segunda-feira, 26 de março de 2018

VOZ DO ARCEBISPO


 A vitória do amor sobre a violência


A Paixão, Morte, Sepultura e Ressurreição de Jesus é o centro de todo o Evangelho. É a revelação plena do Mistério de Deus na carne humana. Fundamento da Fé Cristã, a grande novidade perpétua para todo o mundo. Jesus venceu o pecado e suas consequências, venceu o egoísmo, venceu a violência que ele perpetra, venceu a morte que é seu resultado, venceu com a Vida no Amor.
Vivemos na celebração pascal, renovada a cada ano, a cada semana, a cada dia, o dom da vida de Deus em Jesus, o Filho Eterno feito homem, para toda a humanidade: superação total e definitiva sobre da violência do mal e da morte.
A Semana Santa é a recordação anual da obra realizada por Jesus até a sua consumação. Obediente ao Amor do Pai e feito todo dom de Amor aos homens dos quais se fez irmão. E assim, na vida da carne humana plantou a graça que destroi todo o poder do mal e faz nascer nova vida no dom de si. É a vitória do amor doado até o fim que supera todo poder destruidor do pecado, do egoismo, e faz nascer uma nova força de vida na doação de si pelo bem do outro, de todos. Jesus vence a violência do mal com uma atitude sua própria de não violência. Não usa da violência contra os violentos, não paga o mal com o mal,  não resiste ao malvado. Não se coloca diante da violência de modo passivo e submisso. Enfrenta ao violência com uma atitude não-violenta de Amor, de Perdão, de Misericórdia, para despertar em todos, também no algoz violento a perplexidade diante do Amor incondicional. E assim em todos dá a força do Amor que supera a violência em sua raiz de indiferença e egoismo, de segueira e insensibilidade.
É o Mistério da Páscoa: passagem da escravidão para a liberdade, do fechamento para a abertura, do domínio para o serviço, do egoismo para a gratuidade do dom. E assim se revela Deus como Amor: dom gratuito de si para a comunhão de vida que se propõe universal – Bem Supremo que é bem para todos, que a ninguém exclue.  Esta é a transformação mais radical que se opera na humanidade. Da autosuficiência ao dom. Deus que se doa como Pai e se faz um com suas criaturas num movimento de comunhão que é plena de felicidade e vida. Deus Amor que ensina a amar verdadeiramente. “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos.” (Jo 15,13) Assim o próprio Deus se mostrou amigo dos homens. E lhes dá a Vida que é Eterna.
Na Semana chamada Santa, contemplamos os extremos do Amor de Deus, acompanhando Jesus que o expressa no sacrifício da vida, sacrifício da cruz, sacrifício do amor incondicional. E na Vida que dele brota, ressurreição! O Amor é mais forte que a morte, pois a vence definitivamente. E abre as portas desta Nova Vida no Amor a todas as pessoas humanas pela fé nele e comunhão com seu modo de ser.
A própria vivência cristã exprime o dom de Deus em ação. Ela é a força transformadora de toda a existência e que ultrapassa todos os limites do poder humano. Acolher o Dom de Deus é possível para a humanidade. É uma nova realidade criada por Deus no coração humano receptivo: “O seu divino poder nos presenteou com tudo o que contribui para a vida e para a piedade, mediante o conhecimento daquele que nos chamou por sua glória e força poderosa. Por elas foram-nos concedidos os bens prometidos, os maiores e mais valiosos, a fim de que vos tornásseis participantes da natureza divina, fugindo da corrupção que a concupiscência espalha no mundo.” (2Pe 1,3-4) 
A violência, fruto da concupiscência que há no mundo, é vencida pelo Amor que se faz dom e partilha, comunhão dos bens da vida, enriquecimento humano divino de todos. É a superação de toda luta pelo poder, pelo prazer, pelo possuir próprio, para dar lugar ao doar-se no poder servir, na alegria do fazer feliz, na solidariedade de ser tudo para todos, da inclusão no lugar da exclusão.
São vivas e fortes as palavras de Jesus que dão o significado de tudo o que viveu, sofreu e consumou: É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, e quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim”. (Jo, 11, 31-32) Jesus realiza o abraço universal e definitivo do Pai que reúne todos os seus filhos. “…pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. … e vós sois todos irmãos.” (cf. Mt 23, 8 e 9)
+ José Antonio Aparecido Tosi MarquesArcebispo Metropolitano de Fortaleza

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