Padre Geovane Saraiva*
Registro,
com carinho, os 110 anos de nascimento de Dom Helder Câmara (07/02/1909), que,
ao assumir a Arquidiocese de Olinda e Recife (11/04/1964), assim se expressou:
“Quem estiver sofrendo no corpo e na alma; quem, pobre ou rico, estiver
desesperado, terá lugar no coração do bispo”. Podemos perceber que, dentro da
missão do Filho de Deus, essa expressão nos diz que não basta se encantar e se
admirar com os ensinamentos de Jesus de Nazaré, no testemunho dado a seu
respeito na sinagoga. Urge, da nossa parte, seus seguidores, acolher com
generosidade sua força profética, encarnada em Dom Helder Câmara, inserindo-a
na dolorosa realidade da vida humana e do mundo. Também é tarefa nossa não
prescindir dos sinais luminosos da presença de Deus e, igualmente, se deve
atentar para sombras, equívocos, lacunas e escuridões: “Quando os problemas
parecem ser absurdos, os desafios são apaixonantes”.
Como é
visível a dinâmica e os alicerces do Reino de Deus, na misteriosa e inefável
força do Espírito Santo, a mesma que encontrou eco em Dom Helder, falar a
homens e mulheres de seu tempo, profetizando em alto e bom tom que “o
verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros
nascem ricos, e que os pobres devem atribuir sua pobreza à vontade de Deus”.
Daí, Jesus proclamou o Jubileu da Graça do Senhor, na Boa-nova aos pobres, na
redenção dos presos e na restituição da liberdade aos oprimidos (cf. Lc 4, 18),
ao imprimir na mente e no coração das pessoas o sentido amplo e bem largo do
Evangelho, contrariando seus conterrâneos, os quais só pensavam no próprio
prestígio e no da comunidade, numa cidade de Nazaré diferenciada e lá nas
alturas.
Ser
profeta nos nossos dias significa ter a mesma consciência de Dom Helder, nas
exigências, nos desafios e mesmo nas rejeições da parte de muitos. Jesus deixa
claro, na sinagoga de Nazaré, que um profeta não é um futurólogo ou vidente;
também longe dele pensar em um ser que antevê tragédias ou catástrofes. Ele
anuncia o Evangelho na sua plenitude, confrontando com a realidade histórica da
humanidade, sem dela fugir. Indica-nos que somos chamados a perceber os sinais
de Deus ao nosso redor, seja na Igreja ou na sociedade como um todo, sinais com
marcas da incoerência e contrários ao seu projeto de amor.
Deus
nos dê a graça de, encantados, acolhermos o dom da vida de Dom Helder, profeta
e sonhador, agarrados nas armas transformadoras e nos ensinamentos de Jesus de
Nazaré, ao abrir-nos o caminho do seu seguimento: “É graça divina começar bem,
graça maior é persistir na caminhada, mas a graça das graças é não desistir
nunca” (Dom Helder).
*Pároco de Santo Afonso, Jornalista,
Blogueiro, Escritor e Colunista, integra a Academia Metropolitana de Letras de
Fortaleza – geovanesaraiva@gmail.com
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