quinta-feira, 30 de março de 2017

ENCONTRO SOBRE EVANGEIZAÇÃO COM POVOS INDÍGENAS APONTA FORMAÇÃO COMO EIXO DE TRABALHO


Iniciativa dá esperança a trabalho em conjunto na Igreja com indígenas e indigenistas pensando juntos
Ao final do Encontro sobre a evangelização dos povos indígenas, realizado em Brasília (DF), nos dias 27, 28 e 29 de março, foi constituída uma equipe para sistematizar as sugestões propostas pelos grupos de trabalhos em três eixos para a Evangelização dos povos indígenas: formação específica dos missionários que irão trabalhar com os povos indígenas; oferta de formação e qualificação dos indígenas para serem eles evangelizadores discípulos missionários de Jesus Cristo e a instituição de ministérios e ritos próprios para os   sacramentos e bênçãos para as culturas indígenas.
O encontro foi promovido pela Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e pela Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Foram parceiras as Comissões Episcopais para a Animação Bíblico-Catequética e a Comissão para a Liturgia.

Esperança de trabalho em conjunto

“Estou há mais de 20 anos trabalhando nas pastorais, como liderança das comunidades, ajudando no nível espiritual, social e político do meu povo na Igreja. É a primeira vez que sentamos com os senhores bispos, em nível de Brasil para refletir sobre a evangelização dos povos indígenas. Isso nos dá muita esperança, no sentido de um trabalho em conjunto na Igreja, indígena e indigenista pensando juntos”, conta Leonardo Ferraz Penteado, do povo indígena Tukano, e coordenador do conselho paroquial em Iauaretê, um povoado de São Gabriel da Cachoeira (AM). Leonardo faz questão de lembrar seu nome indígena Enêminê, “meu nome quer dizer pássaro que canta muito, anima, alegra, ou como dizem em português, rouxinol”.

Marco para a Igreja no Brasil

Nesse encontro, participaram bispos que têm no território de suas dioceses povos indígenas, lideranças que trabalham como povos indígenas, padres, religiosas/os e lideranças indígenas das comunidades católicas. O arcebispo emérito de São Paulo (SP) e presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB, cardeal Cláudio Cardeal Hummes, avalia o encontro como um marco para a Igreja no Brasil. “Em algumas dioceses, sobretudo, na Amazônia há a participação dos povos indígenas na evangelização para seus povos, mas neste encontro quisemos abranger o Brasil inteiro, que em diversas regiões as populações indígenas estão vulnerabilizadas, abandonadas, degradadas em seus direitos, vivendo uma situação profundamente desumana e preocupante, em acampamentos anos e anos, morrendo de fome”, relata o cardeal, que é presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam). 
De acordo com dom Cláudio, o encontro quis ouvir a atuação da Igreja junto às populações indígenas, em todo o Brasil. “Quisemos ouvir de que forma a Igreja está presente na vida dessas comunidades, como está evangelizando, de que forma está inculturando a fé, e como estamos assumindo as propostas do papa Francisco de uma Igreja mais próxima daqueles que são os últimos, uma Igreja misericordiosa, uma Igreja que encoraja, caminha junto, que anima, que ajuda a não perder o sonho a esperança, uma Igreja desejosa que os indígenas sejam protagonistas de sua história e na evangelização”, explica.
Padre Justino Sarmento Rezende, do povo Tuyuka, de São Gabriel da Cachoeira (AM), ordenado padre há 23 anos, conta que enfrentou vários desafios no sentido de não perder suas raízes na inculturação da fé cristã. “Nós temos nosso modo próprio de viver a fé, mas é no mesmo Deus criador que cremos, só vivemos de forma diferente”, afirma o padre que, ressalta ainda, ser a proposta do encontro sobre evangelização dos povos indígenas, um marco, pois a Igreja do Brasil senta-se para ouvir o que os indígenas têm a dizer sobre o modo de viver a fé cristã católica. 
“Quando se pensa em povos indígenas é comum voltar-se para a Amazônia que tem uma proporção populacional maior, contudo, vale ressaltar que no Brasil inteiro há povos indígenas”, lembra Marline Dassoler Buzatto, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Para Marline o encontro fortalece o Cimi, que é um organismo ligado à CNBB. “Assim, nós Igreja, poderemos compreender a diversidade que é o mundo indígena, e enfatizar o trabalho do Cimi na questão dos direitos dos povos indígenas, do protagonismo dos mesmos e que também é possível promover uma evangelização somando à questão social, política e antropológica. Percebo que estamos construindo um novo caminho e quem sai ganhando são os povos indígenas”, relata Marline.

Com informações e fotos de Osnilda Lima, fsp/Repam

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