A celebração do 1º de Maio nos convida a parar e pensar no significado e no imenso valor do trabalho das mulheres e dos homens do Brasil.
Pouco se reflete sobre o sentido do trabalho. Fala-se muito no crescimento da renda, nos investimentos financeiros e produtivos, no poder de consumo dos pobres emergentes e beneficiários do programas sociais do governo. Sabe-se, porém, que em meio a tudo isso cresce o drama de jovens e adultos sem emprego ou vivendo no subemprego.
O trabalho é, antes de tudo, um mecanismo de partilha. Através dele o ser humano burila os produtos e forças da natureza para colocá-los a seu serviço. Para nós cristãos, trabalhar é participar da obra criadora de Deus. Ao colocar mãos à obra, o ser humano cria, não do nada como Deus fez, mas a partir da obra do Criador.
E Deus, ao criar o mundo, não o fez para si, mas para a humanidade, quase a nos indicar a sociabilidade do trabalho. Tanto o cansaço da obra como os seus resultados devem ser compartilhados.
O modelo econômico e financeiro hegemônico, concentrador de riqueza, adotado sem restrições e voltado exclusivamente para o consumo, pode nos iludir e fazer esquecer os ideais de partilha, de pôr em comum os bens, de implantar a paz, superando as raízes da violência e da injustiça.
Seguidores e anunciadores de Jesus de Nazaré, nascido de Maria, e sob a proteção do operário São José, reafirmamos nosso compromisso em acreditar e propor uma sociedade diferente para o Brasil: acesso democrático à terra e trabalho para todos, água e alimento distribuídos com equidade, proteção à natureza, respeito às nações indígenas e quilombolas.
Neste 1º de Maio, saudamos as trabalhadoras e trabalhadores do Brasil, suas organizações sindicais e movimentos sociais, ao mesmo tempo em que manifestamos nosso apoio à Campanha pela redução da jornada de trabalho constitucional para 40 horas semanais sem diminuição dos salários. Reafirmamos também nossa união a todas as pessoas comprometidas na imensa tarefa de construir um país diferente, onde trabalho e dignidade cidadã caminhem de mãos dadas na superação dos conflitos e das causas das desigualdades entre as quais, primordialmente, o desemprego.
Brasília, 1º de maio de 2008.
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana – MG
Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro – RJ
Secretário-Geral da CNBB
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