
"Quanto ao bispo Roger Vangheluwe, ele tem direito, como pessoa, à conversão, confiando na misericórdia de Deus", acrescentou.
"No entanto, no que se refere à sua função, é indispensável que, por respeito à vítima e à sua família, e por respeito à verdade, ele seja demitido do seu cargo", afirmou.
"É isso que foi feito - explicou. O Papa aceitou imediatamente a renúncia do bispo de Bruges, que neste momento é divulgada em Roma."
Destacou que "a Igreja insiste em que nestes assuntos não deve haver distorções" e acrescentou: "Esperamos contribuir, dessa forma, para o restabelecimento da vítima".
"Somos conscientes da crise de confiança que este fato causará em muitas pessoas", declarou.
"No entanto - acrescentou - nós nos atrevemos a esperar que a sensatez prevaleça e que os bispos - e sobretudo os sacerdotes - deste país não sejam, em conjunto, indevidamente desacreditados."
"A grande maioria vive de forma coerente com sua vocação e com uma fidelidade pela qual lhes agradeço publicamente", recordou.
A situação não se acalmava
Também interveio na coletiva de imprensa o bispo representante da comissão para a gestão das queixas por abusos sexuais em uma relação pastoral, Dom Guy Harpigny.
Este prelado explicou que ficou sabendo da situação do bispo que renunciou apenas na terça-feira, 20 de abril, "por meio de uma mensagem de conhecidos da vítima, dirigida aos bispados".
Naquele momento, "nenhum dos membros da Conferência Episcopal da Bélgica estava a par desta situação", precisou.
"Eu só soube que, no começo do mês, o cardeal Danneels - já emérito - teve um encontro com a família, a pedido da família da vítima e na presença de Dom Vangheluwe", explicou.
E prosseguiu: "Ele ouviu e constatou que a situação não se acalmava e não poderia continuar assim".
Ao mesmo tempo, a vítima contatou a comissão representada por Dom Harpigny.
Antídoto
O presidente desta comissão, Peter Adriaenssens, também interveio no ato de hoje, tentando responder à pergunta "Como reparar um passado que se tornou pesado demais?".
Para o especialista, "a história da vítima de Dom Vangheluwe é um caso exemplar que demonstra que crescer com um passado muito pesado pode causar dano, em todos os sentidos".
"O abuso sexual é, em primeiro lugar, uma questão de abuso de poder", explicou, caracterizado pelo "segredo imposto à vítima e ao pequeno círculo fechado no qual se encontra".
Adriaenssens propôs um "antídoto": "Frente ao abuso de poder, é preciso restabelecer o equilíbrio das dignidades"; "frente ao peso do segredo, está o direito de reencontrar o livre uso da sua palavra"; e, "frente ao que chegou diante da vista, está a transparência de uma comunicação aberta".
Para ele, "estes são os 3 caminhos de cura que podem ser oferecidos hoje à vítima e à sua família".
E concluiu: "Esperamos que as medidas claras, que afetam hoje o autor destes atos, permitam que a vítima se sinta orgulhosa de pertencer à sociedade".

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