Frei
Patrício Sciadini presenteou o Fórum Shalom com uma profunda reflexão sobre a
virtude da esperança apoiado na espiritualidade de Santa Teresinha do Menino
Jesus.
FOTO: COMSHALOM | FREI PATRÍCIO PREGANDO NO FÓRUM
SHALOM 2023
Ter
esperança na misericórdia de Deus, ser um missionário peregrino da esperança,
não desanimar ninguém e decidir-se pela conversão. Frei Patrício Sciadini,
carmelita e escritor, trouxe ao Fórum Shalom 2023 uma reflexão sobre a virtude
da esperança, tendo como pano de fundo a espiritualidade de Santa Teresinha do
Menino Jesus. Citando frases da santa da pequena via, dando definições sobre a
virtude da esperança e exemplos bem concretos sobre como aplicar esta virtude
na vida, o sacerdote prendeu a atenção do público na manhã do segundo dia de
evento.
Leia mais| 10 dicas para
cultivar a esperança no coração, por Cardeal Paulo Cézar Rocha
Esperança na misericórdia de
Deus
“Eu sinto
que […] o que agrada ao Bom Deus na minha alminha é Ele ver que amo a minha
pequenez; e a minha pobreza, é a esperança cega que tenho na sua misericórdia.
Esse é o meu único tesouro”. […] Santa Teresinha – Carta 197
Partindo do
princípio da esperança cega, Frei Patrício afirmou que costuma olhar para Santa
Teresinha como a santa da esperança, como alguém que olhava para o futuro
confiando em Deus. Assim também devemos encarar os desafios presentes e as
perspectivas de futuro, apoiados na esperança de que Deus está
conosco.
“Aquilo que Deus quer é que eu tenha uma esperança cega em sua misericórdia. A misericórdia de Deus não admite duvida”! O sacerdote animou a todos afirmando ainda que “Deus nunca fecha a porta em nossa cara por causa dos nossos pecados”, e que precisamos ter a certeza absoluta de que Ele não nos abandona. “A esperança é recomeçar o caminho, não desanimando com as quedas”.
“A
esperança é uma força interior que te impede de fechar os olhos para a presença
do Senhor”. E acreditar nesta presença nos lança para os outros, não nos deixa
fechados no egoísmo. Porque, afirmou o sacerdote, “não podemos crer, esperar e
amar apenas para nós mesmos, mas estas virtudes nos fazem abrir o coração à
humanidade”.
Falando
sobre a esperança que nos abre ao outro, Frei Patrício citou o famoso ‘ato de
oferecimento ao amor misericordioso’ de Teresinha, em que a santa oferece sua
própria vida em favor de todos. O amor autêntico nos leva a abertura ao outro,
quando amo Deus não posso me acomodar e fechar o meu coração, sendo indiferente
às necessidades dos meus irmãos.
Ser Missionário, ser
peregrino da esperança
“Todos os
missionários vivem de esperança”, afirmou o Frei e esta esperança não pode ser
abstrata. A esperança do missionário é concreta porque tem um nome, porque é
uma pessoa: Jesus Cristo. Nele temos uma esperança viva.
“Abra o
Evangelho, encontre Jesus. O evangelho é a casa de Jesus”. Como instrumento
para cultivar a esperança, o sacerdote motivou os missionários e terem o
Evangelho sempre ao alcance, consultá-lo e medita-lo. A vida missionária
precisa estar apoiada no Evangelho de Cristo, o peregrino da esperança deve
andar pelo mundo espalhando esta boa notícia, de um Deus vivo que está sempre
conosco e nunca nos ilude.
Ainda sobre
a experiência missionária, Frei Patrício, afirmou que o peregrino da esperança,
sabe anunciar esta virtude como um sol que ilumina, porque experimentou, muitas
vezes em sua carne, a noite das purificações de Deus. Anunciar a esperança não
significa viver uma vida sem tribulações, é saber e testemunhar o caminho de
Cruz e a esperança na vida nova.
“A
esperança é como um sol que ilumina, mas, muitas vezes, Deus nos faz esperar
por este sol, por esta palavra nova. Às vezes Deus nos coloca na noite, nas
dificuldades, num lugar em que não é possível ver a luz. Mas precisamos confiar
que logo a luz brilhará novamente. Deus nos purifica! A experiência de Deus é
de amor, mas também é de cruz”.
Leia mais | Emmir Nogueira
indica como viver a esperança com o auxílio da Virgem Maria
O Frei
carmelita afirmou ainda que devemos “ser criativos na nossa oração”, nos
abrindo à missionariedade. Citando o exemplo de Teresinha, ele lembrou a todos
que a santa mesmo sem sair do convento, tinha um coração profundamente
missionário porque se oferecia em favor dos outros e porque intercedia.
Contando sua experiência pessoal de oração, o Frei motivou todos a ‘visitar’ os
diferentes lugares do mundo por meio da oração de intercessão.
Nunca desanimar ninguém
“Não há
nenhuma passagem no Evangelho em que Jesus desanima os pecadores, porque Ele é
força e coragem. Ele não desanima ninguém, nem mesmo Judas que o traiu”,
ressaltou Frei Patrício. Para viver a esperança é preciso cultivar a alegria,
que é simples, que se expressa no sorriso e no desejo de levar algo bom aos
outros. “O sorriso cura muito mais do que muitos remédios. Um sorriso pode te
fazer compreender que a noite acabou e que o perdão chegou”. Por isso, é
necessário que tenhamos uma postura positiva e alegre ante as situações
cotidianas, sobretudo é necessário darmos testemunho de alegria para os que
estão doentes. “Ao lado dos doentes devemos ser alegres! Mesmo que a tristeza
esteja no nosso coração, devemos vence-la para ser a esperança para os outros”.
Diariamente,
muitas coisas tentam nos desanimar, e o principal desanimador é o diabo. Ele
sabe como nos desanimar e destruir as virtudes teologais em nós. O sacerdote
nos lembrou que “Santa Teresinha viveu a noite da fé, mas mesmo nesta situação
comparada a um céu nebuloso, a Santa sabia que o sol continua a brilhar atrás
das nuvens”. A fonte para nutrir esta atitude positiva é a certeza de que em
Deus posso colocar a minha esperança.
Leia mais| O que esperar da
carta apostólica do Papa Francisco sobre Santa Teresinha do Menino Jesus
Uma
tentação na vida cristã é nos deixarmos desanimar pelos nossos pecados e pelos
pecados dos outros. “Deus nunca perde a paciência com o pecador. Ele tem
esperança em nós. Quando a nossa esperança se encontra com a esperança de Deus,
nos tornamos peregrinos da esperança e levamos esperança aos outros”, afirmou o
Frei.
Santa
Teresinha disse que “mesmo que tivesse na consciência todos os pecados da
humanidade, continuaria a confiar no Senhor”. Também nós precisamos manter o
ânimo diante das tribulações e situações de pecado, sabendo que o Senhor não
desiste de nós e que Ele quis contar conosco para a construção de Seu reino.
“Somos
indispensáveis para o Reino de Deus, eu preciso Dele e Ele de mim. Deus não
quer fazer tudo sozinho porque é Deus. Quando somos egoístas queremos fazer
tudo sozinhos. Jesus nunca foi assim! Deus precisa de você, ele tem esperança
em você, não negue esta graça de Deus. Ter esta firme convicção pode mudar
tudo. A esperança é ter a convicção de que tudo pode mudar a partir de você,
tudo pode ser diferente a partir de você, porque Deus está contigo”.
Hoje eu me decido pela conversão
à esperança
“Fazer a
experiência de Deus não é sentir arrepio e chorar, é decidir colocar Deus no
centro da minha vida. Esta experiência exige conversão”. Com esta afirmação,
Frei Patrício falou sobre a necessidade de uma constante busca pela vontade de
Deus, de uma avaliação da nossa vida atual e da consciência de que precisamos
entregar tudo a Deus; inclusive nossos pecados e fragilidades, suplicando que
Ele nos ajude a prosseguir.
“Na vida há
uma grande conversão e pequenas conversões. As pequenas conversões da vida são
tantas, como as contas de um terço. E as pequenas conversões são as mais
difíceis! Qual conversão Deus quer de você? Devemos aprender a conversão das
pequenas coisas, para nos encontrarmos com Ele”.
No caminho
da conversão vamos descobrindo o nosso lugar no mundo e na Igreja, como fez
Santa Teresinha. O Frei lembrou a imagem do jardim cheio de diferentes flores,
que encontramos nos escritos de Santa Teresinha. A santa utilizou esta imagem
para falar da santidade, e das diferentes vias para alcançar esta meta: “Neste
‘jardim’ há grandes santos e santos pequenos. Papa Francisco tem nos falado até
da santidade da classe média, e eu poderia dizer que estou na classe média
baixa. Mas mesmo que eu não aspire grandes coisas, trilho o caminho da
santidade nos pequenos sacrifícios diários, nas minhas pequenas conversões”,
explicou o Frei.
“Lembro-me
de quando participava de um coral. Sabe qual era meu papel neste lindo coral?
Eu segurava o livro do mestre! Ficava lá parado segurando o livro do mestre.
Pode parecer algo insignificante, mas era o meu lugar. Imagine se não tivesse
ninguém para segurar aquele livro? Seria um problema. Lembro-me ainda de um dia
em que eu estava admirando as flores de um altar e pensei: ‘deve ser muito bom
ser flor de altar’. Logo vi também o tapete que ficava próximo às flores e
pensei que também era bom ser tapete, mesmo que as pessoas passem e pisem, o
tapete está cumprindo seu papel. Na vida com Deus seremos com mais frequência
tapete do que flor, devemos estar conscientes disso e saber que está tudo bem”.
Ainda sobre
uma vida cristã que busca conversão, que abraça a Cruz e acolhe as
adversidades, o sacerdote citou outro exemplo de Santa Teresinha, em que ela
comenta sobre a pobreza. A santa faz uma profunda reflexão sobre como deve ser
nossa atitude diante de situações adversas motivada por um simples
acontecimento: “Teresinha tinha uma lamparina pequena que sempre usava. Um dia,
precisava da sua lamparina e percebeu que alguma irmã havia pegado. Ela então,
ao invés de se chatear e reclamar, conclui que havia descoberto a verdadeira
pobreza, que é ‘procurar o que eu tenho, não encontrar e saber esperar que
volte’. Isto é esperança”.
Frei
Patrício concluiu sua pregação fazendo uma oração por todos os participantes,
suplicando a virtude da esperança e uma postura de constante busca pela
conversão. Ele afirmou que Deus quer que recomecemos o caminho sempre,
mesmo em meio aos desafios. Porque quem não recomeça perde a esperança.
Cultivamos a esperança recomeçando sempre, buscando amar a Deus nas pequenas
coisas, porque a santidade é feita de coisas pequenas. Os participantes puderam
ainda receber a benção com a relíquia de Santa Teresinha do Meninos Jesus.
Leia mais| Saiba mais sobre
a Escola de Pregadores no Fórum Shalom 2023
Missa Votiva a Santa
Teresinha do Menino Jesus
Encerrando
o segundo dia de Fórum, Frei Patrício presidiu uma Missa votiva a Santa
Teresinha com liturgia e cantos totalmente voltados para a espiritualidade da
jovem padroeira das missões. Na homilia, complementando toda a reflexão feita
durante a pregação, o sacerdote afirmou:
“Nós
precisamos redescobrir e teologia da misericórdia, das pequenas coisas; Jesus
não quer aquelas obras grandiosas, quer obras pequeninas; Jesus se faz pequenos
aos pequenos, pois o Amor se abaixa sempre”.
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