quarta-feira, 30 de junho de 2010

FESTA DE SÃO PEDRO TOMBADA COMO BEM MATERIAL


Praia do Mucuripe: devotos reverenciaram a imagem com alegria, porque os festejos podem vir a ter o reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (foto de Thiago Gaspar)



Pescadores festejaram o santo com missa campal, seguida da procissão de jangadas pela orla marítimaA tradicional festa de São Pedro aconteceu este ano no Mucuripe de forma diferenciada. Ontem, a celebração religiosa teve o status de bem imaterial tombado pelo Município, numa ação pioneira em Fortaleza.Embora essa prática já exista em outras cidades, em que se faz o tombamento de bens imateriais desde festas religiosas até comidas, como acarajé e até sotaques, o fato é que a festa deste ano manteve unida os fiéis, que participaram da missa campal e da procissão de jangadas pela orla marítima.A liturgia foi celebrada pelo padre Alderi Leite, que enalteceu a figura do santo, que ao lado de São Paulo, fundaram a igreja cristã. A identificação de São Pedro com os pescadores, que, aconselhado por Jesus Cristo, deixou de capturar peixes para tentar salvar os homens pela fé, foi enaltecida pelo sacerdote na homilia. O pároco chamou a atenção para o paradoxo do ser humano, que é a fraqueza e a necessidade de ser edificar.A presidente da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), Fátima Mesquita, lembrou que este ano o órgão deu um apoio especial a festa, tendo em vista que a procissão de jangadas, os saberes e fazeres em torno da pesca artesanal do Mucuripe, constituem o primeiro patrimônio imaterial tombado pela Prefeitura da Capital.Com isso, toda a liturgia e mais a capela passam a ser protegidas pelo Município. O próximo passo será o reconhecimento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Para tanto, todos os momentos foram filmados, desde a chegada do andor coberto de flores, com a imagem do Santo, até a celebração da missa e a procissão de jangadas, partindo do Mucuripe e se encerrando à altura do Praia do Náutico.A festa de São Pedro acontece desde 1932, quando os pescadores e a comunidade do Mucuripe organizaram a procissão de jangadas pelo mar e uma missa campal no entorno da igreja de São Pedro, para reverenciar e agradecer ao santo pescador a fatura nas redes de pesca.De acordo com o Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural de Fortaleza (Comphic), "a celebração é percebida pelo ritual que marca a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade entretenimento e outras práticas da vida social. Essas expressões devem ser preservadas e protegidas em respeito aos antepassados e gerações futuras".Para o presidente da Colônia de Pescadores Z-8, Porsidônio Soares Filho, a iniciativa da Prefeitura de Fortaleza merece todos os elogios dos pescadores. Ele pediu para que mais ações sejam desenvolvidas para o apoio dos pescadores artesanais, tanto pela forma como oferecem alimentos para a cidade, tanto pelo fato de que é um meio de subsistência que ainda envolve milhares de trabalhadores na Capital cearense.
ENTREVISTA
Esperança e alegriaRaimundo José Nunes64 ANOSPescadorSão Pedro nos lembra fartura, por isso continuamos a fazer promessas para termos sucesso no mar
Francisco Hilton dos Santos51 ANOSPescadorQuero muito agora ver a prática da política em apoiar o pescador. Esse é o nosso objetivo principal no momento
Maria das Graças Régis61 ANOSAposentadaEstou feliz com a festa e mais ainda pelo tombamento. Nunca o Dia de São Pedro foi alegre quanto agora
NO BRASIL16 manifestações são reconhecidas
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tem hoje 16 bens imateriais registrados no Brasil, de ofícios tradicionais (como as baianas de acarajé, na Bahia) a artes (a pintura corporal kusiwa, dos índios wajãpi do Amapá), de manifestações (o partido alto e o samba-enredo cariocas), a lugares (a feira de Caruaru, em Pernambuco).Outros 29 processos de registro estão em andamento, como o Toque dos Sinos (MG) e a Festa do Divino Espírito Santo, de Pirenópolis (GO).O debate sobre a conservação do patrimônio imaterial visa a mostrar que os processos de produção cultural são tão importantes como o patrimônio material, pois este torna-se uma categoria social quase vazia quando é extirpada de seus valores culturais imateriais.No dia 7 de agosto do ano de 2000, foi publicado o decreto instituindo o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem o patrimônio cultural brasileiro.O texto da Constituição Federal de 1988, em seu artigo 216, já reconhecia a dupla natureza material e imaterial dos bens culturais, estabelecendo tanto o tombamento quanto o registro.Como o tombamento pode ser considerado um processo inadequado para a preservação de práticas culturais intangíveis e dinâmicas, necessita-se de instrumentos de identificação, valorização e apoio que favoreçam a sua permanência.Ao contrário do tombamento, cujo objetivo é a preservação das características originais de uma obra, seja móvel ou imóvel, o registro trata apenas de salvaguardar o desejo de uma comunidade em manter viva uma tradição, que pode vir a sofrer mudanças com o tempo.Um exemplo é o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, em que o registro preserva e repassa o saber do ofício da fabricação de panelas de barro feitas na cidade de Goiabeiras Velha, no Espírito Santo, que é indispensável para se fazer e servir a típica moqueca capixaba.


Fonte: Diário do Nordeste/Marcus Peixoto/REPÓRTER

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