"Olhar
para trás, reler a própria história e ver nela o dom fiel de Deus, não apenas
nos grandes momentos da vida mas também nas fragilidades, fraquezas e
misérias", disse Francisco.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco presidiu, na tarde
deste sábado (1°/02), na Basílica de São Pedro, a missa para o XXIV Dia Mundial
da Vida Consagrada que será celebrado neste domingo (02/02).
No início da missa, as luzes da
Basílica Vaticana foram apagadas e por alguns instantes o templo foi iluminado
pelas velas acesas que os consagrados seguravam em suas mãos. Uma pequena chama
semelhante à luz do chamado um dia Jesus acendeu em seus corações.
O pontífice iniciou sua homilia com a
seguinte passagem bíblica: “«Meus olhos viram a Salvação»: são as palavras de
Simeão, que o Evangelho apresenta como um homem simples, um homem «justo e
piedoso». Mas, dentre todos os homens que estavam no templo naquele dia, só ele
viu, em Jesus, o Salvador. Um menino; um pequenino, frágil e simples menino.
Nele viu a Salvação, porque o Espírito Santo lhe fez reconhecer, naquele terno
recém-nascido, «o Messias do Senhor»”.
Acolher de braços abertos o dom do
Senhor
Também vós, queridos irmãos e irmãs
consagrados, sois homens e mulheres simples que vistes o tesouro que vale mais
do que todas as riquezas do mundo. Por ele, deixastes coisas preciosas, tais
como bens, criar uma família própria. Por que o fizestes? Porque vos
apaixonastes por Jesus, n’Ele vistes tudo e, fascinados pelo seu olhar,
deixastes o resto. A vida consagrada é esta visão. É ver aquilo que conta na
vida. É acolher de braços abertos o dom do Senhor, como fez Simeão. Isto é o
que veem os olhos dos consagrados: a graça de Deus derramada em suas mãos. A
pessoa consagrada é alguém que, ao olhar-se cada dia, diz: «Tudo é dom, tudo é
graça». Queridos irmãos e irmãs, não é mérito nosso a vida religiosa, é um dom
de amor que recebemos.
Segundo o Papa, “saber ver a
graça é o ponto de partida. Olhar para trás, reler a própria história e ver
nela o dom fiel de Deus, não apenas nos grandes momentos da vida mas também nas
fragilidades, fraquezas e misérias. O tentador, o diabo insiste
precisamente em nossas misérias, em nossas mãos vazias, e corremos o risco de
perder a bússola, que é a gratuidade de Deus. Com efeito, Deus nos ama e sempre
se oferece a nós, mesmo nas nossas misérias. Quando mantemos o olhar fixo
n’Ele, abrimo-nos ao perdão que nos renova e somos confirmados pela sua
fidelidade”.
"Com efeito, sobre a vida
religiosa, paira esta tentação: ter um olhar mundano. É o
olhar que já não vê a graça de Deus como protagonista da vida e vai à procura
de qualquer substituto: um pouco de sucesso, uma consolação afetiva, fazer
finalmente aquilo que quero", frisou o Papa.
“A
vida consagrada, quando deixa de girar em torno da graça de Deus, retrai-se no
próprio eu: perde impulso, acomoda-se, paralisa.”
E sabemos o que acontece depois!
Reivindicam-se os espaços próprios e os direitos próprios, deixamo-nos cair em
críticas e murmurações, indignamo-nos pela mais pequena coisa que não funcione
e entoamos a ladainha da lamentação acerca dos irmãos, das irmãs, da
comunidade, da Igreja e da sociedade. Já não se vê o Senhor em tudo, mas só o
mundo com as suas dinâmicas; e o coração se restringe.
Castidade, caminho para amar sem se
apoderar
A fim de ter um olhar justo sobre a
vida, Francisco convidou os consagrados a pedirem para “saber ver, como Simeão,
a graça de Deus que veio para nós. O Evangelho repete três vezes que Simeão
tinha familiaridade com o Espírito Santo, que estava nele, o inspirava e
impelia. Tinha familiaridade com o Espírito Santo, com o amor de Deus".
“A
vida consagrada, se permanecer firme no amor do Senhor, vê a beleza. Vê que a
pobreza não é um esforço titânico, mas uma liberdade superior, que nos
presenteia como verdadeiras riquezas Deus e os outros. Vê que a castidade não é
uma esterilidade austera, mas o caminho para amar sem se apoderar. Vê que a
obediência não é disciplina, mas a vitória, no estilo de Jesus, sobre a nossa
anarquia.”
A seguir, o Papa contou uma
experiência vivida por algumas religiosas: "Numa das terras onde ocorreu o
terremoto, falando de pobreza e vida comunitária, havia um mosteiro beneditino.
Outro mosteiro convidou as religiosas para se mudar e viver nesse mosteiro.
Elas ficaram ali pouco tempo mas não eram felizes, pensavam no lugar que tinham
deixado, nas pessoas de lá. No final, decidiram voltar e fazer o mosteiro em
dois trailers. Em vez de estarem num grande mosteiro, confortáveis, eram como
pulgas, ali, todas juntas, mas felizes na pobreza. Isso aconteceu no ano
passado. Uma coisa bonita!"
Olhar dos consagrados, olhar de
esperança
"Quem mantém o olhar fixo em
Jesus, aprende a viver para servir. Não espera que os outros comecem, mas vai à
procura do próximo, como Simeão que procurava Jesus no templo", disse
ainda Francisco. "E onde se encontra o próximo, na vida consagrada? Primeiramente,
na própria comunidade. Devemos pedir a graça de saber procurar Jesus nos irmãos
e irmãs que recebemos. É aqui que se começa a praticar a caridade: no lugar
onde se vive, acolhendo os irmãos e irmãs com as suas pobrezas, como Simeão
acolheu Jesus simples e pobre. Há muitos, hoje, que só veem nos outros
obstáculos e complicações. Há necessidade de olhares que procurem o próximo,
que aproximem de quem está distante. Como homens e mulheres que vivem
para imitar Jesus, os religiosos e as religiosas são chamados a tornar presente
no mundo o olhar d’Ele, o olhar da compaixão, o olhar que vai à procura dos
distantes, que não condena, mas encoraja, liberta, consola."
“O olhar dos consagrados só pode
ser um olhar de esperança”, disse ainda o Papa. “Saber esperar. Olhando ao
redor, é fácil perder a esperança: as coisas que estão mal, a diminuição das
vocações, etc. Paira ainda a tentação do olhar mundano, que aniquila a
esperança”.
Francisco
concluiu a sua homilia, dizendo que Simeão e Ana “eram idosos, viviam sozinhos
e contudo não perderam a esperança, porque estavam em contato com o Senhor”.
“Ana «não se afastava do templo, participando do culto noite e dia, com jejuns
e orações». Aqui está o segredo: não se afastar do Senhor, fonte da esperança.”
Fonte:
Vatican News
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