“A paz esteja convosco” – é com estas palavras de Cristo ressuscitado aos seus apóstolos que o Papa se dirigiu aos bispos da Colômbia, no Palácio Cardinalício de Bogotá.
“Vim anunciar Cristo e, em seu nome, realizar um caminho de paz e reconciliação. Cristo é nossa paz! Reconciliou-nos com Deus e entre nós”.
E foi efectivamente em torno da questão da paz, reconciliação, diálogo, e valorização de toda a riqueza humana, espiritual e material da Colômbia que o Papa articulou o seu longo discurso. Um discurso em que recordou o papel singular que os Bispos são chamados a desempenhar nessa sociedade dilacerada por anos de conflito, de medo. Mas Francisco não foi à Colômbia para falar do medo. O que deseja é encorajar a acreditar que pode haver um outro caminho nesse país que, disse, “possui algo de original” que “se esconde aos forasteiros ávidos de a subjugar, mas se oferece generosamente a quem toca o seu coração com a mansidão do peregrino”.
E é como peregrino atento a esse original tesouro multifacetado que Francisco se dirigiu à Igreja colombiana com os seus ensinamentos que se inscrevem – disse - na linha de continuação de quanto haviam já dito os seus predecessores que visitaram a Colômbia: Paulo VI e João Paulo II.
A mensagem de Francisco é: “Demos o primeiro passo”. Com referencias teológicas ao primeiro passo dado por Deus em diversas situações, o Papa frisou que é Jesus o primeiro passo e “é um passo irreversível”, uma bússola que não deixa quem confia n’Ele perder-se. E convida os bispos colombianos a não silenciarem a voz d’Aquele que os chamou. A não se deixarem levar pelos elogios dos poderosos de turno mas, nos momentos de dificuldades, a lutarem com Deus na oração, seiva vital de um bispo, “até que Ele vos abençoe” – disse-lhes. Feridos por Deus sereis “capazes de curar” – afirmou Bergoglio.
A condição para tornar visível este primeiro passo é ser os primeiros a amar, “é a prontidão” em se aproximar de Jesus” e a não medir-se com aqueles que querem ver os bispos como “uma casta de funcionários submetidos à ditadura do presente. Há que manter “o olhar sempre fixo na eternidade daquele que vos escolheu, prontos a receber o julgamento dos seus lábios”, sublinhou o Papa – que acrescentou:
“Na complexidade do rosto desta Igreja colombiana, é muito importante preservar a singularidade das suas diferentes e legítimas forças, as sensibilidades pastorais, as peculiaridades regionais, as memórias históricas, as riquezas das peculiares experiencias eclesiais. O Pentecostes permite que todos escutem na própria língua. Por isso, procurai com perseverança a comunhão entre vós. Nunca vos caseis de a construir através do diálogo franco e fraterno, condenando como uma peste os projectos escondidos”.
Francisco encorajou cada um dos Bispos a ser solicito em dar o primeiro passo, em deixar-se enriquecer com aquilo que o outro pode oferecer, a ter em conta o valor fundamental da mensagem evangelizadora das Províncias Eclesiásticas, a não se contentar com o medíocre ou o mínimo.
Recomendou igualmente a reservar “uma sensibilidade particular às raízes afro-colombianas (…) que tão generosamente têm contribuído para desenhar o rosto (…) da Colômbia”
O Papa convidou os bispos colombianos a não terem medo de tocar, com humildade, e sem pretensão de protagonismo, mas com coração indiviso, a carne ferida da sua história e da história do povo, cientes de que nada, senão o Senhor, deve submeter a sua alma como Pastores.
“A Colômbia precisa da vossa visão, própria de Bispos, a fim de a apoiar na coragem do primeiro passo para a paz definitiva, a reconciliação, o repúdio da violência como método, a superação das desigualdades que são a raiz de tantos sofrimentos, a renúncia ao caminho fácil mas sem saída da corrupção, a consolidação paciente e perseverante da res publica que requer a superação da miséria e da desigualdade”.
Uma “tarefa árdua mas irrenunciável” faz notar o Papa dizendo que “os caminhos são íngremes e as soluções não são óbvias”, mas de Deus e da cruz do seu Filho, vem a força.
Francisco citou depois Gabriel Garcia Marques para dizer que começar uma guerra é muito mais fácil que terminá-la, pois, acrescentou “A guerra deriva de quanto há de mais baixo no coração do homem” enquanto que “a paz impele-nos a ser maiores do que nós mesmos”.
Garcia Marquez resumia a guerra numa palavra: o medo. Mas o que Francisco pretende é encorajar os colombianos, os Bispos a “continuar a acreditar que se poder agir doutra maneira”. E como pessoas que conhecem as deformações do rosto da Colômbia e guardiões dos elementos fundamentais que o tornam uno, apesar das lacerações, o Papa recordou aos bispos:
“A Colômbia precisa de vós para se reconhecer no seu verdadeiro rosto cheio de esperança não obstante as suas imperfeições”.
E encorajou-os a fazerem de cada uma das suas igrejas “um ventre de luz, capaz de gerar, mesmo sofrendo a pobreza, as novas criaturas” de que a Colômbia precisa. Exortou-os a se refugiarem na humildade do povo para poderem ver os seus secretos recursos humanos e de fé, a escutarem a sua humanidade que brama pela dignidade que só do Ressuscitado pode vir.
A missão peculiar do Pastor foi trazida ao de cima pelo Papa ao recordar aos Bispos que não são nem técnicos, nem políticos, mas sim pastores e que a Cristo é a palavra de reconciliação escrita nos seus corações.
À Igreja, recomendou-lhes, não servem alianças com uma parte ou com outra, mas sim a liberdade de falar ao coração de todos, a liberdade de pronunciar a Palavra de Deus. E é nisto que têm a possibilidade de sustentar uma inversão de rota.
Peço-vos - continuou o Papa – para manterdes o olhar sempre fixo no homem concreto, feito de carne e osso, amado por Deus.
Por fim Francisco falou de alguns anseios que traz no coração como a família, a vida, os jovens, os sacerdotes, as vocações, os fieis leigos, a formação. E disse não levar receitas nem uma lista de tarefas a deixar aos bispos. Exortou-os, todavia, a conservar a serenidade, conscientes de que o maligno semeia joio, mas a terem a paciência do Senhor do campo, confiando na boa qualidade das suas sementes e na força oculta do fermento do Senhor. “A força humilde do Evangelho” é o que de mais forte podeis oferecer às famílias colombianas – afirmou.
Em relação aos jovens, o Papa recomendou os bispos a fazerem com que se sintam amados; aos sacerdotes que sintam ter no Bispo um pai, que sabe também cuidar da sua formação. A vida dos consagrados e consagradas – recomendou - o Papa não deve ser transcurada e o mesmo cuidado formativo deve ser manifestado também em relação aos fieis leigos.
E o Papa não deixou de lado os desafios da Igreja na Amazónia, parte essencial da biodiversidade da Colômbia e, perguntando-se se ainda somos capazes de aprender dos indígenas da Amazónia a sacralidade da vida, o respeito pela natureza, a consciência de que a razão instrumental não é suficiente para colmatar a vida do homem. E exortou toda a Igreja colombiana a consolidar o rosto amazónico, mediante o apoio missionário de todas as dioceses e de todo o clero.
E concluiu convidando a suplicar o Senhor – por intermédio de Nossa Senhora do Rosário de Chiquinquirá – a graça da verdadeira Renovação por que aspira a Colômbia.(DA)(from Vatican Radio)
Fonte: Rádio Vaticano
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