sábado, 30 de março de 2019

CATEQUESE QUARESMAL - IV


RECONCILIAÇÃO E CONFISSÃO



Nestas catequeses de Quaresma já falamos sobre três importantes exercícios espirituais: o jejum, a oração e a esmola. Mas, para além dessas boas práticas espirituais falemos de algo especial e indispensável em nosso caminho de conversão e de penitência: o Sacramento da Reconciliação, que comporta a confissão dos nossos pecados, o reconhecimento das nossas falhas e de nossas culpas, que de algum modo quebraram nossa comunhão com Deus, com os irmãos e com a Igreja. Somos rodeados por tantas misérias, por tantas situações que nos levam ao pecado. O mal existe, as tentações estão aí, como dizia o Apóstolo são Pedro: “Sede sóbrios e vigilantes. O vosso adversário, o diabo, rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar. Resisti-lhes firmes na fé” (I Pd 5,8-9a). Por isso, o Papa Francisco nos recorda, ao falar sobre o Sacramento da Reconciliação, que “sem Deus, não se pode vencer o mal: só o amor d’Ele eleva por dentro; só a sua ternura, derramada no coração, é que torna livre. Se queremos a libertação do mal, temos de dar espaço ao Senhor, que perdoa e cura” (Homilia, Celebração Penitencial, 29/03/2019). Qual a medicina que Deus nos concede para que possamos ir nos curando do mal do pecado? Para que possamos ir vendendo as lutas interiores que enfrentamos tantas vezes? Sem dúvida encontramos no Sacramento da Reconciliação um especial remédio para irmos curando nossas feridas, para colocarmos nas mãos do Divino Médico as nossas misérias; “a Confissão é a passagem da miséria à misericórdia, é a escrita de Deus no coração. Sempre que nos abeiramos dela, lemos que somos preciosos aos olhos de Deus, que Ele é Pai e ama-nos mais de quanto nos amamos a nós mesmos” (Francisco, homilia, 29/03/2019). Sabemos como somos necessitados de amor, como somos necessitados de misericórdia! A confissão, por vezes é difícil, quando a encaramos como um “tribunal”, mas por amis que seja um tribunal, pois há a acusa dos pecados, não esqueçamos que a confissão é um tribunal de misericórdia, por isso “se quiseres, podes ficar curado. Confia-te ao médico e ele abrirá os olhos de tua alma e de teu coração. Quem é este médico? É Deus, que pelo seu Verbo e Sabedoria [Jesus Cristo] dá vida e saúde a todas as coisas” (S. Teófilo de Antioquia). Esse médico é bom e misericordioso, aproximemo-nos dele pelo Sacramento da Confissão. Retomo aqui um pensamento, já citado em outra ocasião, de Bento XVI: “Santo Agostinho observa que quem deseja caminhar no amor de Deus e na sua misericórdia não pode contentar-se com a libertação dos pecados graves e mortais, mas ‘pratica a verdade reconhecendo também os pecados que se consideram menos graves... e vem à luz cumprindo obras dignas. Também os pecados menos graves, se forem descuidados, proliferam e causam a morte’ (In Io. evang. 12, 13, 35)” (Homilia 01/03/2013). Cuidado! Os pecados veniais (leves) não podem ser ignorados; porque nos confessamos vez por outras desses pecados leves? Por que não podemos deixar que nossa casa fique empoeirada demasiado. Sim. Nossas casas são limpas diariamente, porque se acumulam poeira trará insetos e animais nocivos, até mesmo é causa de doença. Um fiel que não se acosta da Confissão com certa regularidade corre dois riscos, como uma casa empoeirada: primeiro que pode se acostumar com o pecado, o que é muito mal, e depois não fazer mais caso de uma vida limpa, vivendo como um sujo-imundo. Não deixemos passar em vão a graça do perdão dos pecados, pois “o homem deve ter a alma pura, qual um espelho reluzente. Quando o espelho está embaraçado, o homem não pode ver nele o seu rosto; assim também, quando há pecado no homem, não lhe é possível ver a Deus” (S. Teófilo de Antioquia). Tenhamos atenção para com a prática sacramental da nossa confissão e nossa vida se tornará cada vez mais límpida; da limpidez da pureza da alma que se sente amada por seu Pai. Como se dará essa experiência do maravilhoso amor de Deus? Na acolhida incondicional de quem se acerca de um confessor, no momento do Sacramento da Reconciliação. A confissão dos pecados é o reconhecimento pessoal do afastamento da pessoa para com Deus, e este “perante a gravidade do pecado, (...) responde com a plenitude do perdão. A misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa” (MV, 03). Para se confessar, além da matéria – que é o pecado cometido, é necessário que o pecador tenha um arrependimento verdadeiro (contrição). O Catecismo da Igreja, fala que “entre os atos do penitente, a contrição ocupa o primeiro lugar. Ela é ‘uma dor da alma e uma detestação do pecado cometido, com o propósito de não mais pecar no futuro’” (n. 1451). Para isso será preciso fazer um franco e sincero exame de consciência – pessoal ou comunitário. Mais uma vez repito: não descuidemos, mesmo com suas “graduações”, o pecado continua sendo pecado e o cristão verdadeiro deve sempre aborrecer destas faltas cometidas. Assim já foram dados os seguintes passos: exame de consciência, arrependimento verdadeiro, a confissão auricular dos pecados e absolvição destes. No ato de sua confissão o penitente demonstrou o ardente desejo de se afastar do pecado, das ocasiões que levam a pecar, e a retomar o caminho de vida cristã. Segue-se um passo ulterior e importante: o propósito de mudança, que será expresso, também na realização de uma penitência. Talvez, alguém menos dado à confissão perguntasse: “sou obrigado a me confessar?” – se és um bom cristão católico eu diria que sim; principalmente dos pecados graves (mortais). Diria ainda mais, que na verdade, confessar-se não é obrigação, é antes de tudo necessidade da alma cristã. Na homilia da Celebração Penitencial de 29 de março de 2019, disse Papa Francisco como “seria bom, depois da Confissão, permanecer (...) com o olhar fixo em Jesus, que acabou de nos libertar: fixo, não mais nas nossas misérias, mas na sua misericórdia. Fixar o Crucificado e exclamar maravilhados: ‘Eis aonde foram parar os meus pecados! Tomaste-los sobre Vós... Não me apontastes o dedo acusador, mas abristes-me os braços e mais uma vez me perdoastes’. Neste tempo especial da Quaresma, aproveitemos para pensar bem qual tem sido o verdadeiro itinerário de fé que estamos fazendo. Abandonemo-nos mais uma vez, e quantas forem precisas, nos braços daquele Pai misericordioso, pois o “Senhor conhece-nos, sabe que a luta interior é difícil, que somos fracos e propensos a cair muitas vezes reincidentes na prática do mal. Então propõe-nos começar a ser reincidentes no bem, no pedido de misericórdia. Será Ele a erguer-nos, fazendo de nós criaturas novas. Recomecemos, pois, da Confissão” (Francisco, Homilia 29/03/2019).

 Roma, 30 de março de 2019
 Pe. Rafhael Silva Maciel Missionário da Misericórdia

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