domingo, 30 de agosto de 2009

REFLETINDO SOBRE O EVANGELHO


Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum

Marcos 7,1-23

O Evangelho para a liturgia de hoje está apresentado em Marcos 7, 1-23. Neste trecho do evangelho dois pontos nos chamam a atenção sobre o ensinamento de Jesus: 1º) Jesus é o que suprime as falsas tradições; 2º) Jesus é aquele que ensina uma nova moralidade. Jesus está diante de seus adversários mais ferrenhos que são os escribas. Certamente eles não estão ali em volta de Jesus como estava a multidão necessitada. Eles, desde o começo, querem pegar Jesus em alguma contradição para poder acusá-lo. Ao verem os discípulos de Jesus comendo sem lavar as mãos, ficam escandalizados, pois isso incorria em impureza ritual. Jesus está preocupado com o povo faminto, que não tem o que comer, enquanto os fariseus e doutores da lei se preocupam com o lavar as mãos para comer (cf Lv. 15, 11-lavagem ritual). O lavar as mãos não era por meros motivos de higiene ou de urbanidade, mas tinha um significado religioso de purificação. Em Êxodo 30, 17ss a lei de Deus prescrevia a purificação dos sacerdotes antes das suas funções cultuais. A tradição judaica tinha-o ampliado a todos os israelitas para antes de todas as refeições, querendo dar a estas um significado religioso que se reflete nas bênçãos com que começavam. A purificação ritual era símbolo de pureza moral com que uma pessoa deve apresentar-se diante de Deus; mas os fariseus tinham conservado o meramente exterior. Por isso Jesus restitui o sentido genuíno destes preceitos da lei, que tende a ensinar a verdadeira adoração a Deus. Jesus recorrendo ao profeta Isaias (Is. 29, 13 - a falsa religião) desmascara os fariseus e doutores da lei, mostrando que eles estão interessados em defender tradições que eles mesmos criaram, ainda que estas passem por cima dos mandamentos de Deus.
Jesus dirige-se para ensinar uma nova forma de moralidade. Esta moralidade não se baseia naquilo que vem de fora, seja alimento que eu como, julgamento que os outros fazem, elogios e boa fama, observância das leis e costumes. A novidade da moral que Jesus traz contrapõe-se fora e dentro. Para o casuísmo farisaico, a impureza estava fora, nos objetos, coisas ou pessoas impuras. Para Jesus, a impureza é conseqüência das opções de vida das pessoas, vinda de dentro, do coração. Para os Semitas é a sede das opções vitais e da consciência humana que cria projetos e dá uma direção às coisas. A moralidade de Jesus é a da integridade, isto é, a pessoa ser por fora o que é por dentro, sem se identificar com máscaras que envolvem e endurecem o coração.
Diante dessa reflexão tiramos a seguinte mensagem para a nossa vida: o farisaísmo e o formalismo, ou seja, a falsa religião não é uma atitude concernente ao passado, mas uma tentação que renasce continuamente até entre as pessoas e as instituições que começam com as mais puras e retas intenções. Ainda hoje pode haver no meio dos cristãos de todas as denominações, uma maneira de agir farisaica; pode-se também hoje viver um cristianismo legalista, exterior, superficial, sem seguimento e sem compromisso, mais preocupado em obedecer passivamente às normas recebidas do que em dar uma resposta pessoal e responsável aos chamados de Deus e aos apelos dos irmãos.
Procuremos amigos e irmãos, buscar, para edificação de nossa vida pessoal e comunitária, a ética religiosa de Jesus que foi exatamente a síntese entre o coração e a prática de amor a Deus e ao próximo. Que os nossos sentimentos sejam sempre os mesmos de Jesus ontem, hoje e sempre.

Pe. Raimundo Neto
Pároco de São Vicente de Paulo

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