Neste editorial estou me unindo as palavras de um irmão bispo no qual me
vejo perfeitamente expresso em tudo o que desejaria transmitir aos queridos
irmãos de nossa Arquidiocese de Fortaleza por ocasião desta Quaresma e Semana
Santa tão especial que estamos e estaremos vivendo. Com Dom Alberto Taveira
Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará, e a partir de sua mensagem
semanal, que muito gentilmente me cedeu, assim me dirijo a você, que me dá sua
atenção.
“Durante o ano inteiro a Igreja celebra a Páscoa do Senhor! Missa é
memorial permanente, em toda parte, do nascer ao pôr do sol, da Morte e
Ressurreição do Senhor. Domingo, dia do Senhor – e não dos senhores! – é Páscoa
semanal, o dia daquele que é a Luz do Mundo. A data da Páscoa, estabelecida a
partir do dia da Ressurreição do Senhor, celebrada como a festa maior da vida
da Igreja, não pode ser mudada, pois é a festa das festas! Sua preparação é
feita com uma Quarentena, Quaresma de Oração, Penitência e exercício da
Caridade. O Tríduo Pascal, Páscoa da Ceia, Páscoa da Cruz Redentora e Páscoa da
Ressurreição, é o coração de toda a vida litúrgica da Igreja, fonte inesgotável
de santidade e vida na graça para todos os cristãos! Na Páscoa o verdadeiro
Cordeiro Pascal, aquele que pode abrir o livro da vida (Cf. Ap 5,1-14), se
imola e se dá para a vida plena da humanidade. Nele, todos os nossos segredos
mais íntimos são revelados e nos é dada a chave de compreensão de tudo o que
vivemos e de toda a história humana. Após o Tríduo Pascal, a Páscoa se prolonga
por cinquenta dias, até o Pentecostes, quando o fruto da Ressurreição de
Cristo, o Dom do Espírito, infundido sobre os fiéis, é derramado em abundância!
Entende-se assim como nos é doloroso celebrar a Páscoa com os limites
determinados pelas autoridades sanitárias, como acontece, de forma inusitada,
para toda a Igreja. No entanto, justamente no mistério da dor, vemos o Cordeiro
Imolado abrindo-nos a compreensão de tudo isso.
Podemos logo recordar que a Páscoa dos hebreus era celebrada nas casas.
“O Senhor disse a Moisés e a Aarão no Egito: ‘Este mês será para vós o começo
dos meses, será o primeiro mês do ano. Falai assim a toda a comunidade de
Israel: No dia dez deste mês, cada um tome um animal por família – um animal
para cada casa. Se a gente da casa for pouca para comer um animal, convidará
também o vizinho mais próximo, de acordo com o número de pessoas. Devereis
guardá-lo até o dia catorze deste mês, quando, ao cair da tarde, toda a
comunidade de Israel reunida o imolará. Tomarão um pouco do sangue e untarão as
ombreiras da porta das casas onde comerem. Deverão comer a carne assada ao
fogo, com pães sem fermento e ervas amargas, com os cintos na cintura, os pés calçados,
o cajado na mão; e comereis às pressas, pois é a Páscoa (isto é, Passagem) do
Senhor. Nessa noite eu passarei pela terra do Egito e matarei todos os
primogênitos no país, tanto das pessoas como dos animais. Farei justiça contra
todos os deuses do Egito. O sangue servirá de sinal nas casas onde estiverdes.
Ao ver o sangue, passarei adiante, e não vos atingirá a praga exterminadora
quando eu ferir a terra do Egito. Este dia será para vós um memorial em honra
do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição
perpétua’” (Cf. Ex 12,1-14). “Quando vossos filhos vos perguntarem: ‘Que
significa este rito?’, respondereis: ‘É o sacrifício da Páscoa do Senhor, que
passou ao lado das casas dos israelitas no Egito, quando feriu os egípcios e
salvou as nossas casas’” (Ex 12,26-27).
E foi numa casa, que chamamos “Cenáculo”, que Jesus reuniu seus
discípulos para a Ceia Pascal judaica e ali antecipou a sua própria Páscoa, na
instituição da Eucaristia. Ali deu de presente seu Mandamento novo. Ali lavou
os pés de seus discípulos, para que todos encontremos nosso modo de fazer o
lava-pés. No mesmo lugar, os discípulos se reuniram em oração, com Maria, a Mãe
de Jesus, preparando a efusão do Espírito Santo. Após o Pentecostes, foi nas
casas que as primeiras Comunidades se reuniam, perseverando na doutrina dos
Apóstolos, na Comunhão dos bens, na oração e na Fração do Pão, o primeiro nome
da celebração Eucarística.
Podemos dar um salto no tempo para acolher a Páscoa nas casas, à qual a
Igreja nos convida, diante de fatos dolorosos que exigem nossa vigilância, a
prudência e a prática da caridade. Os pais e mães de família são convidados a
reunir, na intimidade e no recolhimento dos lares, sem muita gente, apenas o
pequeno núcleo da casa, para rezar juntos, ouvir a Palavra de Deus, partilhar a
refeição fraterna. Para estarem todos unidos à Igreja que vive
a sua Páscoa, mesmo com os membros dispersos, temos o serviço da
transmissão das celebrações da Semana Santa, a partir da Catedral
Metropolitana de Fortaleza, pelos meios
de comunicação, assim como grande quantidade de Paróquias que transmitirão as
celebrações através das mídias sociais.
Para o Domingo de Ramos, quando se abre a Semana Santa, nasceu entre nós
uma proposta, que providencialmente se une ao que a CNBB sugeriu ao Brasil
inteiro, de as famílias colocarem ramos em lugar de honra em suas casas. Muitas
famílias poderão afixá-los em janelas, portas de apartamentos, portões, ou
outras formas de manifestação do que gostaríamos todos de fazer, com a costumeira
procissão de Ramos, que não acontecerá neste ano. Na Missa dos Ramos e da Paixão às 8h00min a ser
transmitida a partir da Catedral Metropolitana, por rádio, televisão e
mídias sociais, assim como nas Missas de nossas Paróquias, transmitidas também
pelas redes sociais, haverá a bênção dos Ramos, após a leitura do Evangelho que
narra a entrada de Jesus em Jerusalém, logo no início da Missa, no lugar do Ato
Penitencial. Nenhuma casa fique sem a acolhida jubilosa de
Jesus, portador de salvação, vida, saúde e liberdade: “Bendito o que vem em
nome do Senhor!”
Na
Quinta-feira Santa, a Santa Missa da Ceia do Senhor, que será celebrada também
na Catedral Metropolitana ‘as 18h30min, mesmo sem a presença dos fieis, que
seguirão em casa pelas transmissões, estaremos renovando nossa fé na presença
viva de Jesus na Santa Eucaristia, no dom de Seu Mandamento Novo de amor, na
instituição do sacerdócio do Novo Testamento, para realizar sempre em sua
memória o sacrifício redentor no sacramento.
Temos um bonito costume de celebrar a Sexta-feira Santa com muita
dignidade. Com início às 15h00min, estaremos celebrando a Paixão e
Morte do Senhor, a Oração Universal pela
Igreja e por toda a Humanidade redimida pela vida do Senhor doada em Amor até o
fim. Reconheceremos na cruz nossa salvação e nos uniremos em comunhão
espiritual, já que, não poderemos receber todos a Santa Comunhão Sacramental,
pois estaremos em casa confinados, mas não isolados. Todos unidos num só Amor.
Todas as celebrações da Semana Santa serão transmitidas pelos nossos
Meios de Comunicação. Na Noite de Páscoa, com
seu início no Sábado Santo às 18h30min, também com transmição via rádio e redes
sociais, celebraremos a Solene Vigília Pascal. Em casa cada família providencie uma vela para
cada um de seus membros, a fim de participar da renovação dos compromissos
batismais. Da parte do Arcebispo, fica o convite a que todos possam fazê-lo
acompanhando a Vigília Pascal da Catedral. Nossa Semana Santa será diferente,
celebrada em nossas casas, mas será igualmente santa e bem vivida!”
E a
todos nosso votos de Santa e Feliz Páscoa no Senhor Ressuscitado, Ele é a nossa
Vida e a nossa Salvação, nossa Luz e Esperança de vitória. Com Ele, o Amor tudo
venceu, vence e vencerá.
+ José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza