terça-feira, 20 de novembro de 2007

PRIMEIRA MULHER NEGRA NOS QUADROS DA ARQUIDIOCESE DE FORTALEZA

QUEM É CRISTINA FRANÇA ?

Trata-se de uma mulher negra maranhense, engajada nos movimentos comunitários sociais e pastorais sempre assumindo compromissos com os empobrecidos
Em 1975, veio para Fortaleza e foi acolhida por Dom Aloísio Lorscheider, na época Arcebispo de Fortaleza, para desenvolver ações nos quadros da Arquidiocese através da Cáritas Arquidiocesana de Fortaleza e hoje é fortalezense, com o Titulo de Cidadã Fortalezense pelo reconhecimento dos trabalhos sociais realizados na periferia da cidade nas áreas de risco.
Foi integrante da Juventude Operária Católica – JOC. Nessa época uma das grandes lições que tirou da vida sofrida e corrida, foi a de que não se deve ter pressa. Pressa de ver o processo social concluído. Até porque é processo. Após o golpe militar de 64, passou a participar de ações com os jovens trabalhadores, formando consciências, auxiliando na organização para que, dentro de um processo, tivessem realmente condições de afastar da gente aquele fantasma, aquele espectro terrível da ditadura militar. E isso aconteceu, realmente, 19 anos depois.

CRISTINA FRANÇA HÁ RACISMO ?

Embora alguns amigos neguem, mais tive uma experiência terrível, muito acima dos pequenos fatos do dia a dia. Quando cheguei a Fortaleza fui morar no bairro do Carlito Pamplona. As minhas duas filhas Crisemíria e Jaciara – foram matriculadas numa escola maternal. Essas duas crianças foram segregadas na sala de aula. Colocadas em cadeiras e mesas isoladas das demais crianças Isto foi um baque muito grande que sofri. O mesmo aconteceu comigo quando fui apresentada a um grupo de mães gestantes na Comunidade do Padre Andrade, fui surpreendida com uma recepção de vaias, não querendo que eu permanecesse na sala e muito menos fazer a formação para a qual fui solicitada como Agente de Cáritas pela religiosa naquela época.Hoje nossa família venceu isso. Mais devo dizer que esta questão do RACISMO é um negócio sério e que está muito dentro de cada um, inclusive do próprio negro(a), para mim não existe raça superior, o que existe é o ser humano, é o homem que é inteligente e que é capaz de construir – cada vez mais – algo de novo e de bom para toda humanidade. É assim que penso e é assim que o vejo. Esta questão do RACISMO é efetivamente uma questão séria. E eu sei que não vai desaparecer tão de repente. Creio que vai perdurar ainda por muitos anos, pois se trata de uma questão de ordem cultural. Antes de ser uma questão política, questão social e que se revela na questão econômica – porque os negros(as) tem os piores empregos, moradias, falta de saúde ou quando tem o contrário ainda ficam no patamar inferior aos brancos no nosso país – BRASIL !. A mudança virá um dia dependendo de um especial trabalho partindo do(a) próprio(a) negro(a), ele(a) se inserindo na luta conjunta da classe trabalhadora e de toda a sociedade, finalmente. Sem nenhum racismo mais o que coloco é que somos capazes, somos inteligentes e somos bonitos(as), tanto quanto os outros seres humanos. É a busca desta igualdade que não existe ainda.Constante e incessante. Quando o (a) negro(a) ascende na escala social é tolerado (a) . Enquanto mais a gente se situa nas camadas sociais subalternas mais enraizada está a questão da discriminação racial.

Cristina França
Coordenadora da Cáritas Arquidiocesana de Fortaleza

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