Vigésimo Sétimo Domingo do Tempo Comum
Marcos 10,2-16
São duas as lições do Evangelho de hoje (Marcos 10,2-16) e elas se sobrepõem. Primeiro, a fidelidade do ser humano a Deus. Jesus confirma a fidelidade em qualquer circunstância como condição para ser discípulo. Os cristãos são chamados de fiéis, isto é, os que guardam fidelidade para com o Evangelho, a pessoa e os ensinamentos de Jesus Cristo. Segundo, a fidelidade matrimonial como uma expressão da fidelidade a Deus. Fidelidade aqui entendida como indissolubilidade. Este é um assunto gravemente problemático no mundo pós-moderno, que perdeu o senso do compromisso eterno.
Antes de vermos o problema do divórcio, lembremos que Marcos está apresentando as qualidades do verdadeiro discípulo de Jesus. E aqui se ressalta a fidelidade às leis divinas. Quase podemos dizer que a história do homem é a história de sua fidelidade a Deus. Cristo é o exemplo máximo de fidelidade: “Meu alimento é fazer a vontade do Pai” (Jo 4,34). Mais vezes na Bíblia o casamento é posto como símbolo da fidelidade do homem a Deus. Deus faz uma aliança com o homem e a mulher, isto é, um pacto como no casamento, no qual se espera fidelidade de ambos os lados. Ao colocar esse tema, Marcos quer acentuar que o discípulo de Jesus lhe deve ser fiel à custa de todos os sacrifícios e atropelos, mesmo naqueles momentos em que as leis humanas lhe facultam caminhos diferentes. Desde os Atos dos Apóstolos, os cristãos são chamados de fiéis, isto é, pessoas que guardam fidelidade ao senhor Jesus (Cf. At. 10,45; Ef. 1,1). Para o apóstolo Paulo, a fidelidade é um fruto do Espírito Santo, ao lado da caridade, da alegria e da paz (Gl. 5,22).
Consideremos agora do ponto de vista do divórcio. Não foi uma única vez que os fariseus tentaram envolver Jesus em questões disputadas ou jogá-lo contra as autoridades civis. Lembremos apenas o episódio do Tributo a César (Mc. 12,13-17): se Jesus atacasse de frente o adultério, estaria despertando a ira de Herodes, que passou a viver adulteramente com a cunhada Herodíades. Conforme sua resposta, Jesus entraria na polêmica dos escribas: uns eram rigorosos e só permitiam o divórcio em caso de adultério da mulher; outros eram liberais, laxistas, e permitiam o divórcio por qualquer razão, até o ter a esposa deixado queimar a comida. Jesus sabiamente não entra na questão, explica a atitude de Moisés e reafirma a indissolubilidade, sem condenar ninguém. Desde o começo da criação Deus os fez homem e mulher. Com esta frase, Jesus quer dizer que se casam pessoas. Não apenas sexos. Pessoas capazes de um compromisso mútuo e de uma comunhão plena, em pé de igualdade, de direitos e obrigações. São uma só carne e é muito mais que a junção de corpos. Carne aqui significa a pessoa inteira, com suas qualidades e deficiências, seu sentir e seu fazer, seu passado e seu destino. Duas pessoas se unem para uma comunidade de vida e de amor. Na prática, sempre houve divórcios. Entre os hebreus, a mulher repudiada pelo marido, tornava-se difamada e desgraçada para sempre. Em defesa da mulher repudiada saiu Moisés e prescreveu que o marido, ao despedi-la, deveria dar-lhe um documento, que passava a ser garantia de sua honra e de sua liberdade de ação. Moisés baixou essa lei, não para viabilizar o divórcio, mas por causa da dureza do coração do homem, isto é, pela facilidade com que os maridos se tornavam brutos, injustos e insensíveis para com a mulher, sua esposa. Jesus reafirma a indissolubilidade do matrimônio. Nesse sentido, a Igreja Católica sempre interpretou as palavras de Jesus. Muitos teólogos procuraram possíveis saídas para justificar o divórcio e não as encontraram. O problema existe. Hoje talvez seja ainda maior problemática a indissolubilidade, porque o homem moderno – extremamente inteligente e imediatista – perdeu o senso da durabilidade. Troca-se o carro, trocam-se os móveis, troca-se a profissão, mudam-se os códigos e a Constituição, e a própria Igreja renova seus ritos. Pouco ficou estável. A compreensão é a única saída para a crise e a instabilidade do matrimônio.
Neste domingo da fidelidade conjugal, reflitamos o Salmo 127 onde se canta a bem-aventurança de um matrimônio, de uma família feliz.
Pe. Raimundo Neto
Pároco de São Vicente de Paulo
Marcos 10,2-16
São duas as lições do Evangelho de hoje (Marcos 10,2-16) e elas se sobrepõem. Primeiro, a fidelidade do ser humano a Deus. Jesus confirma a fidelidade em qualquer circunstância como condição para ser discípulo. Os cristãos são chamados de fiéis, isto é, os que guardam fidelidade para com o Evangelho, a pessoa e os ensinamentos de Jesus Cristo. Segundo, a fidelidade matrimonial como uma expressão da fidelidade a Deus. Fidelidade aqui entendida como indissolubilidade. Este é um assunto gravemente problemático no mundo pós-moderno, que perdeu o senso do compromisso eterno.
Antes de vermos o problema do divórcio, lembremos que Marcos está apresentando as qualidades do verdadeiro discípulo de Jesus. E aqui se ressalta a fidelidade às leis divinas. Quase podemos dizer que a história do homem é a história de sua fidelidade a Deus. Cristo é o exemplo máximo de fidelidade: “Meu alimento é fazer a vontade do Pai” (Jo 4,34). Mais vezes na Bíblia o casamento é posto como símbolo da fidelidade do homem a Deus. Deus faz uma aliança com o homem e a mulher, isto é, um pacto como no casamento, no qual se espera fidelidade de ambos os lados. Ao colocar esse tema, Marcos quer acentuar que o discípulo de Jesus lhe deve ser fiel à custa de todos os sacrifícios e atropelos, mesmo naqueles momentos em que as leis humanas lhe facultam caminhos diferentes. Desde os Atos dos Apóstolos, os cristãos são chamados de fiéis, isto é, pessoas que guardam fidelidade ao senhor Jesus (Cf. At. 10,45; Ef. 1,1). Para o apóstolo Paulo, a fidelidade é um fruto do Espírito Santo, ao lado da caridade, da alegria e da paz (Gl. 5,22).
Consideremos agora do ponto de vista do divórcio. Não foi uma única vez que os fariseus tentaram envolver Jesus em questões disputadas ou jogá-lo contra as autoridades civis. Lembremos apenas o episódio do Tributo a César (Mc. 12,13-17): se Jesus atacasse de frente o adultério, estaria despertando a ira de Herodes, que passou a viver adulteramente com a cunhada Herodíades. Conforme sua resposta, Jesus entraria na polêmica dos escribas: uns eram rigorosos e só permitiam o divórcio em caso de adultério da mulher; outros eram liberais, laxistas, e permitiam o divórcio por qualquer razão, até o ter a esposa deixado queimar a comida. Jesus sabiamente não entra na questão, explica a atitude de Moisés e reafirma a indissolubilidade, sem condenar ninguém. Desde o começo da criação Deus os fez homem e mulher. Com esta frase, Jesus quer dizer que se casam pessoas. Não apenas sexos. Pessoas capazes de um compromisso mútuo e de uma comunhão plena, em pé de igualdade, de direitos e obrigações. São uma só carne e é muito mais que a junção de corpos. Carne aqui significa a pessoa inteira, com suas qualidades e deficiências, seu sentir e seu fazer, seu passado e seu destino. Duas pessoas se unem para uma comunidade de vida e de amor. Na prática, sempre houve divórcios. Entre os hebreus, a mulher repudiada pelo marido, tornava-se difamada e desgraçada para sempre. Em defesa da mulher repudiada saiu Moisés e prescreveu que o marido, ao despedi-la, deveria dar-lhe um documento, que passava a ser garantia de sua honra e de sua liberdade de ação. Moisés baixou essa lei, não para viabilizar o divórcio, mas por causa da dureza do coração do homem, isto é, pela facilidade com que os maridos se tornavam brutos, injustos e insensíveis para com a mulher, sua esposa. Jesus reafirma a indissolubilidade do matrimônio. Nesse sentido, a Igreja Católica sempre interpretou as palavras de Jesus. Muitos teólogos procuraram possíveis saídas para justificar o divórcio e não as encontraram. O problema existe. Hoje talvez seja ainda maior problemática a indissolubilidade, porque o homem moderno – extremamente inteligente e imediatista – perdeu o senso da durabilidade. Troca-se o carro, trocam-se os móveis, troca-se a profissão, mudam-se os códigos e a Constituição, e a própria Igreja renova seus ritos. Pouco ficou estável. A compreensão é a única saída para a crise e a instabilidade do matrimônio.
Neste domingo da fidelidade conjugal, reflitamos o Salmo 127 onde se canta a bem-aventurança de um matrimônio, de uma família feliz.
Pe. Raimundo Neto
Pároco de São Vicente de Paulo
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