terça-feira, 27 de janeiro de 2009

FÓRUM RATIFICA COMPROMISSO DAS IGREJAS NA DEFESA DA ÁGUA COMO DIREITO HUMANO E BEM PÚBLICO

Cerca de 50 pessoas participaram nesta segunda-feira, 26, na Universidade da Amazônia (Unama), do Fórum Ecumênico da Água promovido pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) e pela CNBB. Participaram do Fórum um senador da Suíça e um da Bolívia, além do secretário geral da Conferência dos Bispos da Suíça. Na pauta das discussões a preocupação com o iminente risco de privatização da água e a falta de acesso de milhões de pessoas a esse bem vital.“O Pará tem a maior quantidade de água doce do planeta. No entanto, famílias ribeirinhas, que residem nas ilhas, não têm água potável e têm que buscar água no continente”, disse o arcebispo de Belém, dom Orani João Tempesta, que representou a CNBB no encontro. “As autoridades não têm interesse na questão porque os ribeirinhos não representam tantos votos”, observou. O secretário da Conferência dos Bispos da Suíça, Abade Felix Mund, por sua vez, fez uma ligação da água com a fé cristã. “É necessário que cada cristão se coloque esta questão: por que eu sou cristão? Porque quero viver. Água é um dos elementos que nos faz viver”, disse lembrando a necessidade de todos se empenharem na defesa da água como um direito de todos. “Emanuel Kant nos ensinou que onde há um direito, implica um dever. Quem deve garantir este direito à água? São os poderes públicos”, completou Mund. O secretário condenou a ação de empresas que querem ter o domínio da água para o comércio. “A Nestlé tem um poder enorme sobre a água. As companhias transnacionais fazem um pseudo discurso de que como o estado não tem mecanismos legais para garantir este direito à água, elas têm esta obrigação. A Conferência Episcopal Suíça afirma que não. Este bem pertence a todo mundo”, afirmou. CNBBO representante da CNBB, padre Nelito Nonato Dornelas, reafirmou o compromisso da Conferência dos Bispos do Brasil com a ecologia e a questão da água. “Há exatamente 30 anos, a CNBB mostrava sua preocupação com a ecologia ao lançar, em 1979, a Campanha da Fraternidade com o tema ‘Preserve o que é de todos’”, lembrou. Dornelas recordou, ainda, as Campanhas da Fraternidade sobre a água (2004) e a Amazônia (2007) que também tiveram temas ligados à ecologia. “A Igreja no Brasil sente sua corresponsabilidade na defesa da água como bem público e direito humano por isso o Conselho Permanente da CNBB criou uma Comissão de seis bispos para acompanhar esta questão”, informou. Em abril a Comissão deverá lançar uma cartilha para conscientizar as comunidades a respeito do assunto. “As Igrejas devem assumir a luta da água e levar os governos a assumirem uma resolução apoiando a relatoria independente da água na ONU”, disse a representante da Rede Ecumênica da Água, Asa Elfstrom. Já o membro do movimento ecumênico de Belém, Rafael Magalhães, destacou que, na Amazônia, o conflito é pela água. “Na Amazônia, o conflito não é de disponibilidade hídrica. Temos muita água que serve para o consumo das pessoas e sustentar o ecossistema e a biodiversidade e também as indústrias e a energia. Isso gera conflitos sociais. Na Amazônia temos conflito pela água”, disse. Na sua opnião, a água não pode ser motivo de divisão dos povos, mas deve integrá-los.ContradiçãoFranklin Frederick, representante da CNBB e do Conic no projeto da Água, vê uma contradição na legislação brasileira a respeito da água. “A Agência Nacional da Água (ANA) tem a função de regular os interesses privados. Como explicar isso se a água é um bem público? Isso é uma contradição”, afirmou. Frederick explicou que todas estas preocupações levaram a CNBB e o Conic a assinarem, em 2005, a “Declaração Ecumênica da Água como bem público e direito humano” juntamente com a Confederação Suíça de Igrejas Evangélicas e a Conferência dos Bispos da Suíça.O senador suíço Luc Recordon também falou Nestlé, empresa nascida na Suíça em 1866. Ele lamentou que a Nestlé seja uma das empresas a comprar terras em São Lourenço (MG) para ter o controle da água. “Tenho vergonha de dizer que a Nestlé veio ao Brasil para ter o domínio da água e fazer comércio dela”, disse. De acordo com o senador, é preciso combater os projetos de privatização da água. “A água pública e acessível há de ser uma prioridade dos governos”, observou.Da Bolívia, o senador Abrahan Cuellar de Araujo trouxe a experiência do Ministério da Água criado pelo presidente Evo Morales após a expulsão de empresas que queriam privatizar a água. “O ministério trabalha em coordenação com os movimentos sociais para aplicar políticas públicas em benefício a todos”, explicou o senador. “Quero apoiar o movimento ecumênico das Igrejas pela água como bem público e direito humano”, acentuou.

CNBB

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