No dia 1º de dezembro de 2016, encerra-se o ano do centenário do
martírio do bem-aventurado Charles de Foucauld, assassinado no Deserto
do Saara em 1º de dezembro de 1916. Aqui na Paróquia de Santo Afonso,
Fortaleza-Ceará, no Brasil, na França e no mundo inteiro, irmãos e irmãs
se alimentam da espiritualidade do referido irmão universal, pela vida
de oração e contemplação do absoluto de Deus, sem esquecer o seu
dadivoso coração, com heroicas e esplêndidas virtudes. Como é importante
ver a incredulidade, indiferença, egoísmo e descrença do irmão Charles
de Foucauld como algo consequente e providencial! Parece até que estava
previsto nos planos de Deus, porque, ao cair nas mãos de Deus e ser
seduzido por Jesus de Nazaré, encontra o único e maior tesouro de sua
vida. Associados aos passos de seu Mestre e Senhor, René Bazim,
paradoxalmente, asseverou a seu respeito: “Foi um monge sem mosteiro, um
mestre sem discípulos, um penitente que mantinha, na solidão, a espera
de um tempo que não devia ver”.
Como foi decisiva a data de 30 de outubro de 1886, quando se submeteu
à vontade de Deus! Quão abençoado e sagrado foi o encontro com o padre
Huvelin, vigário da Igreja de Santo Agostinho, que, numa conversa,
confidencia-lhe: “Padre, não tenho fé, peço-te que me instrua”. O padre
foi ríspido: “Te ajoelha e confesse teus pecados! Então, crerá!”.
Obediente, experimentou uma alegria inefável: a alegria do filho
pródigo.
Contamos, agradecidos, com o grande místico e patrimônio da vida
espiritual, Charles de Foucauld, convidando-nos, a partir da Oração do
Abandono, a buscar o Evangelho da Cruz, distanciando-nos dos primeiros
lugares, na força da eucaristia, chamados a viver nosso batismo, a, seu
exemplo, nunca perder de vista a conversão permanente.
Como foi tão bom Dom Helder Câmara, ao dizer no prefácio do livro de
René Voillaume, “Fermento na Massa”, edição brasileira comemorativa do
centenário de nascimento de Charles de Foucauld (1858-1958): “Aquilo que
ele começou, e jamais conseguiu realizar em vida através de seguidores,
é hoje realizado através dos irmãozinhos e das irmãzinhas que se
espalham pelo mundo inteiro, escolhendo de preferência os pontos da
terra onde residem criaturas em situação infra-humana ou em estado de
rejeição ou abandono”.
Nossa esperança é a de que o centenário do martírio do irmão Charles
de Foucauld, celebrado no mundo inteiro, continue a sensibilizar muitas
pessoas de boa vontade a falar bem alto e mesmo gritar o Evangelho com a
própria vida, no seu testemunho: “Tão logo que acreditei existir um
Deus, compreendi que só podia fazer uma única coisa: viver só para Ele”.
Pe. Geovane Saraiva
Pároco de Santo Afonso e vice-presidente da Previdência Sacerdotal, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – geovanesaraiva@gmail.com