Uma festa popular de tradição secular, que atrai anualmente um público de 500 mil pessoas e é atração nacional para “encalhados” e “encalhadas” que sonham em se casar. Assim é a Festa de Santo Antônio de Barbalha, município cearense distante 610 km da capital, Fortaleza. O auge da festa, que teve seu marco inicial dia 13/5 e segue até 13/6, acontece este final de semana, com a Noite das Solteironas, no sábado, 28, e, no domingo, 29, o carregamento do Pau da Bandeira de Santo Antônio – um mastro de 23 metros e 2,5 toneladas, transportado ao longo de nove quilômetros nos ombros de 200 carregadores, como forma de penitência e tradição, até ser fincado no Patamar da Igreja Matriz.
O carregamento é acompanhado por uma procissão de centenas de milhares de pessoas, em uma tradição que une elementos sagrados e profanos, e que atrai especialmente quem sonha com casamento. São vários os rituais e simpatias capazes, segundo os participantes, de “remediar” até mesmo os mais longevos “encalhados”, pondo fim à “solteirice”.
A vontade de arrumar um bom partido leva milhares de moças a participar da Festa, tocando o Pau da Bandeira, sentando-se sobre ele e mesmo bebendo o chá produzido com pedaços da casca da árvore. Também não falta quem assine a bandeira com a imagem de Santo Antônio, para reforçar o pedido.
Para todos os públicos
Entre os moradores que garantem que tanta dedicação dá resultado, satisfazendo as moças aflitas pelos namorados e noivos que costumam resistir aos apelos para casamento, destaca-se dona Socorro Luna, famosa em Barbalha como a “solteirona” e uma das figuras populares de maior participação nos festejos de Santo Antônio. Este ano, dona Socorro animou-se por ter sido, na festa do dia 13/5, a primeira a tirar lascas do pau, destinadas à produção de chá e à continuidade das simpatias.
“Essa é a grande esperança. Isso aqui dá tanto matrimônio!”, exaltava, levando para casa pedaços da árvore. “Já teve casamento do Oiapoque ao Chuí. E agora, com a aprovação da lei do casamento dos homossexuais, eles vão ver que o chá da casca funciona também”, complementava, garantindo: “Santo Antônio não tem preconceito”.
Três palcos e 90 grupos na festa
Além do carregamento do Pau da Bandeira, dia 29/5, no dia 28 acontece a Noite das Solteironas, em que uma multidão cai na paquera, em busca de aproveitar as homenagens a Santo Antônio para, enfim, “sair do caritó”. Já no domingo, 29, após ser carregado no cortejo de nove quilômetros, o Pau da Bandeira será fincado em frente à Igreja Matriz de Santo Antônio, onde ostentará a bandeira sinalizando que a cidade está em festa, em louvor ao santo.
Os festejos a partir desse dia incluem desfile de 90 grupos folclóricos, em uma grande demonstração da diversidade artística e cultural de Barbalha. O público esperado na cidade é de 350 mil pessoas.
De 28/5 a 13/6 a cidade conta com três palcos: um no Largo do Rosário, um no Marco Zero e outro no Parque da Cidade. Sempre com programação musical até a madrugada, com direito a muito forró, com atrações de destaque local e nacional.
Os festejos religiosos, sociais e culturais, com trezenas, missas, quermesses, leilões, apresentações folclóricas, festas populares e uma vasta programação musical, se estendem até o dia 13, quando haverá celebração de missa de encerramento às 9 horas na Igreja Matriz e, a tarde, às 16 horas, cortejo com o carro-andor com a imagem do santo percorrendo as principais ruas da cidade.
Patrimônio cultural
A tradição do ritual profano que introduz as festividades em homenagem ao padroeiro de Barbalha se repete desde os anos 40 do século XVIII. Ação iniciada como ato de devoção e fé,onde os carregadores cumpriam promessas por graças alcançadas, o carregamento do pau da bandeira de Santo Antonio tornou-se um fenômeno cultural estudado por pesquisadores e intelectuais de várias partes do mundo, por ter se tornado uma “romaria” em que o simbolismo reunido em torno de um objeto de adorno a um Santo diminui as fronteiras entre sagrado e profano.
Este ano, está sendo lançado um documentário, dirigido pelo cineasta Rosemberg Cariry e produzido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que trabalha o tombamento do evento como patrimônio cultural brasileiro.
Fonte: Dawlton Moura
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