Os romeiros de São Francisco se despedem de Canindé, com uma procissão que reuniu mais de 60 mil fiéis (foto Kid Júnior)
Programação: só o show da cantora Fafá de Belém reuniu, na Praça dos Romeiros, mais de 120 mil pessoas
Após a missa de encerramento, os fiéis permaneceram em frente à Basílica à espera do andor do santoO encerramento das festas em homenagem a São Francisco das Chagas, padroeiro de Canindé, superou as expectativas em relação à quantidade de fiéis. Ontem, no último dia de devoção ao Santo, como parte da programação oficial do evento, um público estimado em mais de 60 mil pessoas lotaram as principais ruas da cidade. A missa de encerramento foi realizada no espaço coberto da gruta. Mesmo assim, a Basílica de São Francisco e a escadaria de acesso permaneciam lotadas.Fiéis de todas as idades se encontravam lá para se despedir do santo, agradecer às graças alcançadas e, quem sabe, prometer de voltar no próximo ano. Em pontos estratégicos de devoção, como a Gruta, casa dos milagres e a Basílica, crianças, adultos e idosos utilizavam roupas na cor marrom, lembrando os trajes de São Francisco, além de ficarem descalços durante todo o encerramento.O último dia da festa foi emocionante. Idosos choravam ao agradecer por mais um ano de dever cumprido. Geralmente, eles pediam saúde e paz para voltar nas próximas festas.Durante a celebração do Trânsito de São Francisco, o presidente da celebração, frei Marconi Lins, destacou a participação dos fiéis e pediu para que a principal chaga da humanidade, o egoísmo, fosse curada. “Aqui, nos curamos de todas as chagas, de modo especial da chaga do egoísmo”. E, ao mesmo tempo em que nos curamos, tornamo-nos solidários e comprometidos com a causa do Evangelho, que é a vida para toda a humanidade”ProcissãoApós a missa de encerramento, os fiéis permanceram em frente à Basílica de São Francisco à espera de ver o andor com o Santo. A expectativa era intensa. Muitos devotos ficaram emocionados e não escondiam a satisfação em afirmar, para todos ouvir, o quando agradeciam a São Francisco pelos pedidos alcançados.Enquanto a imagem saía da Basílica, todos aproveitavam para registrar São Francisco nas máquinas fotográficas ou nos celulares. Ficar com uma imagem do Santo é manter a proximidade com o homenageado e lembrar a quem recorrer nos momentos mais difíceis.Este ano, a procissão percorreu uma média de oito quilômetros, pelas principais ruas da cidade. Ao sair da Basílica, os fiéis lotaram as estreitas ruas da cidade. Todos caminhavam a passos lentos, orando e pedindo proteção.E é neste momento, durante a procissão, que Maria das Dores Moreira Gomes, 69, natural de Juazeiro do Norte, espera para fazer sua homenagem ao santo. Com gestos humildes, mas sinceros, ela acena para São Francisco, como quem se despede do santo e promete voltar no próximo ano. Apesar do cansaço e da longa viagem de volta para casa, Maria das Dores não reclama. ´Pra mim, tá tudo ótimo. Tô gostando de tudo e sempre peço a ele muita paz e saúde pra mim e pra toda minha família”.Da mesma forma foi para a agricultora Maria das Graças Feitosa de Melo, 59, natural de Imperatriz, no Maranhão. Há 25 anos ela participa das homenagens a São Francisco. E, para manter a promessa e a tradição, usa o traje franciscano e percorre todo o trajeto da procissão a pé. É uma caminha longa, mas sem sofrimentos, argumenta a devota. “O que fazemos tem um pouco de sacrifício. Faço isso com prazer”. PRAÇA DOS ROMEIROSFafá de Belém encerra homenagensAs homenagens a São Francisco das Chagas, em Canindé, terminaram com o show da cantora Fafá de Belém, realizado na Praça dos Romeiros. Só neste momento de fé, estiveram reunidos mais de 120 mil pessoas. Foi o marco do encerramento da programação oficial. Enquanto isso, os romeiros se preparavam para voltar às suas casas. Eles íam enfrentar longos caminhos e quilômetros de estrada com destino a outras cidades e estados.Apesar do cansaço, os romeiros estavam com a sensação de dever cumprido. Não importava a distância e se o trajeto seria realizado à noite. São Francisco, devoto desses fiéis, iriam lhes dar proteção.Imagens da féO momento da romaria também foi importante para incentivar jovens a conhecer, valorizar e ter interesse pela cultura popular e religiosa do Nordeste. Como foi o caso do editor de imagens José Francisco Vieira de Souza, 24 anos, natural de Teresina, no Piauí. Ele, acompanhado da avó e de mais outros romeiros da mesma cidade, irão enfrentar 10 horas de viagem até chegar no destino. Mas a oportunidade de ir a Canindé foi única.“Sempre quis vir para cá. Como vim para acompanhar minha avó e gosto de filmar, aproveitei a viagem para gravar um vídeo e depois vou editar e vender para os romeiros”, diz.“A idéia surgiu para fazer uma lembrança para minha avó, porque ela sempre vem e nunca tem nada de recordação com ela, a não ser as fotos. Mas como outras pessoas quiseram o vídeo, eu vou melhorar e vender por um preço simbólico”, afirma. De acordo com o editor de imagens, o total de gravação foi superior a quatro horas. Ele priorizou as imagens de devoção ao santo, pagamento de promessas, gruta onde os romeiros coletam água e os momentos de oração na Basílica.Da mesma forma foi para Cesar Augusto de Carvalho Vieira, editor de TV localizada no Delta da Parnaíba, também no Piauí. Ele, que visitou a cidade pela primeira vez somente por acompanhar um grupo de romeiros, diz que não vai mais deixar de participar dos festejos em homenagem a São Francisco.“Vim para acompanhar uma caravana de romeiros e gravar um DVD para eles. Não quero deixar de vir porque é muito bom participar da procissão em Canindé”, afirma.
Maurício VieiraRepórter/Diário do Nordeste
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