A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada publicou na manhã, de ontem, 28, um comunicado intitulado "O serviço da autoridade e a obediência", instrução que está sendo apresentada no âmbito da assembléia dos Superiores e Superioras gerais em andamento no Salesianum de Roma.O documento é dirigido principalmente aos membros de Institutos religiosos (ordens e congregações), mas também pode ser acolhido por membros das Sociedades de vida apostólica e pessoas consagradas. O texto de 50 páginas aborda o tema da obediência religiosa, cuja raiz é vista na procura de Deus e de sua vontade, assumida pelos fiéis. "A obediência cristã e religiosa não se configura simplesmente no cumprimento de leis ou disposições eclesiásticas ou religiosas, mas no momento de um percurso de busca de Deus, que passa através da escuta de sua Palavra, na conscientização sobre seu desígnio de amor, na experiência fundamental de Cristo, obediente por amor até a morte de Cruz", esclarece a Congregação. A autoridade na vida religiosa deve ser interpretada neste contexto como ajuda à comunidade para buscar e realizar a vontade de Deus. A obediência não se justifica a partir da autoridade religiosa, porque todos na comunidade, e principalmente a autoridade, são chamados a obedecer. Assim, a Instrução enquadra a autoridade no âmbito do compromisso grande e comum da obediência. E se conclui enfrentando o delicado tema das 'obediências difíceis': isto é, quando religiosos ou religiosas têm dificuldade em cumprir o que lhes é pedido, ou quando quem deve obedecer alega ver "coisas melhores e mais úteis à sua alma do que aquelas que o superior lhe ordena", para usar as palavras de São Francisco, citadas na Instrução. O documento acena também à possibilidade da "objeção de consciência", o direito de quem obedece. Enfim, enfrentando os aspectos mais problemáticos da questão da obediência, a Instrução recorda antes de tudo que a obediência na vida religiosa pode gerar momentos difíceis e situações de sofrimento. Mas as dificuldades não residem somente em quem deve obedecer... a autoridade também pode passar por momentos de desanimo e fadiga, que podem levar a atitudes de renúncia ou omissão no exercício da orientação e animação da comunidade.
Tudo isso, explica o documento, pode ser bem entendido com uma sábia leitura de fé sobre a prática da obediência e do exercício da autoridade, apresentado como a “mediação humana” da vontade de Deus. Isto, porém, não significa que a vontade superior coincida perfeita e automaticamente com a vontade de Deus: é um instrumento, caracterizado, como toda realidade humana, por limites e erros. Por um lado, o documento contém uma serena e motivada exortação à obediência, e por outro, oferece um amplo e articulado conjunto de indicações para o exercício da autoridade. Trata por exemplo, do convite à escuta, ao diálogo, à compartilha, à co-responsabilidade, a criar comunhão apesar da diversidades, a tratar as pessoas com misericórdia. Também são indicadas as prioridades no exercício da autoridade: a atenção à vida espiritual da comunidade e dos fiéis; a garantia da qualidade e de horários dedicados à oração, a promoção da dignidade da pessoa, e ainda o acompanhamento no caminho da formação permanente, entre outras. As comunidades religiosas merecem destaque especial no documento: diante da excessiva acentuação do espírito comunitário, presente em algumas ordens, precisa-se que "o discernimento comunitário não substitui a natureza e a função da autoridade, a quem cabe sempre a decisão final". Com efeito, não se pode esquecer que a mais alta autoridade no âmbito dos Institutos religiosos é o próprio capítulo geral, órgão de caráter colegial. Recordando-se sempre que tanto a obediência como a autoridade têm uma relação peculiar com Jesus, Senhor e Servo de todos.
Rádio Vaticano
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