26 anos. O terceiro maior Pontificado
da História da Igreja. Duas décadas e meia que revolucionaram a sociedade
contemporânea no campo político, social e humanitário. De fato, São João Paulo
II desenvolveu na prática a expressão de um dos Paulo VI: civilização do amor.
Sua atuação no combate ao comunismo, na defesa da família, do estímulo ao
diálogo inter-religioso e na promoção da paz o levou a ser conhecido
carinhosamente como “peregrino do amor”, em alusão às suas constantes visitas
papais: foram 129 países em que o papa polonês repetia o gesto que se tornou
símbolo da sua presença: beijar o chão de cada novo lugar que visitava logo
depois de descer do avião..
Mas a história que conhecemos hoje
sobre o Papa, que já no seu funeral em abril de 2005 era declarado pelas
multidões “Santo Súbito!” (santo imediatamente), tem raízes em uma vila simples
da Polônia. Karol Józef Wojtyła nasceu em 18 de maio de 1920, em Wadowice. Era
o mais novo de três irmãos (sua irmã, Olga, morreu antes de seu nascimento).
Filho do oficial do exército polonês, Karol, e de Emilia Kaczorowska, teve uma
gestação de risco. Os médicos até chegaram a aconselhar a mãe que interrompesse
a gravidez, dado o risco de vida que corria. Mas em um gesto profético, Emilia
opta pela gestação daquele que anos à frente seria um grande defensor da
família e da vida.
Com a saúde debilitada, Emília morreu
nove anos após o nascimento de Lolek, apelido carinhoso de Karol dado por sua
mãe. Três anos depois a morte voltaria a visitar sua vida: seu irmão mais
velho, Edmund. Médico, tratou de doentes vítimas de uma epidemia de
escarlatina, acabando por contrair a infecção que lhe seria fatal. Karol o
lembrava como “mártir do dever”.
Aos 21 anos, Karol ainda perderia o
último membro da família: seu pai. Foi com ele que aprendeu o amor à Virgem
Maria, a honestidade, a bravura, o patriotismo. “A dor dele se
transformava em oração. O simples fato de vê-lo se ajoelhar teve uma influência
decisiva nos meus anos jovens. Não falávamos de vocação ao sacerdócio, mas o
exemplo dele foi para mim, de qualquer modo, o primeiro seminário, um tipo de
seminário doméstico”, confessou mais tarde o já Papa João Paulo II.
Mesmo com todas as perdas, o amor
recebido na família movia o coração do jovem Karol a Deus e alimentava a força
para enfrentar outras dores e sofrimentos, como a ocupação nazista na Polônia.
Para driblar o regime opressor, o papa que queria ser ator, chegou a trabalhar
em uma pedreira e uma indústria química para evitar a deportação para Alemanha.
Mesmo sem ser deportado, assistiu de perto os horrores da guerra, as profundas
marcas deixadas em sua amada Polônia e conheceu várias histórias de sofrimento,
como a de uma jovem de 13 anos, que salvou da fome após sair de um campo de
concentração, e a de outra jovem, vítima de experimentos científicos nazistas.
A dor da nação o ensinou a amar seu país e a enxergar que o caminho da paz
sempre será o mais acertado a ser seguido. As experiências com as pessoas
ensinou que “quem salva uma vida, salva o mundo inteiro”.
Foi também durante a ocupação nazista
que Karol já caminhava em direção ao sacerdócio. Clandestinamente, em 1942,
entrou para o seminário, tendo aulas secretas na residência do arcebispo de
Cracóvia. Quatro anos mais tarde, em 1 de novembro de 1946, Karol Wojtyla
foi ordenado padre pelo cardeal Adam Sapieha. Durante doze anos, alternou sua
vida presbiteral entre estudos, licenciatura de teologia e ética social, além
dos trabalhos próprios do exercício do ministério sacerdotal, como vigário de
algumas paróquias de Cracóvia. 12 anos após a ordenação presbiteral, Wojtyla se
tornou bispo de Ombi e bispo auxiliar da Cracóvia. Em 1964, tornou-se Arcebispo
da Cracóvia. Em 1967, tornou-se cardeal, por indicação de Paulo VI.
Wojtyla foi eleito Papa em 16 de
outubro de 1978, no conclave que sucedeu a morte do Papa João Paulo I. Era a
primeira vez em cerca de 450 que era eleito um papa não italiano. Escolheu o
nome João Paulo II e implantou em seu papado os valores que tinha aprendido ao
longo da vida no anúncio do Evangelho de Cristo. Manteve discurso conciliador e
pacificador, mediando a paz em várias situações de conflito, porém, sem se
esquivar da luta contra a influência comunista na Polônia sem uso de nenhuma
arma, senão o Evangelho e o amor. Defendeu ferrenhamente os valores da família
– que chamou de santuário da vida – e a inviolável dignidade de todo
ser humano dentro do projeto de amor de Deus por cada um – de onde brota aquilo
que ficou conhecido como a Teologia do Corpo.
Com o lema “Totus tuus”, “todo
teu, Maria”, declarou seu amor e total devoção à Virgem Maria, particularmente
à Nossa Senhora de Częstochowa, padroeira da Polônia. E foi à Virgem Maria que
o Papa atribuiu a sobrevivência ao atentado que sofreu em 13 de maio de
1981.
João Paulo II criou as Jornadas
Mundiais da Juventude, escreveu 14 encíclicas, organizou 15 assembleias do
Sínodo dos Bispos, nomeou 231 cardeais, beatificou 1338 pessoas e canonizou 482
santos. Mas foi além das palavras e demonstrou sua santidade, mesmo nos
momentos de dor. Nos últimos anos de vida lutou bravamente contra o Parkinson.
Entrou para eternidade no dia 2 de abril de 2005. Seu funeral reuniu milhões de
fiéis em Roma e mais de 200 representantes de governos. Lido e explicado à luz
do amor, seu legado permanece vivo e firme; e seu convite feito na homilia do
início do seu pontificado continua a ecoar: “Não tenhais medo! Abri, melhor,
escancarai as portas a Cristo!“.
São João Paulo II, rogai por nós!
Fonte: Canção Nova Notícias
Referência:
Nenhum comentário:
Postar um comentário