O secretário geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, reuniu-se na noite desta terça-feira, 18, durante mais de duas horas, com o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e com o membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Roberto Malvezzi, representante de dom Luiz Cappio, para discutir a transposição do Rio São Francisco e a suspensão do jejum do religioso que, há 22 dias, protesta contra o projeto do Governo, em Sobradinho (BA). Participaram da reunião, também, dois representantes da Agência Nacional de Águas, três do Ministério da Integração Nacional e representantes da Caritas Brasileira, Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), organismos ligados à CNBB, além de três assessores da CNBB.
Durante a reunião, Malvezzi, também conhecido como Gogó, apresentou uma contra proposta “de dom Luiz Cappio e dos Movimentos Sociais”, “face à proposta feita pelo Governo Federal para a suspensão do jejum de dom Cappio” e para “alimentar o diálogo e o entendimento”.
Das oito reivindicações contidas na contra-proposta, só não houve consenso nas duas primeiras que exigem a manutenção da suspensão das obras de transposição e a construção de uma “adução de 9m3/s de água para as áreas de maior déficit hídrico dos Estados de Pernambuco e da Paraíba, redimensionando o projeto atual de 28m3/s”.
Uma nova proposta surgida durante a reunião sugere a suspensão das obras pelo prazo de 60 dias e a realização, nesse período, de debate público sobre o projeto do Governo e as alternativas apresentadas pelo Atlas Nordeste, elaborado pela Agência Nacional de Águas. Esta proposta será levada ao presidente Lula e a dom Cappio por seus respectivos representantes. Uma segunda reunião deve acontecer na tarde de hoje para conhecimento da resposta de ambos.
Após a reunião, dom Dimas, Gilberto Carvalho e Malvezzi atenderam à imprensa. Abrindo a coletiva, dom Dimas recordou que Igreja defende o uso da água, em primeiro lugar, para o consumo humano e o uso de animais. Ele admitiu que a reunião não foi conclusiva. “Os membros do governo terão oportunidade de voltar e debruçar sobre as propostas e depois continuaremos nosso debate”, informou.
A seguir, a íntegra da coletiva.
1. Que avanços a reunião trouxe?
Malvezzi - Seis pontos da pauta que apresentamos são perfeitamente discutíveis. As divergências são mais de operacionalidade. O que não conseguimos acordar, nesse momento, mas que ficamos de conversar amanhã (hoje), são dois pontos: a suspensão das obras e a substituição do eixo Leste por uma adutora. Nisso ainda não há consenso e precisamos conversar mais. Mas há um consenso entre nós: todos queremos o dom Luiz vivo.
Gilberto - A reunião de hoje é uma espécie de instalação de uma assembléia permanente. Ao longo do dia teremos contatos amanhã (hoje) porque naturalmente são necessárias consultas de parte a parte sobre os pontos divergentes. Penso que foi um bom começo. Dos oito pontos, vimos que seis são contribuições importantes e que o Governo pode absorver; há compromissos que podemos assumir. Não há nenhum problema de participação da sociedade na continuação da política do semi-árido.
Com relação aos dois primeiros pontos, há divergências e nós continuaremos debatendo. O Governo apresentou a posição que se considera com legitimidade para realizar a obra, tendo realizado os debates que realizou. Portanto, tende a continuar a obra e, como já teria dito o presidente Lula, não interrompê-la. Por outro lado, há uma ponderação por parte do Roberto, representante do dom Luiz, que seria importante uma paralisação por um tempo e a abertura de um debate por dois meses para que se desse a dom Luiz a oportunidade de paralisar sua greve de fome. Concordo inteiramente com o Roberto que o ponto fundamental para nós é que o dom Luiz possa continuar vivo. No sábado, eu disse a dom Luiz: ‘dom Luiz, sua vida é muito importante até para continuar mobilizando contra o Governo’. Então, seguiremos amanhã (hoje) nesse esforço, fazendo as consultas de ambos os lados e esperamos chegar a um objetivo. Além dos seis pontos, há um consenso de que dom Luiz possa deixar com dignidade o jejum.
2. Sobre a proposta de suspensão da obra por dois meses que não consta na pauta apresentada...
Malvezzi - Caminhamos para uma situação de afunilamento que, nós que trabalhamos no Nordeste, no São Francisco, não queremos para a pessoa de dom Luiz. E o Governo também não quer. Isso passa também pela decisão amanhã (hoje) da Justiça e essas coisas podem influenciar. Mas vamos tentar achar um caminho amanhã (hoje) para que ele possa sentir que vale a pena parar.
3. É possível uma conversa do Governo, CNBB, amigos, familiares com dom Cappio pedindo-lhe que suspenda o jejum?
Malvezzi - Dom Luiz é traquejado em jejum. Não é que fez um ou dois jejuns públicos. Ele tem uma experiência acumulada. Há uma ermida na Chapada de Diamantina onde ele tem costume de fazer jejum em particular. Agora, no 22º dia ele ficou mais frágil. As comunidades já mandaram carta para ele (pedindo que suspenda o jejum) porque gostam dele e querem o trabalho dele, mas que ele não vá até o fim. O próprio Vaticano solicitou, os bispos também e as pessoas que comungam com a causa. Temos essa opinião, mas respeitamos a opinião dele. Ele não aceita interferência em sua decisão.
4. Quanto tempo ele ainda agüentaria?
Malvezzi - O frei Klaus, que é médico e acompanha pessoas em longo jejum, diz que uma pessoa pode agüentar muito tempo, mas depende da idade, da saúde e de vários fatores que podem influenciar. Até o 20o dia dom Luiz estava muito bem. Agora, sentimos que ele está mais frágil, embora o médico diga que as funções vitais estão todas normais. Mas ele está mais esgotado e precisa de repouso mais completo.
Gilberto - Com a vida humana não se brinca, não se pode fazer cálculo. Tanto a Igreja tem o princípio de defesa da vida, quanto o Estado tem o dever de zelar pela vida do cidadão. Por isso abrimos diálogo e dissemos que esses seis pontos não são simples e exigem uma ação do Governo, mudança de orçamento, mas estamos dispostos a flexibilizar, fazendo esse apelo para que dom Luiz visse nisso já uma vitória importante de sua mobilização e que continuasse seu protesto de outra forma e não arriscasse sua vida. Temos pressa nisso porque uma pessoa nessa idade pode ser tomada de algum outro tipo de oscilação. Por isso é que viemos à CNBB.
5. Qual o ponto que o Governo não admite conversar?
Gilberto - O único ponto efetivo é esse da paralisação das obras.
6. Nem só por dois meses para conversar?
Gilberto - Por isso é que eu digo que essa conversa não é definitiva. O Governo não considera nada definitivo. O Governo trouxe uma posição para o diálogo. Temos uma responsabilidade com o Estado. O presidente Lula sempre tem dito: ‘eu não posso ficar parando obras pelo protesto dessa ou daquela pessoa; desse ou daquele grupo, por mais importantes que sejam’. Há uma legitimidade do Governo, uma lei estabelecida. O ponto de partida é esse de não paralisar a obra. Agora, houve um diálogo que vai ser retomado amanhã (hoje). Por isso é que essa conversa não é de maneira alguma conclusiva e definitiva.
7. A proposta de dois meses partiu do bispo?
Gilberto - Na verdade ela surgiu na mesa, por isso é preciso fazer consulta de um lado e de outro.
8. Pode-se dizer que isso será encaminhado amanhã (hoje) e que as obras serão paralisadas por dois meses para discussão?
Malvezzi - A gente se compromete a buscar uma saída, porque a questão da vida de dom Cappio interessa a todos nós. Não é bom para ninguém acontecer o pior. Quando o Governo faz observação das perdas econômicas, nós fazemos observações de outros danos como os sociais.
Dom Dimas - Uma coisa importante a dizer e que é consenso entre nós é que, independente da decisão do Supremo amanhã (hoje), esse diálogo vai continuar. Quem tiver a vitória não vai obrigar o outro a mudar de posicionamento. Todos concordamos que essa mobilização conseguida por dom Luiz fez com que nossa consciência crescesse. Tanto a parte do Governo quanto a parte dos próprios movimentos envolvidos concordam que esses pontos de consenso podem ser implementados, inclusive com um debate em rede a ser encabeçada pela própria TV pública e com a participação das outras TVs que quiserem.
9. Se o Supremo cassar a liminar que suspende as obras, o Governo vai retomá-las antes do desfecho dessa conversa com o bispo?
Gilberto - A princípio já foi noticiado que, mesmo se o Supremo autorizar a continuidade das obras, elas serão retomadas só no dia 7 de janeiro. É um recesso que o exército faria. Sustentamos, até agora, essa posição sem que prejudique que analisemos a proposta levantada nessa noite. É importante a decisão do Supremo amanhã (hoje), mas ela não interfere sob o ponto de vista da ética de nosso debate que precisa continuar.
10. O acordo vai girar em torno dessa proposta de dois meses?
Gilberto - Tanto eu quanto o Roberto temos dificuldade de responder a essa pergunta porque estamos no meio de uma conversa. Resolvemos parar porque vocês (os jornalistas) estavam cansados aqui e nós também. Vamos retomar amanhã (hoje) e ainda é muito cedo para dizer que vai ser isso ou aquilo. Essa possibilidade de uma paralisação temporária de um lado e de outro é que vamos discutir.
Dom Dimas - Vamos notificar dom Luiz e os outros que estão com ele sobre o que aconteceu aqui. Em última análise a decisão vai ser dele.
11. Isso evitaria um desgaste dos dois lados...
Malvezzi - Não diria um desgaste porque a questão chave é a vida dele. Não vejo problema a gente poder concordar em seis ou sete pontos e manter divergência em um e continuar debatendo na sociedade por outros caminhos que a gente acha melhor. Essa é uma questão ética e não é à toa que estamos aqui na CNBB que, na Campanha da Fraternidade sobre a água, defendeu a necessidade de fazer chegar a água chega às populações. Não somos nós que vamos colocar obstáculo àquilo que for nesse sentido. Somos favoráveis ao que está proposto no Atlas Nordeste.
Dom Dimas - Existe uma desinformação muito grande acerca do que está sendo debatido. A grande maioria da população nem sabe porque dom Luiz está em greve. Inclusive existe um mal estar entre as populações dos Estados receptores e a dos Estados doadores porque a notícia mais difusa é, simplesmente, que tem um bispo em greve porque ele não quer dar água para quem está passando sede. Pelo contrário, o que se quer é dar prioridade em todo o semi-árido brasileiro. Recebemos como uma noticia extremamente alvissareira que o Atlas Nordeste vai ser refinado para atingir também os municípios com menos de cinco mil habitantes. O que queremos é justamente levar água para o maior número possível de pessoas, inclusive para as famílias dispersas, a população difusa de todo o semi-árido. Nossa prioridade é o ser humano.
CNBB
Durante a reunião, Malvezzi, também conhecido como Gogó, apresentou uma contra proposta “de dom Luiz Cappio e dos Movimentos Sociais”, “face à proposta feita pelo Governo Federal para a suspensão do jejum de dom Cappio” e para “alimentar o diálogo e o entendimento”.
Das oito reivindicações contidas na contra-proposta, só não houve consenso nas duas primeiras que exigem a manutenção da suspensão das obras de transposição e a construção de uma “adução de 9m3/s de água para as áreas de maior déficit hídrico dos Estados de Pernambuco e da Paraíba, redimensionando o projeto atual de 28m3/s”.
Uma nova proposta surgida durante a reunião sugere a suspensão das obras pelo prazo de 60 dias e a realização, nesse período, de debate público sobre o projeto do Governo e as alternativas apresentadas pelo Atlas Nordeste, elaborado pela Agência Nacional de Águas. Esta proposta será levada ao presidente Lula e a dom Cappio por seus respectivos representantes. Uma segunda reunião deve acontecer na tarde de hoje para conhecimento da resposta de ambos.
Após a reunião, dom Dimas, Gilberto Carvalho e Malvezzi atenderam à imprensa. Abrindo a coletiva, dom Dimas recordou que Igreja defende o uso da água, em primeiro lugar, para o consumo humano e o uso de animais. Ele admitiu que a reunião não foi conclusiva. “Os membros do governo terão oportunidade de voltar e debruçar sobre as propostas e depois continuaremos nosso debate”, informou.
A seguir, a íntegra da coletiva.
1. Que avanços a reunião trouxe?
Malvezzi - Seis pontos da pauta que apresentamos são perfeitamente discutíveis. As divergências são mais de operacionalidade. O que não conseguimos acordar, nesse momento, mas que ficamos de conversar amanhã (hoje), são dois pontos: a suspensão das obras e a substituição do eixo Leste por uma adutora. Nisso ainda não há consenso e precisamos conversar mais. Mas há um consenso entre nós: todos queremos o dom Luiz vivo.
Gilberto - A reunião de hoje é uma espécie de instalação de uma assembléia permanente. Ao longo do dia teremos contatos amanhã (hoje) porque naturalmente são necessárias consultas de parte a parte sobre os pontos divergentes. Penso que foi um bom começo. Dos oito pontos, vimos que seis são contribuições importantes e que o Governo pode absorver; há compromissos que podemos assumir. Não há nenhum problema de participação da sociedade na continuação da política do semi-árido.
Com relação aos dois primeiros pontos, há divergências e nós continuaremos debatendo. O Governo apresentou a posição que se considera com legitimidade para realizar a obra, tendo realizado os debates que realizou. Portanto, tende a continuar a obra e, como já teria dito o presidente Lula, não interrompê-la. Por outro lado, há uma ponderação por parte do Roberto, representante do dom Luiz, que seria importante uma paralisação por um tempo e a abertura de um debate por dois meses para que se desse a dom Luiz a oportunidade de paralisar sua greve de fome. Concordo inteiramente com o Roberto que o ponto fundamental para nós é que o dom Luiz possa continuar vivo. No sábado, eu disse a dom Luiz: ‘dom Luiz, sua vida é muito importante até para continuar mobilizando contra o Governo’. Então, seguiremos amanhã (hoje) nesse esforço, fazendo as consultas de ambos os lados e esperamos chegar a um objetivo. Além dos seis pontos, há um consenso de que dom Luiz possa deixar com dignidade o jejum.
2. Sobre a proposta de suspensão da obra por dois meses que não consta na pauta apresentada...
Malvezzi - Caminhamos para uma situação de afunilamento que, nós que trabalhamos no Nordeste, no São Francisco, não queremos para a pessoa de dom Luiz. E o Governo também não quer. Isso passa também pela decisão amanhã (hoje) da Justiça e essas coisas podem influenciar. Mas vamos tentar achar um caminho amanhã (hoje) para que ele possa sentir que vale a pena parar.
3. É possível uma conversa do Governo, CNBB, amigos, familiares com dom Cappio pedindo-lhe que suspenda o jejum?
Malvezzi - Dom Luiz é traquejado em jejum. Não é que fez um ou dois jejuns públicos. Ele tem uma experiência acumulada. Há uma ermida na Chapada de Diamantina onde ele tem costume de fazer jejum em particular. Agora, no 22º dia ele ficou mais frágil. As comunidades já mandaram carta para ele (pedindo que suspenda o jejum) porque gostam dele e querem o trabalho dele, mas que ele não vá até o fim. O próprio Vaticano solicitou, os bispos também e as pessoas que comungam com a causa. Temos essa opinião, mas respeitamos a opinião dele. Ele não aceita interferência em sua decisão.
4. Quanto tempo ele ainda agüentaria?
Malvezzi - O frei Klaus, que é médico e acompanha pessoas em longo jejum, diz que uma pessoa pode agüentar muito tempo, mas depende da idade, da saúde e de vários fatores que podem influenciar. Até o 20o dia dom Luiz estava muito bem. Agora, sentimos que ele está mais frágil, embora o médico diga que as funções vitais estão todas normais. Mas ele está mais esgotado e precisa de repouso mais completo.
Gilberto - Com a vida humana não se brinca, não se pode fazer cálculo. Tanto a Igreja tem o princípio de defesa da vida, quanto o Estado tem o dever de zelar pela vida do cidadão. Por isso abrimos diálogo e dissemos que esses seis pontos não são simples e exigem uma ação do Governo, mudança de orçamento, mas estamos dispostos a flexibilizar, fazendo esse apelo para que dom Luiz visse nisso já uma vitória importante de sua mobilização e que continuasse seu protesto de outra forma e não arriscasse sua vida. Temos pressa nisso porque uma pessoa nessa idade pode ser tomada de algum outro tipo de oscilação. Por isso é que viemos à CNBB.
5. Qual o ponto que o Governo não admite conversar?
Gilberto - O único ponto efetivo é esse da paralisação das obras.
6. Nem só por dois meses para conversar?
Gilberto - Por isso é que eu digo que essa conversa não é definitiva. O Governo não considera nada definitivo. O Governo trouxe uma posição para o diálogo. Temos uma responsabilidade com o Estado. O presidente Lula sempre tem dito: ‘eu não posso ficar parando obras pelo protesto dessa ou daquela pessoa; desse ou daquele grupo, por mais importantes que sejam’. Há uma legitimidade do Governo, uma lei estabelecida. O ponto de partida é esse de não paralisar a obra. Agora, houve um diálogo que vai ser retomado amanhã (hoje). Por isso é que essa conversa não é de maneira alguma conclusiva e definitiva.
7. A proposta de dois meses partiu do bispo?
Gilberto - Na verdade ela surgiu na mesa, por isso é preciso fazer consulta de um lado e de outro.
8. Pode-se dizer que isso será encaminhado amanhã (hoje) e que as obras serão paralisadas por dois meses para discussão?
Malvezzi - A gente se compromete a buscar uma saída, porque a questão da vida de dom Cappio interessa a todos nós. Não é bom para ninguém acontecer o pior. Quando o Governo faz observação das perdas econômicas, nós fazemos observações de outros danos como os sociais.
Dom Dimas - Uma coisa importante a dizer e que é consenso entre nós é que, independente da decisão do Supremo amanhã (hoje), esse diálogo vai continuar. Quem tiver a vitória não vai obrigar o outro a mudar de posicionamento. Todos concordamos que essa mobilização conseguida por dom Luiz fez com que nossa consciência crescesse. Tanto a parte do Governo quanto a parte dos próprios movimentos envolvidos concordam que esses pontos de consenso podem ser implementados, inclusive com um debate em rede a ser encabeçada pela própria TV pública e com a participação das outras TVs que quiserem.
9. Se o Supremo cassar a liminar que suspende as obras, o Governo vai retomá-las antes do desfecho dessa conversa com o bispo?
Gilberto - A princípio já foi noticiado que, mesmo se o Supremo autorizar a continuidade das obras, elas serão retomadas só no dia 7 de janeiro. É um recesso que o exército faria. Sustentamos, até agora, essa posição sem que prejudique que analisemos a proposta levantada nessa noite. É importante a decisão do Supremo amanhã (hoje), mas ela não interfere sob o ponto de vista da ética de nosso debate que precisa continuar.
10. O acordo vai girar em torno dessa proposta de dois meses?
Gilberto - Tanto eu quanto o Roberto temos dificuldade de responder a essa pergunta porque estamos no meio de uma conversa. Resolvemos parar porque vocês (os jornalistas) estavam cansados aqui e nós também. Vamos retomar amanhã (hoje) e ainda é muito cedo para dizer que vai ser isso ou aquilo. Essa possibilidade de uma paralisação temporária de um lado e de outro é que vamos discutir.
Dom Dimas - Vamos notificar dom Luiz e os outros que estão com ele sobre o que aconteceu aqui. Em última análise a decisão vai ser dele.
11. Isso evitaria um desgaste dos dois lados...
Malvezzi - Não diria um desgaste porque a questão chave é a vida dele. Não vejo problema a gente poder concordar em seis ou sete pontos e manter divergência em um e continuar debatendo na sociedade por outros caminhos que a gente acha melhor. Essa é uma questão ética e não é à toa que estamos aqui na CNBB que, na Campanha da Fraternidade sobre a água, defendeu a necessidade de fazer chegar a água chega às populações. Não somos nós que vamos colocar obstáculo àquilo que for nesse sentido. Somos favoráveis ao que está proposto no Atlas Nordeste.
Dom Dimas - Existe uma desinformação muito grande acerca do que está sendo debatido. A grande maioria da população nem sabe porque dom Luiz está em greve. Inclusive existe um mal estar entre as populações dos Estados receptores e a dos Estados doadores porque a notícia mais difusa é, simplesmente, que tem um bispo em greve porque ele não quer dar água para quem está passando sede. Pelo contrário, o que se quer é dar prioridade em todo o semi-árido brasileiro. Recebemos como uma noticia extremamente alvissareira que o Atlas Nordeste vai ser refinado para atingir também os municípios com menos de cinco mil habitantes. O que queremos é justamente levar água para o maior número possível de pessoas, inclusive para as famílias dispersas, a população difusa de todo o semi-árido. Nossa prioridade é o ser humano.
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