quinta-feira, 24 de abril de 2008

CÂMARA DOS DEPUTADOS DEBATE SITUAÇÃO DOS BIPOS DA REGIÃO NORTE AMEAÇADOS DE MORTE

A Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Desenvolvimento Regional da Câmara dos Deputados promove audiência pública para debater a situação dos bispos ameaçados de morte no Pará.
Da audiência, prevista para acontecer no dia 6 de maio, participarão os três bispos ameaçados: do Xingu, dom Erwin Kräutler; de Abaetetuba, dom Flávio Giovenale e de Marajó, dom Luiz Azcona.
Segundo o assessor de imprensa da Comissão, Sizan Esberci, também serão ouvidos os secretários estaduais de segurança do Amapá, Pará e Roraima e o diretor-geral da Polícia Federal.
Solidariedade
“Estou livre no meu quarto e no meu escritório. Fora, sou sempre acompanhado por policiais”, disse dom Erwin sobre a proteção recebida há quase um ano, durante entrevista coletiva na 46ª Assembléia Geral da CNBB, realizada em Indaiatuba (SP), de 2 a 11 de maio.
A gravidade do problema levou a Presidência da CNBB, com o apoio dos mais de trezentos bispos do Brasil reunidos na Assembléia, a lançar uma nota de solidariedade aos bispos, religiosos e leigos ameaçados de morte na região Norte. Na nota, os bispos exigem das autoridades competentes “investigações sérias e proteção para os ameaçados”.
Os três bispos são perseguidos devido à atuação junto as comunidades indígenas e junto a mulheres, crianças e adolescentes vítimas do tráfico de seres humanos, da exploração sexual e do tráfico de drogas, bem como pelas denúncias de grilagem de terras, derrubada ilegal e tráfico de madeira.
Segue, na íntegra, a manifestação da CNBB sobre o assunto:

NOTA DE SOLIDARIEDADE


Nós Bispos, juntamente com os Organismos, assessores e colaboradores da Igreja no Brasil, reunidos na 46ª Assembléia Geral da CNBB, em Itaici, Indaiatuba (SP), vimos nos solidarizar com os Bispos que, atualmente, por causa do Evangelho, sofrem perseguição e até ameaças de morte: Dom Erwin Krautler, da Prelazia do Xingu, Dom José Luiz Azcona Hermoso, da Prelazia do Marajó, e Dom Flávio Giovenale Diocese de Abaetetuba. Qualquer agressão a eles atinge a todos nós, seus irmãos no ministério episcopal, e ao povo a quem servem com destemido zelo e corajosa profecia. (cf. Jr 18,18-23).
Em Cristo somos um só com eles e com as pessoas que eles defendem: os povos indígenas; as mulheres, crianças e adolescentes que o tráfico de seres humanos instrumentaliza, que a exploração sexual vende e as drogas matam. Apoiamos também seu empenho na defesa do meio ambiente que a ganância devasta com nefastas conseqüências para a vida humana. Suas lutas são, portanto, as nossas lutas, seus sofrimentos são os nossos sofrimentos. O martírio deles seria “crucificar novamente o Filho de Deus” (Hb 6,6). Seria injusta qualquer agressão a estes agentes. Sabemos também porque são perseguidos: “O servo não é maior que seu senhor. Se me perseguiram, vos perseguirão”. (Jo 15,20)
Somos solidários igualmente às demais lideranças: Bispos, padres, pessoas consagradas, leigos que trabalham pelos mesmos ideais de vida e de justiça em todo o Brasil onde os direitos humanos são constantemente aviltados e, por isso também sofrem ameaças. Com eles, acreditamos que “o fruto da justiça será a paz e a prática da justiça resultará em tranqüilidade e segurança duradouras” (Is 32, 17). Com eles rezamos: “liberta-me, Senhor! Defende-me pela tua justiça. Atende-me e salva-me!” (Sl 71, 2).
Orgulhamo-nos desses irmãos e irmãs! A perseguição de que são vítimas, por um lado, comprova a autêntica ação evangélica da Igreja no Brasil. Por outro lado, expõe também a perversidade que se introduziu em nossa sociedade cuja história é vergonhosamente manchada de sangue de inocentes que tombaram por causa de seu trabalho na defesa dos injustiçados, oprimidos e excluídos. Diante disso, manifestamos nossa indignação!
Conclamamos todos os cristãos e todas as pessoas que lutam pela justiça e pela paz a não se acomodarem, e não deixar a consciência adormecer: “A verdade e a justiça estão acima da minha comodidade e saúde física – pois, se o meu bem-estar é mais importante do que a verdade e a justiça, vigoram a lei do mais forte, a violência e a mentira”. (cf. Bento XVI, Spe Salvi, 38). Todos somos responsáveis pela construção de um país justo em que as leis sejam respeitadas e garantido o direito de todos a uma vida digna. A justiça e não a violência é que constrói a paz.
Exigimos das autoridades competentes investigações sérias e proteção para os ameaçados. Sua vida é preciosa para o povo que defendem e para nós que lhes somos solidários. Basta de violência!
Que Cristo, o vencedor de todas as formas de morte, nos faça dignos d’Ele!

Itaici, Indaiatuba-SP, 10 de abril de 2008

CNBB

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