segunda-feira, 25 de agosto de 2008

CÉLULAS-TRONCO: POR QUE ESTE ESTRANHO SILÊNCIO?

'Infelizmente outras preocupações e outros projetos parecem bloquear as preocupações éticas mais fundamentais'
Acabamos de assistir à abertura dos jogos olímpicos em Pequim. Foi uma conjugação nunca vista de arte e sofisticada tecnologia. E ao longo das competições, quanta vibração. Claro que houve quem logo buscasse colocar defeitos e apontasse para alguns recursos pouco convencionais para evitar qualquer tropeço de última hora. De qualquer forma, terminados os espetáculos só ficaram as imagens e as lembranças... Por sinal, muito boas.
Ao longo dos últimos anos, sobretudo em duas ocasiões, o Brasil foi sede não de jogos olímpicos, mas de manifestações pirotécnicas que impressionaram a todos. Mais exatamente, nos referimos a 2005 e há alguns meses quando foram liberados embriões congelados para presumíveis fins terapêuticos. As comemorações dos "vencedores" nada ficaram devendo aos espetáculos da abertura dos jogos olímpicos de Pequim. Com promessas mirabolantes de curas espetaculares de muitos males, houve quem anunciasse a vitória final sobre o que denominaram de "mentalidade obscurantista" e "o início de uma nova era para a humanidade".
Sabidamente o Supremo Tribunal Federal (STF) ficou dentro de sua competência: com a pequena margem de um voto apenas julgou que, de um ponto de vista estritamente legal, não se encontravam diante de uma proposta que em si mesma estaria violando a Constituição.Portanto, a rigor, os Ministros não manifestaram, nem poderiam manifestar, seu parecer pessoal sobre a expectativa de êxitos ou não das tão propaladas experiências com embriões. Mas, com certeza, todos eles, como todas as pessoas de bom senso, esperavam que os organismos competentes passassem a tomar, de imediato, certas providências de cunho ético.
A primeira providência seria a de se ter uma noção mais exata do número de embriões congelados, e dos laboratórios que estariam em condições de fazer tais experiências. A segunda providência seria a de urgir que os órgãos competentes passassem a acompanhar de perto o que passaria a acontecer em tais laboratórios. A terceira, que de fato as experiências só versassem sobre os embriões já congelados e que, portanto, não haveria lugar para novos congelamentos. Até agora não se tem notícias de que algo tenha sido feito em nenhum destes sentidos. Infelizmente outras preocupações e outros projetos parecem bloquear as preocupações éticas mais fundamentais.
Ao lado deste silêncio há outros silêncios também muito estranhos. Antes das referidas votações, era noticiada alguma nova e sensacional descoberta que garantia o êxito das pesquisas com embriões. Agora a era das descobertas parece haver acabado... Da mesma forma, algumas vedetes que com frequência ocupavam os mais poderosos meios de comunicação social para animar a "campanha" agora se retiraram para trás do palco.
Antes prometiam resultados imediatos. Logo depois passaram a falar em 5 a 10 anos... Os mais precavidos apontam para mais longe ainda. Agora o silêncio é total. Daí uma pergunta inquietante: por que este silêncio?
Como nos encontramos em tempos de Olimpiadas, convém relembrar uma investida que os vencedores faziam contra os atletas da ilha de Rodes, que se julgavam os melhores, mas que sempre fracassavam: Vamos lá... já é tempo de vocês mostrarem aqui e agora aquilo que diziam conseguir lá em Rodes...

Dr. Frei Antônio Moser
Assessor da CNBB para assuntos de bioética

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