O Papa Francisco fez nesta manhã de quarta-feira (04/09), o seu primeiro discurso na Indonésia durante o encontro com as autoridades, os representantes da sociedade civil e o Corpo Diplomático no Palácio Presidencial Istana Negara, em Jacarta, no âmbito de sua 45ª Viagem Apostólica Internacional. Francisco visitará ainda nos próximos dias Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura.
Mariangela
Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco encontrou-se,
nesta quarta-feira (04/09), com as autoridades, os representantes da sociedade
civil e o Corpo Diplomático no Palácio Presidencial Istana Negara, em Jacarta,
na Indonésia, no âmbito de sua 45ª Viagem Apostólica Internacional.
O Pontífice chegou à Indonésia, na terça-feira (03/09), e nos próximos dias
visitará também a Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura.
Francisco
iniciou o seu discurso, agradecendo ao presidente indonésio, Joko Widodo, o
convite para visitar o país e suas palavras de saudação. O Papa fez votos ao
presidente "de um trabalho frutuoso a serviço da Indonésia, deste vasto
arquipélago de milhares e milhares de ilhas banhadas pelo mar que liga a Ásia à
Oceania".
Harmonia no respeito pela diversidade
"Quase
se poderia afirmar o seguinte: tal como o oceano é o elemento natural que
congrega todas as ilhas indonésias, assim o respeito mútuo pelas
características culturais, étnicas, linguísticas e religiosas específicas dos
grupos humanos que compõem a Indonésia é o indispensável tecido conectivo que
torna o povo indonésio unido e orgulhoso", disse o Pontífice. "Tal
como a grande biodiversidade presente neste arquipélago é fonte de riqueza e
esplendor, também as diferenças específicas contribuem para formar um magnífico
mosaico, em que cada pedra é um elemento insubstituível na composição de uma grande
obra original e preciosa, sublinhou.
"A
harmonia no respeito pela diversidade é alcançada quando cada visão particular
tem em conta as necessidades comuns, e quando cada grupo étnico e confissão
religiosa age com espírito de fraternidade, buscando o nobre objetivo de servir
o bem de todos", disse o Papa, acrescentando:
“Esta sábia e delicada
harmonia, entre a multiplicidade de culturas e de visões ideológicas diferentes
com as razões que cimentam a unidade, deve ser continuamente defendida contra
qualquer desequilíbrio.”
É um trabalho
artesanal confiado a todos, mas de modo especial à ação da política, quando
esta tem como objetivo a harmonia, a equidade, o respeito pelos direitos
fundamentais do ser humano, o desenvolvimento sustentável, a solidariedade e a
busca da paz, quer no seio da sociedade quer com outros povos e
Nações. Eis a grandeza da política, certo? Um homem sábio disse que a
política é a forma mais elevada de caridade. Isso é bonito.
A Igreja Católica está a serviço do bem comum
"Tendo
em vista fomentar uma harmonia pacífica e construtiva que garanta a paz e
congregue forças para vencer desequilíbrios e bolsões de miséria, ainda
persistentes em algumas zonas do País, a Igreja Católica deseja incrementar o
diálogo inter-religioso", disse Francisco em seu discurso. "Desta
forma, podem eliminar-se preconceitos e pode desenvolver-se um clima de
respeito e confiança mútuos, indispensável para enfrentar desafios comuns;
entre os quais a contraposição ao extremismo e à intolerância que, distorcendo
a religião, tentam impor-se através do engano e da violência. Em vez disso, a
proximidade, escutar as opiniões dos outros. Isto cria fraternidade dentro de
uma nação. É algo muito bonito, muito bonito", sublinhou.
"A
Igreja Católica está a serviço do bem comum", reiterou o Papa, "e
deseja reforçar a cooperação com as instituições públicas e outros agentes da
sociedade civil, mas sem fazer proselitismo. Respeita a fé de cada pessoa e
nesse sentido favorece a formação de um tecido social mais equilibrado e assegurar
uma assistência social mais eficiente e equitativa".
Fé, fraternidade e compaixão
Referindo-se
ao Preâmbulo da Constituição da Indonésia, de 1945, o Pontífice recordou que "a
unidade na multiplicidade, a justiça social, a bênção divina são, portanto,
princípios fundamentais destinados a inspirar e orientar os programas
específicos. São como a estrutura de apoio, a base sólida sobre a qual
se constrói a casa". Segundo o Papa, estes princípios se harmonizam muito
bem com o lema de sua visita à Indonésia: "Fé, fraternidade e
compaixão".
“Infelizmente, no mundo
atual existem algumas tendências que dificultam o desenvolvimento da
fraternidade universal. Em várias regiões, assistimos ao aparecimento de
conflitos violentos, que muitas vezes são o resultado da falta de respeito
mútuo, do desejo intolerante de fazer prevalecer a todo o custo os próprios
interesses, a própria posição ou narrativa histórica parcial, mesmo quando isso
implica sofrimentos intermináveis para comunidades inteiras e resulta em
verdadeiras guerras sangrentas.”
Nascimentos, a maior riqueza que um país possui
"Por
vezes, surgem tensões violentas no seio dos Estados, porque os detentores do
poder gostariam de uniformizar tudo, impondo a sua visão até em questões que
deveriam ser deixadas à autonomia dos indivíduos ou dos grupos
associados", ressaltou.
Por outro lado,
apesar de declarações programáticas persuasivas, há muitas situações em que
falta empenho efetivo e clarividente na construção da justiça social. Em
consequência, uma parte considerável da humanidade é deixada à margem, sem
meios para viver dignamente e sem defesa para enfrentar graves e crescentes
desequilíbrios sociais, que desencadeiam conflitos intensos.
"E
como se resolve isso"? Perguntou Francisco. "Com uma lei de morte, isto é,
limitando os nascimentos; limitando a maior riqueza que um país possui, que são
os nascimentos. O seu país, por outro lado, tem famílias de três, quatro, cinco
filhos que seguem em frente. Isso pode ser visto na faixa etária do país.
Continuem assim. É um exemplo para todos, todos os países. Talvez isso
seja engraçado, talvez essas famílias prefiram ter um gato, um cachorro e não
um filho. Isso não está certo", sublinhou.
Ter em vista o bem de todos, construir pontes
De acordo
com o Papa, "em outros contextos, as pessoas pensam que podem ou devem
prescindir de procurar a bênção de Deus, julgando-a supérflua para o ser humano
e para a sociedade civil, que se deveriam promover a partir das suas próprias
forças". "Porém, ao fazer assim", ressaltou, "deparam-se
frequentemente com a frustração e o fracasso. Em outros casos, a fé em Deus é
continuamente colocada em primeiro plano, porém infelizmente é muitas vezes
manipulada, não servindo para construir a paz, a comunhão, o diálogo, o
respeito, a colaboração, a fraternidade, mas para fomentar divisões e aumentar
o ódio".
"Perante
estas sombras, é fonte de alegria constatar como a filosofia que inspira a
organização do Estado indonésio manifesta sabedoria e equilíbrio", disse
ainda o Santo Padre, fazendo suas, a este propósito, as palavras de São João
Paulo II proferidas ao Presidente da República Indonésia e às Autoridades,
durante sua visita ao país, em 1989: «Ao reconhecerdes a presença da
diversidade legítima, ao respeitar os direitos humanos e políticos de todos os
cidadãos e ao encorajardes o crescimento da unidade nacional, baseada na
tolerância e no respeito pelos outros, lançais os fundamentos para aquela
sociedade justa e pacífica, que todos os indonésios desejam para si e almejam
legar aos seus filhos».
"Desejo
que todos, no seu agir quotidiano e no exercício ordinário das respectivas
funções, saibam inspirar-se nestes princípios e torná-los efetivos, porque opus
justitiae pax, a paz é fruto da justiça. Com efeito, a harmonia alcança-se
quando cada um se empenha, não apenas em favor dos seus interesses e da sua
visão, mas tendo em vista o bem de todos, a construção de pontes, o fomento de
acordos e sinergias, a congregação de esforços para derrotar qualquer forma de
miséria moral, econômica e social, e promover a paz e a concórdia",
concluiu Francisco.
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Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2024-09/papa-francisco-viagem-apostolica-indonesia-encontro-autoridades.html
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