"A Igreja está aberta a todos, porque, em Deus, existe para os outros", disse o Papa Bento XVI ao corpo diplomático credenciado junto à Santa Sé, recebido esta manhã na Sala Régia, no Vaticano, para as felicitações no início do novo ano.A preservação da natureza esteve no centro do discurso do Papa.Ao receber os embaixadores de 178 países, o Pontífice saudou todas as outras nações da Terra: "O Sucessor de Pedro mantém aberta a sua porta para todos, e com todos deseja tecer relações que contribuam para o progresso da família humana".Bento XVI falou dos perigos ecológicos que ameaçam o planeta: "A negação de Deus desfigura a liberdade da pessoa humana, mas devasta também a criação. Daqui resulta que a preservação da natureza não visa tanto responder a uma exigência estética, mas, sobretudo, a uma exigência moral", citando a recente Cúpula de Copenhague, e os eventos sobre o clima que aguardam os líderes mundiais em 2010, fazendo votos de que se chegue a um acordo satisfatório.Ao falar sobre segurança alimentar, o papa recordou de sua viagem a Camarões e Angola em março do ano passado e a realização do Sínodo para a África. Os Padres Sinodais assinalaram, com preocupação, a erosão e a desertificação de amplas extensões de terra cultivável, por causa da exploração selvagem e da poluição do ambiente. Na África, como em outros lugares, é necessário adotar opções políticas e econômicas capazes de assegurar formas de produção agrícola e industrial que respeitem a ordem da criação e satisfaçam as necessidades primárias de todos.Por outro lado, a luta pelo acesso aos recursos naturais é uma das causas de vários conflitos. "Esta é mais uma razão que me leva a repetir com vigor que, para cultivar a paz, é preciso proteger a criação" – disse o Papa. "Em diversas partes, há ainda vastas extensões, por exemplo, no Afeganistão ou em alguns países da América Latina, onde infelizmente a agricultura ainda está ligada à produção de droga, constituindo uma fonte não indiferente de emprego e subsistência.""A proteção da criação é um fator importante de paz e de justiça". O papa condenou as guerras em Darfur, na República Democrática do Congo e na Somália. Mencionou as perseguições religiosas contra os cristãos do Médio Oriente, citando a convocação do Sínodo dos Bispos para o outubro próximo, no Vaticano.Falando da Europa, analisou a mídia e o tratamento dispensado à religião, particularmente à religião cristã. Discorreu sobre a laicidade positiva, aberta, que, fundada sobre uma justa autonomia da ordem temporal e da ordem espiritual, favorece uma sã cooperação e um espírito de responsabilidade compartilhada.No contexto da preservação da natureza e da salvaguarda da Criação, o Papa relevou um aspecto importante, característico do 'ser cristão': a solidariedade, expressa por muitos nos momentos de necessidade.Bento XVI citou as catástrofes naturais que semearam mortes, sofrimentos e destruições, neste ano que passou, nas Filipinas, no Vietnã, Laos, Camboja, na ilha de Taipei e na Indonésia, e ainda na região italiana dos Abruzos, ferida pelo terremoto em abril passado."Mas, além da solidariedade, a preservação da criação tem necessidade também da concórdia e da estabilidade dos Estados", sugeriu o Pontífice.Para defender a paz em meio a divergências e hostilidades, os líderes devem seguir com tenacidade o caminho de um diálogo construtivo. Como exemplo, Bento XVI citou a América Latina, recordando o ocorrido há 25 anos com o Tratado de Paz e Amizade entre a Argentina e o Chile, concluído graças à mediação da Sé Apostólica, e a atual aproximação entre Colômbia e Equador, depois de vários meses de tensão.A respeito de pacificação, foram recordados o entendimento concluído entre a Croácia e a Eslovênia e o acordo entre a Armênia e a Turquia, além de desejada a melhora das relações entre todos os países do Cáucaso meridional.Uma vez mais, o papa elevou a voz pedindo que seja universalmente reconhecido o direito do Estado de Israel a existir e gozar de paz e segurança nas fronteiras internacionalmente reconhecidas e, igualmente, que seja reconhecido o direito do povo palestino a uma pátria soberana e independente, a viver com dignidade e a movimentar-se livremente.O pontífice pediu o apoio de todos para que se proteja a identidade e o caráter sagrado de Jerusalém: “Só assim, esta cidade única, santa e atribulada poderá ser sinal e antecipação da paz que Deus deseja para toda a família humana”.Sobre o Iraque, Bento XVI exortou seus governantes e cidadãos a superarem as divisões, a tentação da violência e a intolerância, para construírem juntos o futuro do país.Enfim, abordando um tema da crônica de nossos dias, o papa recordou a necessidade de respeito, segurança e liberdade para as comunidades cristãs, citando o Paquistão, duramente fustigado pela violência nestes últimos meses.Ainda a respeito de violência anticristã, o Papa mencionou o deplorável atentado contra a comunidade copta egípcia nestes últimos dias, precisamente quando festejava o Natal.Bento XVI fez votos de soluções compartilhadas para situações difíceis no Irã, no Líbano, na Guiné e em Madagascar, e se desculpou por não poder citar todos os países representados.Concluindo, recordou que há tanto sofrimento na humanidade e o egoísmo humano danifica a criação de muitas maneiras. É por isso que a expectativa da salvação, que diz respeito a toda a Criação, aparece ainda mais intensa e está presente no coração de todos, crentes e ateus. Suas últimas palavras foram de esperança:"Que a luz e a força de Jesus nos ajudem a respeitar a ecologia humana, cientes de que esta beneficiará a ecologia ambiental, porque o livro da natureza é único e indivisível. Poderemos assim consolidar a paz para as gerações atuais e futuras"..: Leia o discurso do Papa na íntegra
Leonardo Meira, da Canção Nova Notícias, com Rádio Vaticano
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