A proposta desse texto é abordar a Iniciação à Vida Cristã (IVC) dentro do itinerário proposto pela Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB). É a partir da compreensão de itinerário que a catequese se enriquece no seu desenvolvimento com a ajuda da Psicopedagogia, que é o saber que trata dos processos de aprendizagem, dando ao itinerário uma catequese segundo as idades. Dentro desse universo se insere a catequese com adolescentes, que é grupo especialmente atendido no processo catequético de Confirmação (Crisma). A adolescência requer uma atenção que procure reconhecer os elementos próprios dessa etapa da vida e como podem ajudar na relação entre catequista e catequizando.
Para
início passemos ao levantamento de algumas propriedades da adolescência. Uma
observação necessária é considerar que a adolescência não é somente etapa de
rápida passagem, que teria pouco a contribuir com a formação da personalidade,
pelo contrário, como fase de desenvolvimento humano possui propriedades.
A
adolescência é o período de saída da infância. A criança começa a sofrer
alterações no corpo, o que normalmente chamamos de puberdade (pois aparecem os
pelos); para o menino há o desenvolvimento da ejaculação, para a menina o
redimensionamento dos seios e o ciclo menstrual. Essas alterações aparecem nas
meninas por volta dos onze anos e nos meninos por volta dos treze anos de
idade. Para além da mudança no campo físico, acontecem também mudanças no campo
cognoscitivo, ou seja, na maneira como os adolescentes passam a entender o
mundo.
Por
volta dos doze anos de idade a pessoa sai da relação de conhecimento
operacional concreto e começa a dar os seus primeiros passos no conhecimento
abstrato; isso quer dizer que agora se pode conhecer sem precisar uma
experiência sensível imediata. Para saber o que é fogo não precisa tocar ou
ver. A isso chama-se de conhecimento formal. Até por volta de onze anos a pessoa
conhece muito associado ao concreto, mas agora as condições cognoscitivas estão
ampliadas e o conhecimento pode ser menos concreto.
A
relação com os pais, com o mundo em geral, na adolescência, é uma relação de
descoberta e da construção de uma primeira autonomia. Os grupos por idade são
muito significativos nessa época. Devido à alteração genital é muito comum
radicalizar-se o masculino e o feminino. O que até agora era algo que os pais
ou outros instruíam, será a conclusão da própria pessoa. A criança terá a
percepção própria de ser menino ou menina.
A
facilidade para a vida em pequenos grupos e o conhecimento abstrato irá ajudar
bastante a relação entre adolescentes e a catequese. Algumas possibilidades se
apresentam devido à fase de desenvolvimento. A catequese tem que levar em conta
essa inclinação para o grupo e poderia desenvolver pequenas gincanas, pequenos
jogos baseados em pesquisas bíblicas ou doutrinais. É também atraente as artes,
como pequenas cenas bíblicas ou da vida dos santos. Essas atividades ajudariam
a tornar a relação com a fé mais atraente. No entanto, nos dias atuais, é muito
forte a presença das redes sociais, daí a importância de aproveitar esse campo
para propor partilha de conteúdos da fé, programação paroquial, leituras
bíblicas e inclusive jogos.
A
catequese ordinária poderá ajudar os adolescentes a desenvolverem a
autoconfiança, sobretudo propondo uma oração integradora; aquela oração que faz
a pessoa se colocar plenamente diante de Deus, não como um conjunto de
fragmentos, onde caridade e sexualidade não estão vinculadas; a oração é onde a
pessoa toda se coloca diante de Deus, assim, o adolescente aprende que os
pecados ou as virtudes não estão presas à genitalidade. A catequese o ajuda a
uma compreensão integral da vida cristã: buscar crer e viver o que crê.
Há
situações em grupo nas quais o adolescente desenvolve baixo autoestima. Devido
ser um tempo de pequenos grupos e de procura da identidade é muito importante
que a catequese seja um espaço para ajudar na autoconfiança, na configuração de
projetos futuros, daí a importância de falar de vocações, talentos,
expectativas; ajudar o adolescente a viver intensamente as emoções, mas sem
entender que sejam as últimas, como são tendentes a ver.
Na
adolescência a pessoa está muito sujeita às influências para além das paredes
de casa; isso acontece porque é tempo da formação da autonomia da
personalidade. Até parece contraditória, autonomia e influência, mas é assim, o
adolescente está deixando de ser criança e quer encontrar um modelo de jovem ou
adulto, por isso é influenciado. Devido ao mundo cultural, essa busca muitas
vezes está associada ao poder e à vaidade, daí a importância da catequese e os
pais andarem juntos, falarem a mesma linguagem, para proporem aos adolescentes
uma outra forma de felicidade, um outro modo de realização da vida, por isso a
catequese deve insistir em inserir esses adolescentes na comunidade, promover
atividades caritativas, visitas a experiências que requerem a caridade, como a
visita a idosos que vivem sozinhos, fazer a limpeza da casa, preparar um
aniversário. Fazer com os adolescentes visitas missionárias, como contato
frutuoso com a comunidade. Apresentar aos adolescentes outros valores.
O
adolescente que chega à catequese já vem normalmente de uma caminhada na
comunidade e, mesmo que não a tenha feito, ele chega já com algumas ideias
aceitas ou recusadas sobre a fé, a Igreja, a comunidade local, daí a relevância
de nos primeiros encontros parar para escutar o que cada um trouxe, o que os
levou à catequese. Isso é importante porque o adolescente pode fazer uma
valiosa transição, isto é, tomar consciência de que ele quer viver a fé, não é
mais obrigado pelo pai ou pela mãe, a fé tornou-se algo seu, faz parte de sua
identidade. Nesse horizonte é um recurso valioso as conversas pessoais com cada
adolescente, um bate-papo que inspire confiança e alegria.
Portanto,
a adolescência é uma fase que vai dos cerca de onze anos até por volta dos
dezoito anos. Fase densamente sensível, com o estrondoso grito por autonomia,
mas é também uma fase aberta a acolher Deus, a continuar a vida de fé iniciada
na infância, sendo que agora a relação com a fé pode ser mais abstrata, possui
maior senso crítico e pode viver mais intensamente a comunidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário