Desde 1971 a Igreja Católica dedica o mês de setembro à Bíblia. Em 1971, a Arquidiocese de Belo Horizonte (MG) propôs uma ação bíblica para todos os fiéis, leigos e consagrados, por ocasião da comemoração de seus 50 anos existência. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) passou a assumir a data comemorativa e instituiu a celebração por todo o país. A festa de São Jerônimo, é celebrada no dia 30 deste mês. São Jerônimo, que viveu entre 340 e 420, foi o secretário do Papa Dâmaso e por ele encarregado de revisar a tradução latina da Sagrada Escritura. Essa versão latina feita por São Jerônimo recebeu o nome de Vulgata, que, em latim, significa popular e o seu trabalho é referência nas traduções da Bíblia até os nossos dias.
O tema proposto para o Mês da Bíblia de 2017 é “Para que n’Ele nossos povos tenham vida” (cf. Its). O lema indicado pela Comissão Bíblico-Catequético da CNBB é “Anunciar o Evangelho e doar a própria vida (cf. Its 2,8)”. Neste mês, em quase todas as paróquias e comunidades eclesiais há cursos bíblicos. Incentiva-se a leitura e o estudo da Bíblia. Nas celebrações ela ocupa lugar de especial destaque e os grupos de reflexão trabalham no sentido de ligar mais os textos lidos com a vida. Quando ouvimos a palavra “bíblia”, logo pensamos na Palavra de Deus. Esta é a idéia mais difundida e popular da Bíblia. Ela é de fato a Palavra de Deus, a comunicação de sua vontade e da sua presença libertadora para todos aqueles que a procuram com sede e fome de vida mais plena. A Bíblia é o livro mais conhecido do mundo inteiro. Já foi traduzido para 1785 línguas. Mesmo assim, continua sendo um livro desconhecido. Muita gente tem em casa, mas não a abre.
Na Bíblia se encontra a história do povo de Israel e sua lenta caminhada na descoberta de Deus que revela ao seu povo o que com ele deseja e faz uma aliança de amor. Os profetas surgem, chamados por Deus, para mostrar ao povo e às suas autoridades quando e como estão traindo esta aliança. Os Salmos, orações que brotam do chão da vida, alimentam o povo em sua caminhada para a realização do projeto de Deus.
Finalmente, “quando chegou à plenitude dos tempos, Deus enviou o seu próprio Filho” (cf. GL 4,4), a Palavra de Deus se fez carne e habita no meio de nós. Em Jesus Cristo todas as promessas de Deus se realizam e se tornam esperanças de vida nova para todos nós. É por tudo isso que a Bíblia não deve ser um livro que enfeita a estante, e muito menos ainda um livro que se transforma em fonte de conflitos e divisões.
Penso que Santo Agostinho, ao dizer que Deus escreveu dois livros, a Bíblia e a Vida, nos ajuda a superar os preconceitos e recuperar o verdadeiro sentido da Sagrada Escritura. Ver, ler a vida do dia-a-dia, nosso dia, o da nossa família, da nossa comunidade, da sociedade e do mundo e captar aí os apelos de Deus para a justiça, para a fraternidade, para o amor. Nesse exercício diário vamos entrando no mundo da Bíblia. Afinal, o que ela conta? A história de uma aliança de amor entre Deus e seu povo. Aliança esta marcada pela fidelidade e pelas infidelidades do povo. Aos trancos e barrancos este povo vai aprendendo a perceber e a viver a vontade de Deus sempre presente e que se fez carne em Jesus Cristo e que continua atuando em nossa história.
A realidade infeliz é que nós cristãos, por não nos dedicarmos ao conhecimento da Bíblia, não sabemos a vontade do Pai. Não a conhecendo, não podemos colocá-la na prática. Não é de estranharmos que nos falte a alegria e a felicidade dos filhos de Deus que fez a parte dele.
Abrindo a Bíblia, estamos abrindo um dos livros mais lidos de toda a história da humanidade. Antes de nós, milhões de pessoas procuraram aí dentro um sentido para sua vida e o encontraram. A Bíblia foi escrita para nós. Precisamos ler e compreender a Palavra de Deus. Ela dará a nós a certeza de salvação; confiança e poder na oração; certeza de perdão de Deus; orientação e paz em nossas vidas e capacidade de testemunhar Jesus Cristo. Uma palavra tem a força e o valor daquele que a pronuncia. A palavra nossa, palavra humana, pode errar e enganar, pois o homem é fraco e não oferece uma segurança total. Mas a Palavra de Deus não erra nem engana. Ela é prego seguro e firme para sustentar a vida de quem nela se agarra e por ela se orienta. Diz o Salmo: “Tua palavra, Senhor, é um facho a iluminar os meus passos, uma luz a guiar-me nos caminhos da vida” (Sl 118, 105). E ainda: “Eu me agarro a ti, Senhor, e tu me seguras com tuas mãos!”.
Por isso, “toda escritura inspirada por Deus é útil para instruir e refutar, para corrigir e formar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda a espécie de boas obras” (1Tm 3,16). Assim, “pela perseverança e pela consolação que as Escrituras nos oferecem, podemos ter esperança” (Rm 15,4). Que esperança? A esperança de que, um dia, a verdade e a justiça voltem a ser a marca de toda a palavra que sai da boca dos homens! O documento de Aparecida (No. 274) disse: “Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá-lo. Se queremos serem discípulos e missionários de Jesus Cristo é indispensável o conhecimento profundo e vivencial da Palavra de Deus. É preciso fundamentar nosso compromisso missionário e toda a nossa vida cristã na rocha da Palavra de Deus” (cf. doc. cit. 247).
Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1
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