Dr. Frei Antônio Moser Assessor da CNBB para assuntos de Bioética
Muitas foram as características que marcaram o Povo de Deus no Antigo Testamento. Mas a mais profunda sempre foi a de esperar pelo Messias Salvador. Em meio a todo tipo de provações e tribulações, o Povo sempre de novo ouvia a voz de algum profeta que recordava as promessas antigas. Entretanto, passavam-se os séculos e os milênios e o pequeno Povo só via as coisas irem piorando. Uma invasão após a outra ia acentuando a sensação de que o Messias esperado nunca iria chegar. Foi dentro deste contexto que surgiu João Batista. A grandeza deste homem de Deus pode ser avaliada através de vários prismas. O primeiro deles é o modo como o Evangelista São Lucas o trata. Com a maior solenidade possível ele o coloca em cena, estabelecendo um paralelo perfeito entre João e Jesus. Ambos são anunciados por anjos; ambos nascem em condições especiais; ambos iniciam seu ministério público retirando-se para o deserto; ambos impressionam o povo por suas palavras e gestos.... O empenho de Lucas em engrandecer João Bastista é coroado com um frase colocada na boca de Jesus: não houve nenhum homem e nenhum profeta maiores do que João.E de fato, ele é uma figura imponente. Faz ressoar sua voz destemida, enfrentando os poderosos de seu tempo, não poupando sequer os grupos religiosos, que haviam se afastado dos projetos divinos. Este homem extraordinário, contudo, mostra sua grandeza exatamente na medida em que toma consciência de sua missão, a cumpre integralmente, mas abraçando-a com toda humildade. Ele, João, quando exaltado por alguns discípulos, não deixa nenhum equívoco: não é sequer digno de desatar as correias das sandálias daquele que iria vir. Em outros termos, ele mesmo se define como sendo apenas o precursor, a voz que clama no deserto; “ preparai os caminhos do Senhor”.Para entender a riqueza desta expressão, convém lembrar que o Povo de Israel trazia consigo as marcas da “caminhada”. Os filhos de Jacó caminharam para o Egito. Depois caminharam durante quarenta anos pelo deserto do Sinai. Depois conheceram o grande exílio da Babilônia.... Não só isto: fazer a peregrinação anual para o Templo de Jerusalém era uma obrigação sagrada. Assim, todos sabiam muito bem que viver era caminhar.... e caminhar era viver. Só que os caminhos eram sempre muito tortuosos. Imagem rica para expressar as sombras da maldade e do pecado. Alguém deveria retificar os caminhos, ou seja, chamar o Povo à conversão, para retornar aos ideais primitivos, ratificados no Monte Sinai. E João Batista se apresenta como aquele que veio para preparar os caminhos do Senhor. Intrépido, interpelava a todos. Com palavras duras condenava os que se desviavam do bom caminho e convidava a todos para retomarem o caminho traçado pelo próprio Deus através das dez palavras de vida, depois denominadas de mandamentos. Pois bem, durante o Advento, ou seja, o tempo de preparação para o Natal do Senhor, juntamente com a do profeta Isaías, a voz de João Batista é a que ressoa mais forte, conclamando a todos a mudarem de vida e acolherem o Messias prometido... Ele já estava no meio do Povo.... continua no meio do Povo.... Basta ouvir a voz dos profetas e acertar o passo, para que Ele possa chegar espalhando sua luz e garantindo a todos que Deus cumpre o que promete.
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