sábado, 25 de fevereiro de 2017

PAPA SOBRE DIREITO À ÁGUA: CULTURA DO CUIDADO DO ENCONTRO PRA NÃO TERMINAR EM GUERRA



Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco participou na tarde desta sexta-feira (24), na Casina Pio IV, no Vaticano, do encontro sobre o direito à agua, promovido pela Pontifícia Academia das Ciências. Especialistas na área vieram do mundo inteiro para debater o tema inspirado, inclusive, em passagens da Encíclica Laudato si.

No seu discurso, o Papa Francisco começou saudando os participantes que se propuseram a enfrentar “a problemática do direito humano à água e a exigência de políticas públicas” no setor, para dar uma resposta à essa necessidade que vive o homem de hoje.
Em seguida, Francisco usou uma passagem do Livro do Gênesis para tratar a questão de maneira fundamental e urgente: “a água está no princípio de todas as coisas”, fonte de vida e de fecundidade.
“Fundamental porque onde tem água, tem vida, e assim a sociedade pode nascer e progredir. E é urgente porque a nossa casa comum tem necessidade de proteção e, também, que se compreenda que nem toda a água é vida: somente a água segura e de qualidade. Toda pessoa tem o direito ao acesso à água potável e segura; é um direito humano essencial e uma das questões cruciais no mundo atual. É triste ver quando, numa legislação de um país ou de um grupo de países, não se considera a água como um direito humano. É ainda mais triste quando se apaga aquilo que era escrito ali e se nega esse direito humano.”
O Papa Francisco novamente enfatizou que é um problema que diz respeito a todos nós, pois faz parte da nossa casa comum, aquela que “suporta tanta miséria e exige soluções efetivas, realmente capazes de superar os egoísmos que impedem a atuação desse direito vital para todos os seres humanos”. É necessário atribuir à água, acrescentou o Pontífice, “a centralidade que merece no âmbito das políticas públicas”.
“O nosso direito à água é também um dever com a água. Do direito que temos à ela vem a obrigação que é ligada à ela, e  não se pode separar. É imprescindível anunciar esse direito humano essencial e defendê-lo, como se está fazendo, mas também agir de maneira concreta, assegurando um empenho político e jurídico com a água. Nesse sentido, cada Estado é chamado a concretizar, também com instrumentos jurídicos, o que vem indicado nas resoluções aprovadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2010, sobre o direito humano à água potável e à higiene.”
O Papa continuou o seu discurso, sublinhando como “o direito à água é determinante para a sobrevivência das pessoas”, e como decide o futuro da humanidade. Por isso, continuou, é uma prioridade também “educar as próximas gerações sobre a gravidade dessa realidade”.
“A formação da consciência é uma tarefa difícil, requer convicção e dedicação. E eu me pergunto se, em meio a esta terceira guerra mundial em pedaços que estamos vivendo, não estamos caminhando em direção à grande guerra mundial pela água.”
Francisco citou dados “graves” das Nações Unidas que não podem nos deixar indiferentes e devem ser parados: “mil crianças morrem todos os dias por causa de doenças ligadas à água e milhões de pessoas consomem água contaminada”. “Ainda não é tarde”, disse o Papa, “mas é urgente estarmos cientes da necessidade da água e do seu valor essencial para o bem da humanidade”. O Pontífice também abordou o tema, do respeito à água, como “condição para o exercício dos outros direitos humanos”.
“Se respeitarmos esse direito como fundamental, estaremos colocando as bases para proteger os outros direitos. Mas se violarmos esse direito essencial, como poderemos vigiar os outros e lutar por eles! Nesse empenho de dar à água o lugar justo é necessária uma cultura do cuidado, parece uma coisa poética. A criação é uma poiesis, essa cultura do cuidado que é criativa. E também favorecer a cultura do encontro, em que se unem numa causa comum todas as forças necessárias de cientistas e empreendedores, governantes e políticos. Isso é poesia, como a criação. Precisamos unir todas as nossas vozes numa mesma causa. Não serão tantas vozes individuais e isoladas, mas o grito do irmão que protesta por nós, é o grito da terra que pede o respeito e o compartilhamento responsável de um bem, que é de todos. Nessa cultura do encontro, é imprescindível a ação de cada Estado para garantir o acesso universal à água segura e de qualidade.”
O Papa Francisco finalizou exortando o olhar de Deus Criador nesse trabalho, mas sublinhou que “o trabalho é nosso, a responsabilidade é nossa”. Uma ação prioritária para que “as pessoas possam viver”, um ideal pelo qual “vale a pena lutar e trabalhar. Com o nosso ‘pouco’”, disse Francisco, “contribuiremos para que a nossa casa comum seja mais habitável e mais solidária”. (AC)(from Vatican Radio

Fonte: Rádio Vaticano

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