Dom Orlando Brandes*
Compaixão não é um sentimento de pena, dó, afeição emocional. É um estado mental da consciência e compreensão de que os outros têm direito de serem feliz. Pela compaixão sentimos satisfação pelo bem-estar dos outros e passamos a viver o altruísmo. O outro é o centro. É a compaixão que nos leva à generosidade e à capacidade de empatia e de consideração pelo bem-estar dos outros com o propósito de não prejudicar, não agredir.
É a compaixão que nos faz agir com gentileza e afeto humanos. Da compaixão brota o espírito de reconciliação que é o respeito pelos direitos e opiniões alheias. Compaixão é um sentimento e uma atitude que encerra compreensão e ternura. Compreendemos as pessoas que erram, porque elas também são feridas desde longa data, são pessoas machucadas, condicionadas pelo seu passado. Erram sem opção, agem emocionalmente, sentem-se impotentes diante de tantos condicionamentos. A compaixão é capaz de compreender as circunstâncias do agir alheio errado, e não se deixar condicionar só pela ofensa recebida. A compaixão leva em conta a fraqueza do agressor, a causalidade de sua situação, a fraqueza inerente a cada pessoa humana. Compaixão é compreensão.
A ética da compaixão não se rege pela aparência das pessoas. Não olha o rosto, mas o coração, não olha a ofensa, mas as raízes e causas que levam as pessoas a ofender seu semelhante. Daí que a compaixão nos faz próximos dos outros, atentos a seus interesses, prontos a perdoar e tolerar, sempre levando em consideração o bem-estar e a felicidade dos outros. A compaixão nos dá um coração de mãe, atitude de respeito e empatia pelo próximo, como também sabe ter paciência e tolerância.
Para alcançarmos a compaixão precisamos de muita espiritualidade e forte disciplina interior, muita coragem. Mas este é o endereço da felicidade e o caminho da paz interior. Um dos primeiros sinais da compaixão é a paciência, a serenidade diante das adversidades e humilhações. Quanto menos alguém se preocupa consigo mesmo, sofre menos e terá mais paz interior. A compaixão supõe a humildade, que é a consciência do nosso húmus, nosso barro e ao mesmo tempo a satisfação pelo bem dos outros, a alegria pelo sucesso alheio, até de nossos inimigos. Humildade é o esvaziamento de si que não é autodesvalorização, mas aceitação do nosso lado fraco, de nossas sombras e feridas.
É a compaixão que nos confere felicidade, paz interior, realização pessoal e sentido da vida. Quanto mais compaixão, menos sofrimento e mais vida. Enfim, a compaixão é a suprema emoção, é a bem-aventurança, a bênção que faz a vida bela e digna de ser vivida. Por força da compaixão nossa opção pelos pobres é duradoura, intrépida e prazerosa.
* Dom Orlando Brandes é arcebispo de Londrina e presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB
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