sexta-feira, 26 de setembro de 2008

"PERDÃO NÃO É SINÔNIMO DE IMPUNIDADE", AFIRMA PRESIDENTE DA CNBB


“Hoje, 26, acontece a 11ª edição da Caravana da Anistia, na sede da CNBB, em Brasília, que julga 13 processos de requerimento de anistiandos, perseguidos politicamente durante o regime militar no Brasil.
“A esperança nos leva hoje a proclamar: tortura nunca mais! Repressão nunca mais! Nunca mais tenhamos que viver momentos tão indignos em nosso país. É o que esperamos”, exclamou dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB, em seu discurso durante a abertura da 11ª edição da Caravana da Anistia, ocorrida hoje, 26, no auditório dom Helder Câmara, na sede da Conferência, em Brasília. A Caravana reuniu, além dos anistiandos e familiares e representantes de organismos que lutam pelos Direitos Humanos no Brasil, o ministro interino da Justiça, Luiz Paulo Teles Barreto; o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vanucchi; o chefe interino da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Eloi Pereira; o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão; o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha; o presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), Carlos Augusto Möuller; o secretário executivo do Colégio Episcopal da Igreja Metodista, bispo Stanley Moraes; o representante da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Carlos Moura; a presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil - Regional Brasília, irmã Teresinha Santin.
Em seu discurso, dom Geraldo lembrou as pessoas que, por causa do Evangelho, não aceitaram que o Brasil fosse invadido pela repressão. E disse rememorar “com constrangimento e com dor” os anos da ditadura militar.
Além de manifestar alegria com a realização da Caravana da Anistia na sede da CNBB, dom Geraldo expressou apoio ao trabalho da Comissão. “Expressamos nosso apoio e reconhecimento ao intenso trabalho da Comissão”, disse.
Já o secretário-executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz, Carlos Moura, falou sobre a questão da cumplicidade entre as instituições e a sociedade, “para que jamais se repitam fatos como os que ocorreram no passado”. Moura disse ainda que “para quem sofreu os horrores da ditadura, também é comovente presenciar o esforço do Estado brasileiro de se redimir das iniqüidades cometidas”.
O presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, considerou a 11ª Caravana um momento histórico, dado que “significa o reencontro daqueles que no passado foram determinantes para a reabertura política”. “As Igrejas sempre foram espaço de proteção dos injustiçados e perseguidos”, recordou
Reconciliação
Abrão afirmou ainda que a Comissão de Anistia tem objetivos comuns com as igrejas, como a paz, a reconciliação e o perdão.Segundo o ministro chefe da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, esta reconciliação pode ser reconstruída. “Para um mundo de paz, é necessário passar por um processo de reconciliação”, afirmou o ministro lembrando as guerras que o mundo vive nos tempos atuais. “Com as caravanas, o Brasil encontrou o caminho para discutir e avançar no caminho da paz, o que não implica no esquecimento do que ocorreu”, disse, por sua vez, o ministro interino da Justiça, Luiz Teles Barreto.
Impunidade e abertura de arquivos
Em relação aos crimes de tortura, o presidente da CNBB distinguiu perdão de impunidade. “Perdão não é sinônimo de impunidade. Sem perdão não há reconciliação. Sem reconciliação não há paz.”, disse dom Geraldo. Em seguida, afirmou a necessidade de punir os culpados. “É preciso que os culpados sejam conhecidos e punidos. Nunca podemos acobertar os crimes em desrespeito aos direitos humanos”, acrescentou.
“Acho que a abertura dos arquivos pode ajudar a elucidar muitas questões e trazer à lume toda esta página dolorosa e triste da história do Brasil. Não construir história, escondendo fatos que fazem parte dessa história”, afirmou o presidente da CNBB ao ser questionado sobre a abertura dos arquivos da época do regime militar.
Caravana da Anistia
Criada em abril deste ano, a Caravana é uma iniciativa da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que já percorreu diversos espaços como a Associação Brasileira de Imprensa e algumas universidades. Segundo Abrão, “o objetivo da iniciativa é dar transparência aos trabalhos das caravanas, bem como trazer a púbico uma reflexão crítica para a sociedade a respeito do passado do nosso país”.
A 11ª edição da Caravana realizada na CNBB julga 13 processos de requerimento de anistiandos que, em razão de seus ideais ou de sua motivação religiosa, sofreram perseguição política durante o regime militar. São eles: Alípio de Freitas; Frederick Morris, Roberto Mendes, Helena Melo, Peter Carthy, Helder Bedendo, Elia Rola, Maria Emília Pacheco, Eliana Rolemberg, Nilmário Miranda, Alanir Cardoso, Marcelo Pinto Carvalehiera, Ruy e Felícia Soares.
CNBB

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