quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

PERSPECTIVAS PARA 2008

Dom Dimas Lara Barbosa*

Em 2007 A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) cumpriu denso programa de ação, distribuído em 16 comissões de trabalho e dezenas de organizações.
Além do serviço religioso a milhares de comunidades católicas, a CNBB atuou em importantes frentes de interesse: educação, saúde, migração, ecologia e promoção humana. Tais atuações não se esquivaram às polêmicas e contingências da conjuntura nacional, solicitando do episcopado um diálogo franco com o governo e os setores organizados da sociedade. Assim a CNBB entende traduzir o Evangelho em projetos responsáveis a serviço do bem comum, da justiça e da paz, "para que todos tenham vida" (Jo 10,10). As ações cobrem todo o Brasil, coordenadas pelas pastorais específicas e outros organismos vinculados à CNBB, como Caritas, Pastoral da Criança, Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Movimento de Educação de Base, Mutirão de Superação da Miséria e da Fome, e outros. Muito significativa, nesse sentido, foi a Campanha da Fraternidade 2007, que abordou a temática "Amazônia - vida e missão neste chão".
Durante o mês de maio, recebemos a visita de Bento 16. Além de se encontrar com a juventude, canonizar frei Galvão, visitar a Fazenda da Esperança e dialogar com o governo brasileiro, o papa abriu a 5ª Conferência Geral dos Bispos da América Latina e Caribe (Aparecida, 13/5/ 2007), cujo lema, discutido durante 18 dias, foi "Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que Nele nossos povos tenham vida". A 5ª Conferência insistiu no itinerário de formação do discípulo missionário, que se torna tal a partir de um encontro pessoal com o Senhor da Vida. A missão do discípulo é muito ampla, devendo repercutir na própria transformação da sociedade e das culturas à luz dos valores evangélicos.
A preocupação com o meio ambiente estendeu-se à agenda ecumênica. CNBB e Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs) lideraram um debate sobre recursos hídricos que repercutiu no exterior, com a assinatura de uma "Declaração Ecumênica sobre a Água como Direito Humano e Bem Público", com a adesão da Conferência Episcopal da Bélgica, que vem se somar à Conferência dos Bispos da Suíça (SBK) e à Confederação Suíça de Igrejas Evangélicas, já signatárias da mesma declaração. Na ocasião, em Genebra, na sede do Conselho Mundial de Igrejas, foram feitos contatos com cientistas suíços, para a criação de uma Academia Internacional das Águas, com sede no Brasil.
A CNBB também tem participado dos debates sobre a legalização do aborto, eutanásia, utilização de embriões em pesquisas científicas e outros temas que envolvem a sacralidade da vida e a dignidade da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus. A complexidade desses temas inclui aspectos sanitários, éticos, culturais, econômicos, políticos e religiosos. A CNBB insiste no debate a respeito, do qual quer participar como voz cidadã.
Em parceria com a Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro, o Ministério das Cidades, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a CNBB lançou uma campanha para difundir os "Dez Mandamentos do Trânsito Seguro", com a distribuição de 10 milhões de cartilhas com orientações aos motoristas.
Em nível internacional, a CNBB e a Caritas Brasileira realizaram campanha emergencial de ajuda ao Peru e continuam realizando outra de ajuda a Bangladesh, ambos atingidos por catástrofes naturais. Entre setembro e outubro passados, pela ação direta da Caritas e com o apoio da Pastoral da Mobilidade Humana, participou da acolhida e integração de 117 refugiados palestinos no Brasil, vindos do campo de refugiados de Ruweished (Jordânia), sob a coordenação do Comitê Nacional para Refugiados (Conare) e Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
Pontos altos na vida da Igreja no Brasil foram, sem dúvida, as cerimônias de beatificação de Albertina Berkenbrock, em Tubarão (SC); do padre Manuel Gómez González e seu coroinha Adílio Daronch, em Frederico Westphalen (RS); e da irmã Lindalva Justo de Oliveira, em Salvador (BA).
Em 2008 o programa de ação prosseguirá, articulando sujeitos, instâncias e parcerias da CNBB à luz das novas diretrizes da ação evangelizadora. Merece destaque a Campanha da Fraternidade 2008, a ser desenvolvida durante a Quaresma, em defesa da vida humana desde a concepção até seu declínio natural. Quanto às próximas eleições, a CNBB cumprirá seu papel cidadão de subsidiar a reflexão dos eleitores católicos e incrementar a campanha pela ética na política -em consonância com a Lei 9.840, de combate à corrupção eleitoral.
Por fim, a CNBB se propõe organizar, juntamente com as demais Conferências da América Latina, uma "missão continental", que envolva comunidades e organizações católicas, como sugeriu a Conferência de Aparecida, promovendo um despertar que coloque clero e leigos em "estado de missão". O propósito é que a evangelização incida mais eficazmente na consciência e na vida das pessoas e sua atuação na sociedade.
Que o Espírito do Senhor nos ilumine em todos esses projetos. E que Maria, a estrela da Evangelização, nos acompanhe nesta caminhada.
* Artigo publicado na Folha de S.Paulo em 1.1.08 - Dom Dimas Lara Barbosa é bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário geral da CNBB.

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