segunda-feira, 1 de maio de 2017

CAARTA ABERTA DE DOM DIMAS LARA BARBOSA POR OCASIÃO DO DIA DO TRABALHADOR



Carta aberta de Dom Dimas Lara Barbosa por ocasião do Dia do Trabalhador
CARTA ABERTA AOS IRMÃOS E IRMÃS DA ARQUIDIOCESE DE CAMPO GRANDE POR OCASIÃO DO DIA DO TRABALHADOR
Com a graça de Deus, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) está reunida em sua 55a Assembleia Geral, na Casa da Mãe, Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Juntos, podemos pensar melhor o presente e o futuro da Igreja em nossa Pátria tão querida.
É nessa comunhão, à luz do Mistério da Páscoa do Senhor Jesus Cristo, com zelo pastoral e em solidariedade com o bom povo brasileiro, que me dirijo aos irmãos e irmãs de nossa querida Arquidiocese de Campo Grande, para manifestar minha apreensão com relação às reformas que estão em discussão e votação no Congresso Nacional, especialmente, o Projeto de Reforma da Previdência Social (PEC 287/2016), o Projeto de Reforma Trabalhista e a recentemente aprovada Lei da Terceirização, cuja constitucionalidade já é objeto de questionamento no Supremo Tribunal Federal.
Vivemos tempos difíceis em nosso País, onde a retração da atividade econômica tem significado o fechamento de empresas e a supressão de postos de trabalho, com um aumento vertiginoso das taxas de desemprego nos últimos meses, deixando milhões de famílias inseguras e desesperançadas. A crise econômica atinge a todos, porém deixa ainda mais vulneráveis trabalhadores e trabalhadoras que dependem de seus salários para viver e não participam dos mecanismos do mercado financeiro para se proteger. A chamada política de austeridade financeira ou de ajuste fiscal, incluindo a extinção ou redução de programas sociais e de transferência de renda, impõe um ônus difícil de ser suportado pelos segmentos mais pobres e vulneráveis da população, uma vez que são os mais dependentes dos serviços públicos e das políticas sociais.
A Previdência Social do Brasil representa uma conquista do povo brasileiro e um Direito Social, garantido pela Constituição Federal. O sistema previdenciário precisa ser melhor avaliado, inclusive no que diz respeito ao tão falado “rombo” no seu orçamento, que tem sido motivo de diferentes posições dos estudiosos do assunto. Aliás, é urgente que se realize uma ampla auditoria da dívida interna e externa do Brasil, dos Estados e Municípios. No entanto, parece-me que a maneira como o problema está sendo enfrentado é bastante falho. Um projeto desta envergadura deveria ser mais discutido com a sociedade. E existem pressupostos éticos que devem contrabalançar uma análise baseada só em números, para evitar que justamente os mais vulneráveis sejam prejudicados em seus direitos.
O mesmo se diga da Lei da Terceirização e do Projeto de Reforma Trabalhista. Certamente, é necessário modernizar as relações de trabalho e gerar empregos. O trabalho dignifica o ser humano e o faz partícipe da obra da criação. A pessoa humana é sempre um fim em si mesma e nunca um meio. Não pode, portanto, ser reduzida à condição de mercadoria, o que traria inevitavelmente mais insegurança e fragilidades, sobretudo aos que vivem de trabalhos menos valorizados do ponto de vista salarial. Assim, a prática da terceirização das atividades profissionais, sobretudo quando exercida de forma demasiadamente capilar, tem significado a precarização das condições de trabalho, a diminuição dos salários em relação aos empregados formais e a maior incidência de acidentes de trabalho.
Sendo assim, diante da gravidade do momento que estamos vivendo, exorto a todos os cristãos e pessoas de boa vontade a dedicarem especial atenção ao debate das propostas em tramitação no Congresso Nacional e que dizem respeito aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros, seja expressando seus pareceres diretamente aos nossos parlamentares, seja participando de todas as manifestações democráticas e pacíficas a seu alcance e que visem preservar direitos e garantias historicamente conquistados, evitando a exclusão social.
Que pela intercessão de São José Operário, o Senhor da Vida abençoe a todos os que, no mundo do trabalho, contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e solidária.
Dom Dimas Lara Barbosa
Arcebispo Metropolitano de Campo Grande – MS 01 de maio de 2017

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