domingo, 31 de julho de 2016

REFLETINDO SOBRE O EVANGELHO


Lucas 12,13-21

DÉCIMO OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM

           A liturgia deste domingo nos põe em presença de um dos mais velhos temas do comportamento humano: a cobiça, a ganância, a avareza que o apóstolo Paulo considera a raiz de todos os males. Por outro lado, se deduzimos do Evangelho que a realização do ser humano não está na posse de riquezas e bens acumulados, pó que eles são transitórios, e o ser humano tem um destino, não significa que devamos nos descuidar dos problemas e soluções do bem-estar temporal. 
          O trecho do Evangelho de hoje (Lc.12,13-21) só Lucas traz. Aproveitando um fato acontecido num dos campos da Galiléia, Jesus fala da ganância raiz de mitos males, e completa o ensinamento com uma parábola de advertência sobre a precariedade das riquezas. Não é de estranhar o pedido feito a Jesus. Segundo a lei de Moisés para os homens de campo, o filho mais velho, além de herdar a casa e o terreno sozinho, herda ainda dois terços dos bens móveis. É provável que a briga estivesse em torno do terço sobrante. Nesses casos, recorria-se ao doutor da lei, ou legisperito, uma mistura de advogado, teólogo e juiz. Vemos então, que Jesus, evitando tomar o lugar dos juristas, para que ninguém pudesse acusá-lo de usurpar poderes,fala da cobiça, da avareza, que mais tarde, São Paulo chamará de “raiz de todos os males” (cf.1Tm.6,10).
          O episódio era muito propício à lição. Alguém herda todos os bens, menos uma pequena parte, que deve ser repartida entre todos os irmãos, e nega-se fazê-lo, por que quer a herança inteira para si. Uma ganância forte, mas também o próprio amor fraterno. Fatos semelhantes são encontrados ainda nos dias atuais, visto que a cobiça e a ganância crescem grandemente no coração humano, e quase sempre são origem das brigas familiares, dos enfrentamentos das classes sociais, da corrupção nos negócios públicos e privados e a maior desgraça: - a corrida a postos políticos. Tudo isso se chama ganância e Jesus nos veio dizer que o sentido da vida humana não consiste na conquista desses bens. Não é fácil convercer-nos disso. A ganância tem raízes profundas e enganosas. Paulo, experimentado conhecedor da alma humana, chama a prática da ganância de idolatria (cf. Cl. 3,5; Ef.5,5), isto é, de culto a falso deus. Ela é tão atraente e sedutora, que leva o ser humano a atrair os contra-valores e entrar pelo desvio dos bens da terra.
          O importante, nesta reflexão, é saber que a palavra de Jesus nos garante que a vida e a felicidade são dons de Deus ao alcance de todos. E o caminho para a vida não é a acumulação, sobretudo quando resulta do empobrecimento da exploração dos outros. O verdadeiro caminho é a convivência fraterna e a partilha. Nisto consiste ser rico por Deus. 
          Que o Senhor, neste domingo, derrame sobre nós a sua benção, e que seu espírito nos torne capazes de buscar o que vale mais. Que ele tire de nós toda cobiça e nos ensine a ficar do lado dos que lutam pela justiça e pelo verdadeiro bem comum, como Jesus que, sendo rico, se fez pobre e veio como servidor da humanidade. 

Pe. Raimundo Neto
Pároco de São Vicente de Paulo

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