Dom José Alberto Mouras*
Hoje se fala muito de ética como regra de convivência para a boa condução da ordem social ou de um grupo de pessoas. Nessa perspectiva, na ordem pessoal, basta não se lesar o semelhante, não se contrariando essa convenção. Assim, não tem importância qualquer ação subjetiva de interesse privado. É verdade: cada um faz a escolha de comportamento e endereçamento de vida dentro da própria convicção. Mas aí não se vê mal ou pecado em circunstância praticamente nenhuma, quando se busca a própria satisfação. É comum dizer-se: "Tenho o direito de ser feliz. O que é que tem eu fazer isso ou aquilo? Ninguém tem nada a ver com isso"! Há muitos programas televisivos e até entrevistas ou escritos estimulando tais idéias.
Tudo o que Deus criou é bom: os prazeres, as coisas materiais, os talentos e possibilidades das pessoas. Todos temos o direito de sermos felizes. Nascemos para a felicidade. Nem sempre, porém, o mais cômodo no momento e os prazeres buscados conforme os impulsos sensoriais levam-nos a conquistar realmente a felicidade duradoura. Tudo nos é permitido. Nem sempre tudo nos convém, em vista de um ideal maior. A ética, baseada não só na convenção humana, mas nos valores inerentes ao ser humano e os revelados pelo Criador, leva-nos a buscar o ideal maior de vida. Jesus dá sobejamente exemplo e ensinamento sobre isso. O caminho da conquista da vida plena requer valorização da dignidade da vida, da pessoa humana, da família, do sexo e de tudo o que Deus nos coloca para sabermos usar devidamente. Caso contrário, somos levados a viver como animais irracionais.
O mal existente se dá na ordem subjetiva de não se viver e conviver no respeito ao sermos imagens e semelhanças de Deus. Temos valores individuais, coletivos e relativos à natureza. A harmonização de tudo requer percepção de seu encaminhamento para se avaliar e respeitar sua finalidade. Na ordem pessoal, temos o caráter. Se bem formado, ele nos levará à prática de virtudes morais, capazes de nos fazer superar o mal e viver as virtudes como a bondade, a justiça, a misericórdia, a honestidade, a castidade, a solidariedade, a compaixão e a oblatividade. Na ordem social, somos capazes, com o exercício das virtudes pessoais, de erradicar o pecado que causa a morte das pessoas, de seus ideais, das injustiças sociais, do mau uso da autoridade, do desrespeito ao meio ambiente, de tudo o que acumula riquezas pessoais e grupais, em detrimento dos excluídos socialmente...
Deus nos quer felizes, mas com felicidade duradoura. Isso, porém, custa. É conquista. Não é baseado no puramente prazeroso imediata e sensorialmente. O prazer fecundo é buscado no ideal de vida maior, conquistado na árdua luta para realizarmos o bem moral mais elevado. A vida de sentido não está na restrição e proibição do que é gostoso. Está sim na busca do grande tesouro que realmente nos faz ricos, conforme a comparação feita por Jesus, embora tenhamos que renunciar até o que no momento é atraente mas não nos leva à conquista do bem maior e duradouro.
* Dom José Alberto Moura, 64, é arcebispo de Montes Claros (MG) e presidente da Comissão Episcopal para o Diálogo Ecumênico e Inter-Religioso da CNBB
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