segunda-feira, 11 de março de 2019

I CATEQUESE 2019 ESPIRITUALIDADE QUARESMAL : JEJUM

A partir de hoje, o padre Rafhael Maciel, da Arquidiocese de Fortaleza (missionário da misericórdia),  vai partilhar  conosco algumas "Catequeses  Quaresmais semanais, enviadas de Roma, onde ele se encontra  

Com a graça de Deus iniciamos este tempo especial de Quaresma em preparação para a celebração da Páscoa do Senhor, e nesse caminho somos convidados a deixar morrer o homem velho que há em nós e a ressurgir, com Cristo, o homem novo renascido pela graça do Espírito Santo (Ef 4,22). Como recorda, já no I século, São Clemente de Roma: “em cada geração o Senhor concedeu um tempo favorável de penitência a todos os que a ele quiserem se converter” (Carta aos Coríntios 7). A mãe Igreja nos oferece os elementos para nosso itinerário quaresmal; e já os podemos encontrar na liturgia da Quarta-feira de Cinzas. Na oração inicial da Missa de Cinzas, pela boca do sacerdote a Igreja reza: “Concedei-nos, ó Deus todo-poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo da Quaresma, para que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal”. Desta oração colhemos a primeira arma da espiritualidade quaresmal: o jejum – reconhecido como sinal de penitência e de fortalecimento na luta contra o espírito do mal. Jesus já havia falado sobre esse assunto com os seus discípulos ao ser perguntado sobre uma dificuldade que eles tiveram em expulsar um demônio: “Quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum” (Mt 17, 21). A exortação é clara e límpida: só com oração e jejum. E para que servem os sacrifícios, especialmente esse de jejuar? A Igreja continua nos ajudando a entender. Ainda na Quarta-feira de Cinzas, na oração que o sacerdote faz sobre a oferta do pão e do vinho está escrito: “Oferecendo-vos este sacrifício no começo da Quaresma, nós vos suplicamos, ó Deus, a graça de dominar nossos maus desejos pelas obras de penitência e caridade, para que, purificados de nossas faltas, celebremos com fervor a paixão do vosso Filho”. Ao escutarmos essa oração pensamos, imediatamente, no sacrifício da Santa Missa, mas também podemos pensar no sacrifício das nossas vidas, que com o pão e o vinho ofertamos no altar de Deus. Em sua I Carta, São Pedro exorta: “e quais outras pedras vivas, vós também vos tornais os materiais deste edifício espiritual, um sacerdócio santo, para oferecer vítimas espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (I Pd 2, 5). Ofertamos o sacrifício do nosso jejum e pedimos a Deus a graça de dominar os maus desejos – eis aí um dos frutos de um jejum feito na oração e na comunhão com o Senhor: o domínio de nós mesmos, de nosso instintos e de nossas vontades desmedidas. Saímos do centro, para dar lugar ao Senhor e à sua Vontade. O jejum que fazemos deve nos recordar que não somos autossuficientes, que não nos bastamos a nós mesmos; lembra-nos de que somos necessitados, que em algum momento da vida sentimos falta de algo – seja do alimento material sejam de outras coisas (que podemos eleger para também jejuar nesse período quaresmal). O Papa São Leão Magno exortava os fieis ao jejum, especialmente nesses quarenta dias de Quaresma, dizendo que o jejum não deveria ser “somente reduzindo os alimentos, mas sobretudo abstendo-se do pecado” (Sermão 6 de Quadragesima). As cinzas que recebemos na celebração que abre a Quaresma dá-nos o tom daquilo que devemos, espiritualmente, buscar nesse tempo de graça, como está em uma das orações de bênção das cinzas, e que a Igreja reza: “Deus de infinita bondade, que não desejais a morte do pecador mas a sua conversão, ouvi misericordiosamente as nossas súplicas e dignai-Vos abençoar + estas cinzas que vamos impor sobre as nossas cabeças, para que, reconhecendo que somos pó da terra e à terra havemos de voltar, alcancemos, pelo fervor da observância quaresmal, o perdão dos pecados e uma vida nova à imagem do vosso Filho ressuscitado, Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo”. Um segundo fruto do jejum, e das demais práticas ascéticas da Quaresma, é saber quem e o que somos: pó da terra – feitos do barro (Gn 2,7). Reconhecer que somos filhos de Deus, mas reconhecer ao mesmo tempo que somos frágeis, somos quebradiços, e devemos ter cuidado com a nossa vida e com a vida dos nossos irmãos. Tomar consciência de que nossa vida aqui, no espaço e no tempo não será eterna, mas se eternizará depois daqui. Ora, se nossa vida se eternizará depois daqui, cabe-nos perguntar: aonde ela será eterna? Será eterna em Deus, no Outro por excelência. São Paulo nos diz: “Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido” (1 Cor 13,12) e São João, evangelista: “Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isso se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é” (1 Jo 3,2). Nosso Senhor, com o imenso desejo de nos salvar e de ver nossas vidas imersas na sua própria vida, dá-nos os meios necessários para nossa conversão, para que possamos nos assemelhar a Ele cada vez mais. Lembrava Bento XVI que o jejum “é o sinal externo de uma realidade interior, do nosso compromisso, com a ajuda de Deus, de nos abstermos do mal e de vivermos do Evangelho” (Audiência Geral, 09/03/2011). O terceiro fruto das nossas penitências quaresmais deveria ser exatamente isso: chegarmos a uma vida nova à imagem de Cristo Ressuscitado, sermos um com Ele – nas palavras, nas ações, no contato com o Pai. Ele mesmo nos ensina a viver as práticas quaresmais, como veremos no Evangelho do I Domingo de Quaresma, ao vencer as tentações no deserto (prazer – ter – ser), ao vencer o espírito do mal. Façamos, então, os esforços necessários para a santificação da nossa vida e da vida daqueles com quem convivemos; encaremos todos os meios de mortificação que a Igreja nos oferece como boa medicina divina para nossa saúde física, mental e espiritual, como rezamos na oração depois da Comunhão, da Missa de Cinzas: “Ó Deus, fazei que sejamos ajudados pelo sacramento que acabamos de receber, para que o jejum de hoje vos seja agradável e nos sirva de remédio”.

Pe. Rafhael Silva Maciel Padre da Arquidiocese de Fortaleza Missionário da Misericórdia

Nenhum comentário: