Uma casa só é habitável por todos, se reinar no seu interior um clima de paz. Salvaguardar a paz é tarefa também das religiões. Nisto, por favor, não se limite a falar de paz, mas tome-se claramente posição contra quem, declarando-se crente, alimenta o ódio e não se opõe à violência: disse o Santo Padre na saudação de inauguração do “Pavilhão da Fé na Expo City em Dubai, este domingo, 3 de dezembro, cujo texto foi lido pelo cardeal secretário de Estado Parolin, que preside a delegação vaticana
Raimundo de
Lima – Vatican News
Sabemos como estão interdependentes a paz e a salvaguarda da
criação: salta aos olhos de todos como guerras e conflitos danificam o ambiente
e dividem as nações, dificultando um empenho compartilhado em temas comuns como
a salvaguarda do planeta. Foi o que disse o Pontífice na saudação de
inauguração do “Pavilhão da Fé na Expo City em Dubai, este domingo, 3 de
dezembro, cujo texto foi lido pelo cardeal secretário de Estado Pietro Parolin,
que preside a delegação vaticana na Cop28.
Na
saudação inicial, o agradecimento do Papa, entre outros, ao grão-imame de
Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, que lhe manifestou sua solidariedade, e a todos os
parceiros que organizaram e promoveram este pavilhão religioso.
Francisco
observou tratar-se do primeiro do gênero no coração de uma COP e mostra que
todo o credo religioso autêntico é fonte de encontro e de ação.
Em sua saudação, o Bispo de Roma concentrou-se particularmente em ambos,
tecendo algumas considerações.
Fonte de encontro
Primeiramente,
fonte de encontro.
Neste ponto, Francisco falou das religiões como consciência da humanidade. É
importante encontrarmo-nos, mais além das nossas diferenças, como irmãos e
irmãs em humanidade e sobretudo como crentes, para nos recordarmos a nós e ao
mundo que, como peregrinos com a própria tenda nesta terra, somos obrigados a
salvaguardar a nossa Casa Comum.
As religiões, como
consciência da humanidade, lembram-nos que somos criaturas finitas, habitadas
pela necessidade de infinito. Sim, somos mortais, somos limitados, e
salvaguardar a vida significa também opor-nos ao delírio de onipotência voraz
que está a devastando o planeta. Aquele surge quando o homem se considera
senhor do mundo; quando, vivendo como se Deus não existisse, se deixa cativar
pelas coisas que passam.
O ser
humano, frisou o Pontífice, em vez de dispor da tecnologia, deixa-se dominar
por ela, comporta-se como mercadoria e torna-se indiferente: incapaz de chorar
e compadecer-se, fica sozinho consigo mesmo e, sobrepondo-se à moral e à
prudência, chega até mesmo a destruir o que lhe permite viver.
Tragédia climática também como tragédia religiosa
É por isso
que a tragédia climática é também uma tragédia religiosa: pois a sua raiz está
na presunção de autossuficiência da criatura. Mas, “sem o Criador, a criatura
não subsiste”, lembrou o Papa.
Francisco
fez votos de que este Pavilhão da Fé possa ser um lugar de encontro, e as
religiões revelarem-se sempre “lugares hospitaleiros” que deem profeticamente
testemunho da necessidade da transcendência, falem ao mundo de fraternidade, de
respeito e de cuidado uns dos outros, sem de modo algum justificar os
maus-tratos da criação.
Fonte de ação, agir em prol do ambiente
Isto
leva-nos ao outro tema-chave deste pavilhão e do credo religioso: a ação. É
urgente agir em prol do ambiente, mas utilizar mais recursos econômicos não
basta: torna-se necessário mudar o modo de viver e, por conseguinte, educar
para estilos de vida sóbrios e fraternos. Trata-se duma ação irrenunciável para
as religiões, chamadas também a educar para a contemplação, porque a criação é um
dom a acolher, e não apenas um sistema a preservar.Um mundo
pobre em contemplação será um mundo poluído na alma, frisou o Santo Padre, que
continuará a descartar pessoas e a produzir resíduos; um mundo sem oração dirá
muitas palavras, mas, desprovido de compaixão e de lágrimas, viverá apenas dum
materialismo feito de dinheiro e de armas.
Uma casa
só é habitável por todos, se reinar no seu interior um clima de paz,
acrescentou Francisco. O mesmo acontece, observou ele, com a nossa Terra, cujo
solo parece unir-se ao grito das crianças e dos pobres para fazer chegar ao céu
a mesma e única súplica: paz!
Tarefa também das religiões, salvaguardar a paz
Salvaguardar a paz é
tarefa também das religiões. Nisto, por favor, não haja incoerências. Não se
negue com os fatos aquilo que se diz com os lábios: não se limite a falar de
paz, mas tome-se claramente posição contra quem, declarando-se crente, alimenta
o ódio e não se opõe à violência. Recordo as palavras de Francisco de Assis: “A
paz que proclamais com os vossos lábios, tende-a ainda mais abundante nos
vossos corações”.
Que o
Altíssimo abençoe os nossos corações para podermos, juntos, ser construtores de
paz e guardiões da criação, concluiu o Santo Padre.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-12/papa-francisco-saudacao-inauguracao-pavilha-da-fe-dubai-parolin.html
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