O Papa Bento XVI visitou, nesta terça-feira, 28, a região italiana de Abruzzo para se encontrar com a população atingida pelo terremoto no início do mês. Por causa do mau tempo, o Papa não pôde viajar de helicóptero até ao local, o que provocou um atraso no seu programa."Quero abraçar a cada um”, afirmou o Papa, quando chegou nesta manhã a Onna, o epicentro do sismo que deixou 58 mil desalojados e 295 mortos."Estive ao vosso lado desde o primeiro momento, a partir do momento em que tive a notícia deste violento terremoto que, na noite do dia 6 de abril, provocou quase 300 vítimas, numerosos feridos e grandes danos materiais nas vossas casas. Acompanhei com apreensão as notícias, partilhando as suas angústias e lágrimas pelos mortos, juntamente com as preocupações por tudo o que perderam num instante”, afirmou.Num gesto de humildade, o Santo Padre declarou que sua presença é pequena perante o sofrimento das pessoas. Mas assegurou que "a Igreja está aqui comigo, participando do sofrimento de vocês e da dor por terem perdido familiares e amigos, e deseja ajudá-los a reconstruírem as casas, igrejas e empresas gravemente danificadas pelo sismo".Bento XVI passou por Onna e pelas tendas que abrigam os desalojados, cumprimentando quem dele se aproximava. O Papa elogiou a coragem, a dignidade e fé com que "enfrentaram esta dura prova, manifestando uma grande vontade de não ceder perante a adversidade". Este não foi o primeiro terremoto na região, lembrou, e tal como no passado "não se renderam", afirmou, lembrando que esta é uma "força que suscita a esperança". "O terramoto não destruiu o amor", disse.O Pontífice notou ainda que apesar do empenho e da solidariedade de muitos locais com esta região italiana, as dificuldades são "muitas e diárias que implica viver fora de casa, ou em carros ou em tendas”, situações agravadas pelo tempo frio e chuvoso."A resposta concreta a Deus passa pela solidariedade", indicou, mas este gesto "não pode se limitar a socorrer apenas as emergências iniciais. Deve continuar num projecto estável e concreto no tempo". O Papa quis deixar um encorajamento a toda população, instituições e empresas para que "esta cidade e esta região se reergam".O Santo Padre lembrou os muitos jovens "subitamente forçados a lidar com uma dura realidade, os meninos que tiveram que abandonar a escola e os idosos privados dos seus hábitos”. “A minha oração é para vocês. Estamos juntos. Obrigado pela vossa fé, pela vossa coragem, pela vossa esperança”, concluiu.
L'Aquila
Após um percurso feito num automóvel da Protecção Civil, Bento XVI parou junto da danificada Basílica de de Collemaggio.O Papa realizou um gesto altamente simbólico ao depositar junto da porta santa da igreja o pálio – insígnia pessoal e de autoridade - que lhe fora imposto no dia do início de pontificado, em cima do relicário com os restos mortais do Papa Celestino V, (1215 - 1296), pontífice que governou a Igreja Católica apenas durante uns meses, em 1294.
Bento XVI permaneceu em oração, durante uns momentos, lembrando a figura deste Papa do séc. XIII e a história religiosa da comunidade de L’Aquila. O Papa ainda deu alguns passos em direção ao interior da Basílica, visivelmente destruída.
A entrada na Basílica foi vedada, por motivos de segurança. Bento XVI manifestou esperança de que o espaço seja reconstruído como era e onde estava, à imagem do que aconteceu com a histórica abadia beneditina de Montecassino, que o Papa visitará no dia 24 de Maio.
Seguiu-se uma breve passagem pela Casa do Estudante, onde morreram 25 pessoas, e um encontro com um grupo de estudantes. O Papa ouviu jovens sobreviventes e os responsáveis locais, que explicavam os danos sofridos pelos edifícios.
Bento XVI saudou longamente autoridades e párocos das localidades mais atingidas pelo terremoto. Posteriormente, já num jipe da Guarda Fiscal, saudou a população reunida no local.
D. Giuseppe Molinari, Arcebispo de L’Aquila, saudou Bento XVI e pediu o "milagre" de uma "pronta e corajosa reconstrução", após ter agradecido os vários gestos de solidariedade e proximidade do Papa.
Bento XVI agradeceu o acolhimento, que o comoveu "profundamente" e saudou as autoridades religiosas e civis presentes e todos os empenhados na reconstrução da cidade, deixando uma "palavra de agradecimento por tudo o que fizestes".
O Papa recordou os vários momentos da sua visita, confessando que "ao atravessar a cidade, apercebi-me de quão graves foram as consequências do terramoto". Aos presentes, desafiou a "não ceder ao desencorajamento", sublinhando a "firme intenção" manifestada pelas autoridades de "reconstruir a cidade".
No mesmo local que acolheu o funeral das vítimas, Bento XVI disse que a sua visita quer ser um sinal da "solicitude fraterna de toda a Igreja".
"Desejo sublinhar o valor e a importância da solidariedade", disse o Papa, que a classificou como "um sentimento altamente cívico e cristão, que mede a maturidade de uma sociedade".
Para Bento XVI, neste momento é fundamental tentar perceber "o que é que o Senhor nos quer dizer através deste triste evento", que marcou a celebração da Páscoa deste ano.
"É preciso fazer um sério exame de consciência, também como comunidade civil, para que o nível de responsabilidade em qualquer momento nunca seja descurado. Só assim, L’Aquila (águia, em italiano), ainda que ferida, poderá voltar a voar", apontou.
Este momento concluiu-se com uma homenagem à imagem de Nossa Senhora da Cruz, diante do qual o Papa depôs uma rosa de ouro em sinal da "minha oração por vós" e por todas as comunidades atingidas.
Bento XVI voltou a saudar algumas das pessoas presentes e chegou mesmo a colocar um capacete de bombeiro, por breves instantes.
Ecclesia/Reuters
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