Celebramos hoje a memória litúrgica de Santo Estanislau, Bispo e Mártir polonês. O grande bispo de Cracóvia, ao longo de sua vida apostólica, teve duas grandes predileções: os pobres e os sacerdotes de sua diocese. Intrépido defensor da liberdade da Igreja e da dignidade da pessoa humana, denunciou firmemente a crueldade do rei Boleslau II, e por isso foi martirizado, enquanto celebrava a santa missa.
Na primeira leitura ouvimos o sempre comovente relato da conversão de Paulo. A bela narração se constrói em torno de dois pólos: o diálogo da aparição e a missão confiada àquele que de perseguidor dos cristãos se torna “um instrumento escolhido para levar o nome de Jesus aos pagãos, aos reis e ao povo de Israel” (cf. At 9,15).
No caminho de Damasco, Saulo reconhece Jesus de Nazaré e descobre a identidade entre Jesus que agora encontrou e os cristãos que tanto havia perseguido. Revela-se a Paulo o mistério de Cristo Cabeça e seu corpo que é a Igreja. Esse duplo reconhecimento é que vai motivar Paulo para a urgência da missão: “Depois de passar alguns dias com os discípulos em Damasco, ele logo começou a pregar nas sinagogas, afirmando que Jesus é Filho de Deus” (At 9,19-20).
A narração da conversão de Saulo traz consigo a apresentação de sua vocação apostólica. Como os demais Apóstolos também Paulo viu o Ressuscitado e foi por ele enviado a pregar. Entretanto, de acordo com a narração de Lucas, o chamado que Cristo dirigiu a Saulo deveria ser ratificado pela Igreja. Cristo manda Paulo à Igreja que, por Ananias, o batiza e lhe abre os olhos (cf. At 9 18).
A experiência do encontro pessoal com o Ressuscitado transformou Saulo em discípulo e missionário de Jesus Cristo. Essa verdade logo nos remete à Conferência de Aparecida, cujo Documento final buscamos traduzir em nossas Diretrizes Gerais da ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, que aprovamos nesta 46a. Assembléia Geral da CNBB. “O acontecimento de Cristo é, portanto, o início desse sujeito novo que surge na história e a quem chamamos discípulo: Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva. Isso é justamente o que, com apresentações diferentes, todos os evangelhos nos conservaram como sendo o início do cristianismo: um encontro de fé com a pessoa de Jesus (cf. Jo 1,3-39). A própria natureza do cristianismo consiste em reconhecer a presença de Jesus Cristo e seguí-lo. Essa foi a maravilhosa experiência daqueles primeiros discípulos que, encontrado Jesus, ficaram fascinados e cheios de assombro frente à excepcionalidade de quem lhes falava, diante da maneira como os tratava, coincidindo com a fome e sede de vida que havia em seus corações”[1].
O trecho do discurso sobre o Pão da Vida, do evangelho de João que nos foi proclamado, coloca no centro a solene afirmação de Jesus: “Minha carne é verdadeira comida e meu sangue, verdadeira bebida” (Jo 6, 55). Logo em seguida, o evangelista aponta para os efeitos da Eucaristia. A doação da carne de Cristo gera vida e ressurreição: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 54). A categoria de vida é muito própria do evangelho de João. Disse Jesus: “Eu sou a vida”. Comer o pão da vida é inserir-se na vida do Ressuscitado e entrar em sua dinâmica escatológica.
“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6, 56). Outro termo típico de João é “permanência” que aqui aparece como outro efeito sacramental da eucaristia. O Filho permanece no Pai e o Pai permanece no Filho. A união com Cristo é comparada aos ramos que permanecem na videira e têm vida (cf. Jo 15). A mesma realidade aplica-se à eucaristia: “quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6, 56).
Os efeitos da eucaristia chegam à sua mais densa expressão na comparação que faz Jesus de sua relação com o Pai e que se estabelece entre o próprio Cristo e aquele se une a ele pela eucaristia: “Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por causa do Pai, assim o que me come viverá por causa de mim” (Jo 6,57)[2].
O que Jesus havia prometido e prefigurado no sinal da multiplicação dos pães, cumpre-se plenamente na Eucaristia, onde Jesus se entrega por nós ao Pai no Sacrifício e a nós como alimento na Comunhão. O pão dado por Jesus é infinitamente superior ao maná que o prefigurou: “Esse é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que vossos pais comeram. Eles morreram. Aquele que come deste pão viverá para sempre” (Jo 6,58).
* Homilia de D. Geraldo Lyrio Rocha, na conclusão da 46a. Assembléia Geral da CNBB, em Itaici, no dia 11 de abril de 2008.
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